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março 3, 2020
José Roberto Bassul na Referência, Brasília
Com curadoria de Marília Panitz, o fotógrafo apresenta duas séries multipremiadas no Brasil e no exterior em um abordagem crítica da arquitetura por meio de fragmentos de construções modernas e pós-modernas
No dia 7 de março, sábado, a partir das 17h, a Referência Galeria de Arte inaugura a mostra “Sobre quase nada”, do fotógrafo José Roberto Bassul. Com curadoria de Marília Panitz, a exposição apresenta 36 imagens de duas séries inéditas: “Poéticas mínimas” e “Quase nada”. Fragmentos de edificações modernas e pós-modernas destacam o inusitado no espaço comum e resultam em quase abstrações. Ao abordar a arquitetura de forma crítica e reflexiva, o artista procura "desenhar pensamentos, projetar desejos, construir espaços para a imaginação. A mostra fica em cartaz até o dia 11 de abril, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, 10h às 15h. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11 – Subsolo, Asa Norte, Brasília – DF. Telefone (61) 3963-3501.
Bassul afirma que fotografa a arquitetura na tentativa de desenhar pensamentos, de projetar desejos, de construir espaços para a imaginação. “Poéticas mínimas” apresenta um recorte operado pelo artista quando olha a arquitetura modernista que define a cidade onde vive. Já “Quase nada” traz um mergulho (para o alto) na arquitetura pós-moderna das grandes superfícies espelhadas, que apreende com seu olhar de viajante. “No espaço expositivo, as obras parecem criar duas possibilidades aparentemente opostas de abordagem: uma que pressupõe deixar-se penetrar pela quase invisibilidade de cada imagem, absorvidos que somos por sua discreta veemência; e outra, oferecida pela visão do conjunto, forma incidentalmente uma espécie de escrita pictográfica, que transforma a (quase) abstração da imagem em um (quase) tratado sobre o exercício de (re)ver a mesma paisagem urbana como descrição inusitada daquilo que, de tão visto, torna-se invisível aos nossos olhos”, afirma a curadora Marília Panitz.
Sobre “Poéticas Mínimas”
As fotografias desta série são singelas. Contrastam com o mundo em que vivemos, saturado por imagens de cores vibrantes, apelos consumistas e signos hedonistas de realização pessoal. Buscam refúgios visuais na paisagem urbana, também poluída por excessos. Não por acaso, concentram-se em edifícios de linguagem modernista. De sentido estético e ético, o modernismo pautava-se pela economia de formas e de meios. Guiava-se por uma utopia político-social de caráter coletivo e universalista. Na pós-modernidade, ao avesso, convivemos com a ressurgência dos nacionalismos xenófobos, com a exacerbação do consumo predatório e com a disseminação do individualismo e da ostentação.
Minimalista, com poucos elementos geométricos expressos em cores esmaecidas, "Poéticas Mínimas" toma a arquitetura como objeto fotográfico para evocar a necessidade de pausas e silêncios. Para valorizar o vazio como instância de reflexão, como espaço de conscientização crítica no contrafluxo das torrentes imagéticas. Na síntese de David Le Breton, “ficar em silêncio e o caminhar são hoje em dia duas formas de resistência política”.
Sobre “Quase Nada”
Na era do consumo e do individualismo, a arquitetura tem sido concebida pelas corporações como espetáculo, como imagem que afirma poder e determina relações sociais. A série "Quase Nada" consiste em representações abstratas dessa arquitetura contemporânea. Frações quase irreconhecíveis de edifícios notáveis articulam singelas composições geométricas. Tomadas em diferentes cidades, cada fotografia é o resultado de apenas um frame, sem nenhum acréscimo ou justaposição em processos de pós-produção. Os efeitos visuais são obtidos tão-somente pela busca de ângulos incomuns, com o propósito de reduzir ao mínimo os elementos expressivos das edificações.
As imagens resultantes aludem ao minimalismo tanto como linguagem visual quanto como atitude crítica em relação à “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) em que vivemos. Em resumo, ao despir edifícios pretensiosos de sua representação simbólica, “Quase Nada” pretende contrapor-se à arquitetura como signo de poder.
Séries premiadas
Apresentadas em premiações internacionais, as duas séries receberam reconhecimento de críticos e curadores. “Quase nada” foi premida no Int'l Photography Awards - IPA 2019, ficando em segundo lugar, no Moscow Int'l Foto Awards 2019 ganhou a medalha de prata e recebeu menção honrosa no ND Awards 2019 e no Budapest Int'l Foto Awards 2019. “Poéticas mínimas” venceu a medalha de ouro do Moscow Int'l Foto Awards 2019, ganhou o prêmio de melhor portfólio no FotoRio 2018 e medalha de bronze no Prix de la Photographie Paris 2019 e no Tokyo Int'l Foto Awards 2018.
Sobre José Roberto Bassul
Arquiteto e fotógrafo, José Roberto Bassul nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília. Sua fotografia volta-se para a arquitetura, a paisagem urbana e para aspectos contemporâneos da vida nas cidades. Periodicamente ministra cursos e oficinas sobre “fotografia autoral de arquitetura”. Recebeu diversos prêmios, entre os quais o 1° lugar no International Photography Awards – IPA 2018, além de gold awards no Prix de la Photographie Paris – PX3 2016 e 2017 (architecture e fineart) e no Moscow International Foto Awards – MIFA 2019. Publicado em revistas especializadas no Brasil, França, EUA, Inglaterra, México e Argentina, seu trabalho tem sido frequentemente exposto em festivais, galerias e museus, em mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Em 2018 publicou o fotolivro Paisagem Concretista, já esgotado. Tem obras nas Coleções Joaquim Paiva e Sérgio Carvalho e outras importantes coleções privadas, e nos acervos do Museu Nacional da República, em Brasília, e do MAR – Museu de Arte do Rio.