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fevereiro 12, 2020
Caroline Valansi no Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
A artista mostra trabalhos de sua pesquisa sobre a iconografia da indústria do cinema pornô, com intervenções em cartazes históricos, cartografias, fotogramas, letreiros, LEDs e serigrafias
O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica inaugura no próximo dia 15 de fevereiro de 2020, às 12h, a exposição “Cine Desejo”, com obras da artista Caroline Valansi (1979, Rio de Janeiro) que investigam o universo iconográfico da indústria do cinema pornô e a relação do corpo feminino com o sexo. Com curadoria de Pollyana Quintella, a mostra ocupará todo o andar térreo da instituição localizada no Centro do Rio. Dentre as obras inéditas, estão algumas sendo criadas pela artista especialmente para a exposição. Alguns trabalhos emblemáticos desta pesquisa iniciada em 2015 também serão mostrados.
“Cine Desejo” é uma antologia do interesse de Caroline Valansi sobre os cinemas de rua que passaram a exibir filmes pornôs. A subjetividade construída pelas imagens do cinema, que moldaram a imaginação sexual de várias gerações, e ainda o desdobramento desse universo do ponto de vista feminino, integram também sua investigação. As obras reunidas são intervenções da artista em cartazes históricos, cartografias, fotografias, letreiros, LEDs, colagens e serigrafias.
“Cine Desejo” também discute o cinema como espaço de subversão, onde o “escurinho” é situação propícia para “namoricos e intimidades não autorizadas”. Com humor e ironia, a artista constrói espécies de contraimagens para o olhar masculino, também buscando “desierarquizar” o desejo a partir de uma perspectiva feminina e pós-pornô, onde as fronteiras estão esgarçadas.
Caroline Valansi tem obras em importantes coleções públicas e privadas, como a Biblioteca do Instituto Moreira Salles, em São Paulo; Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, Museu de Arte do Rio (MAR), Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; Museu Nacional de Brasília; Bienal de La Havana; Hillel Brasil, no Rio de Janeiro; Mr. and Mrs. Richard Sandor, Chicago, EUA; e Mr. and. Mrs. Simon Biddle, Londres.
OBRAS/PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
“Território VII – Mar-Atona/ Mar no Corpo”, da série “Territórios escondidos” (2020)
Objeto escultórico especialmente criado para a exposição, com dimensões e materiais variados, como lycra, espuma e linha, a partir da pergunta “o que é o desejo?”, que a artista fez a várias pessoas. Assim, ela elabora percursos “do/com/para o outro, buscando traçar caminhos de sua singularidade de maneira diagramática, com formas próximas à de uma visualidade infantil”. “Com as cartografias, percebemos que o corpo produz seu próprio léxico e repertório, ora compartilhado, ora particular. Somos obras de nós mesmos, exercitando alguma escrita de si”, explica Pollyana Quintella.
“Cinema Também é Templo” (2016-2020)
Nesta instalação com dimensões variadas, em LED, alumínio e madeira, a artista recria um letreiro de cinema, usando pela primeira vez a frase que dá nome à série, em referência a intervenções que fez em letreiros de cinema desativados no Rio de Janeiro – no Cinema Orly (Cinelândia), e no Cinema Tijuca Palace (Tijuca) – “chamando a atenção para o abandono desses espaços”. Dessa forma, ela “reforça o movimento de resistência, que deseja a reapropriação dos espaços públicos para convivência e encontros”.
“Ruínas”(2015-2020)
São dispostos sobre um tablado de madeira de 2 m x 3 m mais de 50 peças/objetos achados em cinemas fechados, como cartazes e filmes antigos, placas de sinalização e peças de projetor 35 mm.
“Sacanas” (2019)
Como um aviso luminoso de cinema, esta obra de 45 x 60 cm é composta por cartazes antigos, celofane, acetato holográfico, LED e madeira.
Carne Viva (2019)
Conjunto com nove imagens com impressão em papel fotográfico, de 70 x 50 cm cada, este trabalho é fruto de uma residência da artista no Taller Experimental de Grabado, em Havana,em 2019. A partir de uma colagem com papeis coloridos, que depois é digitalizada e recebe intervenções no computador, a imagem final traz palavras escritas sobre formas abstratas de forte contraste, que vão aos poucos revelando partes internas de um corpo.
Corpo Cinético (2018)
A série apresenta 11 colagens com 23,5 x 32,5 cm (cada)que aborda “a energia dos corpos em movimento”. “A imagem do corpo como massa com os cortes contínuos imprimindo velocidade. A força das intervenções que impulsionam a sensação de seqüência em movimento, o disforme, a não-imagem, cinema do olhar. O espectador dita o tempo, a forma final e o que se deseja deles”.
Tratado (2019)
Com 70 x 50 cm, este relevo seco em papel Canson 300g, com LED, a obra alerta: “A sexualidade deve ser tratada com atenção em tempos de grande estresse social”. “Sob muitos esgotamentos, nossos corpos têm respondido com teimosia ao endurecimento do presente. Teimosos são os corpos que não aguentam mais e continuam pra lá e pra cá, incessantes”.
Pornografia Política (2015)
Neste que é um de seus mais emblemáticos trabalhos, série composta por nove serigrafias, com 70 x 50 cm cada, a artista trabalha a partir de cartazes de filmes pornôs feitos a mão, na década de 1980, fazendo alusões à cena política brasileira. A realidade é tratada com humor, e “carrega a vontade de resistir, se despir, mudar uma ordem encravada, e naturalizada, dentro do espírito brasileiro”. “O trabalho quer quebrar a cultura da passividade do ‘sempre foi assim’, estimulando um posicionamento mais ativo, um gesto diferente em nossas próprias ações, que promovam mudanças reais em nossas posições cotidianas. A passividade e a atividade são vistas como jogos de forças que podem a todo momento mudar de lugar”, explica.
Sempre um Bom Filme (2015)
Originalmente uma publicação, esta é a primeira vez que são exibidas as 12 fotografias, de 42 x 60 cm cada, que compõem esta série, feitas a partir de um inventário de fotos de um velho projetor 35 milímetros e alguns dos fotogramas pornográficos que estiveram dentro dele. As fotos mostram mulheres tendo orgasmos, e são acompanhadas por legendas com os nomes técnicos das peças do projetor. Quanto mais se avança no percurso das fotografias, mais as descrições técnicas são misturadas às imagens eróticas, e as peças de metal são derretidas em corpos orgânicos e sensuais.
SOBRE A ARTISTA
Caroline Valansi (1979, Rio de Janeiro) é artista visual, professora e também trabalha com saúde mental na Casa Jangada (@casajangada). Graduada em Cinema na Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Artes e Filosofia pela PUC-Rio. Completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Ateliê da Imagem.
Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas em seu forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Caroline utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas da internet e suas próprias fotografias e desenhos e, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea.
Entre suas exposições individuais se destacam: “Corpo Cinético” (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019), “Carne Viva” ( Espaço Subsolo, Campinas, SP 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil, Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina.Tem duas publicações lançadas: Sempre um bom Filme e o álbum de figurinhas Boa Para ambos de 2015. Organizou os eventos {|}XANADONA{|} (2016, A Galeria Gentil Carioca) e Feminismo e Feijoada (2015, CAPACETE). Faz parte da Cooperativa de Mulheres Artistas (@cooperativademulheresartistas) e participou do coletivo OPAVIVARÁ! de 2007 a 2014. www.carolinevalansi.com.br