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fevereiro 17, 2020
Kilian Glasner na Lume, São Paulo
Encontros Austrais reúne trabalhos que nasceram após uma expedição solitária, na qual o artista desbravou cinco países sul-americanos
O desejo de desbravar o continente sul-americano, de conhecer as Constelações Austrais, de se aventurar em uma viagem sozinho e de viver uma experiência de autoconhecimento levou o artista pernambucano Kilian Glasner a percorrer uma jornada de 20.000 km de carro, atravessando cinco países da América do Sul. Desta experiência, nasceram obras inéditas, exibidas a partir de 18 de fevereiro na exposição Encontros Austrais, na Galeria Lume.
O título da mostra alude aos encontros que Glasner teve no decorrer da aventura. Mesmo na condição de viajante solitário, ele se deparou com nativos, andarilhos, pessoas que lhe trouxeram inspiração, que apresentaram novas paisagens e modos de vida.
Com um diário de viagem e câmeras fotográficas, o artista passou 100 dias em expedição percorrendo Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Bolívia. “A ideia não era só fotografar, mas viver a experiência. Quando você passa um tempo sozinho, sem falar com ninguém, vê um mundo diferente, é um mergulho no autoconhecimento”, ele explica.
Glasner eternizou as paisagens por quais passou em mais de três mil fotografias. São registros de lugares diversos do continente, do Deserto do Atacama até Mato Grosso do Sul, transformados agora nos 20 desenhos e pinturas que compõem a mostra. Em alguns trabalhos, o artista traz elementos do hiper-realismo, enquanto em outros faz valer técnicas de pinturas mais soltas.
Já no fim da expedição, em Bonito, no Mato Grosso do Sul, Kilian conheceu o Buraco das Araras, uma enorme cratera em arenito, com cerca de 500 metros de circunferência e 100 metros de profundidade, que abriga uma população de mais de 200 araras. A intensa coloração dessas aves, que recebe luz direta do sol em contraponto ao obscurantismo da formação rochosa, trouxe ao artista uma conexão com as características de sua obra e, também, a sensação de liberdade e um desejo de contemplação. E é o que ele propõe aos visitantes com a instalação Voo (2020).
Kilian convida o público a adentrar uma espécie de câmara escura, um ambiente de contemplação, com trilha sonora produzida em parceria com músico e produtor musical Homero Basílio. Lá, estão as araras eternizadas em suas pinturas. “É um espaço que proporciona uma vivência de um ambiente fantástico, como se o visitante estivesse em uma história, um universo onírico”, conclui Glasner.
Sobre o artista
Kilian Glasner é natural de Recife, Pernambuco. Foi premiado no 39º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, em 1999. Tem graduação e mestrado na École Nationale Superieure des Beaux-Arts, em Paris, onde residiu de 2000 a 2007. Do período em que viveu na Europa destacam-se a residência artística na Academia Francesa de Artes em Roma, a Villa Médici, e mostras coletivas na França, Holanda e Itália.
Regressou à Recife em 2007 e, no ano seguinte, apresentou uma mostra individual na Galeria Mariana Moura. Em 2009 foi contemplado pelo edital Rumos Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural e participou de exposições em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Branco e Brasília. No ano seguinte foi convidado pelo curador Antonio Pinto Ribeiro a apresentar a exposição O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Atualmente, Kilian Glasner é representado pela Galeria Lume.