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fevereiro 12, 2020
Ana Paula Oliveira no MAM, Rio de Janeiro
Ana Paula Oliveira, que pela primeira vez expõe no Rio, apresenta dois trabalhos inéditos criados especialmente para ocupar o Salão Monumental do MAM
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro abrirá, no próximo dia 15 de fevereiro de 2020, sábado, das 15h às 19h, a exposição “Poça/Possa”, de Ana Paula Oliveira, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Pensada especialmente para ocupar o Salão Monumental do museu, a individual exibirá dois trabalhos inéditos da mineira radicada em São Paulo, que pela primeira vez tem sua obra exposta no Rio.
Ao longo de pouco mais de duas décadas, a artista vem construindo uma produção interessada em discutir questões caras ao pensamento escultórico. Peso, estrutura, equilíbrio, massa, a relação com o espaço e com a arquitetura, além da presença física do espectador, são alguns dos princípios que norteiam o uso de materiais tão comuns quanto inusitados. Graxa, mármore, dormentes, pedras, vidro, chumbo, sacos plásticos, peixes, casulos e borboletas, placas de ferro, borracha e sabão compõem o repertório visual de Ana Paula.
“É a ação da artista que faz com que matérias tão díspares, que parecem não combinar, passem a conviver, mesmo que de maneira forçada, criando uma relação que oscila entre instabilidade e efemeridade”, comenta Fernanda Lopes, curadora assistente do MAM Rio.
No Salão Monumental, com quase oito metros de pé-direito, Ana Paula propõe o improvável: direcionar o olhar do espectador para o sentido contrário. A intervenção que dá nome à exposição se espalha pelo chão do museu, tomando posse do espaço e condicionando a movimentação por ele. Poça/Possa se estrutura a partir de quase 40 dormentes de madeira, desses usados como estacas improvisadas que escoram construções condenadas, prestes a ruir. Apoiados nas paredes e no chão, pressionam placas de vidro (de dois metros de comprimento), umas contra as outras, formando grandes poças de graxa. Materiais e ferramentas como borracha, sargentos, cunhas, argila e cabos de aço oferecem sustentação ao vidro diante da pressão de duas toneladas de material viscoso.
“Meu trabalho discute, entre outros aspectos, a relação com o espaço. Pensar uma intervenção para um local onde a arquitetura é tão presente, como no MAM Rio, foi um desafio em dobro. Projetei a obra para ocupar o chão, o que é surpreendente quando se tem escala monumental. Quero questionar o que nos sustenta, no tempo e no espaço. A possibilidade de criar leveza ou densidade, de explorar o cheio e o vazio são disparadores não excludentes que sempre me provocaram”, afirma Ana Paula que, com frequência, desenvolve sua linguagem a partir de referências cinematográficas.
O segundo trabalho, a escultura Subserviência, que completa a mostra, parte de um desenho de observação em nanquim de uma das palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Feito em escala natural, com 20 metros de extensão (o tamanho original da palmeira retratada), está fixado ao longo de um dos painéis expositivos, estruturado como um pergaminho.
A posição do desenho, exposto na horizontal, nos faz pensar em uma árvore tombada — o que não corresponde à realidade que pauta um desenho de observação: a palmeira se encontra verticalmente imponente no Jardim Botânico. Ainda pensando na lógica de documentação, causa estranhamento que o desenho revele apenas o que cabe no painel. O que sobra se desdobra para o espaço, quase como uma nova escultura de papel, escondendo o restante da imagem.
“Tanto o desenho quanto a instalação revelam uma ressonância específica com o espaço do museu. Se os arquitetos modernos tinham como um de seus princípios o uso de materiais simples em seu estado bruto, a intervenção proposta pela artista para esta grande caixa de concreto, vidro e aço, projetada por Affonso Reidy, também é motivada pelo interesse na matéria crua, que não ‘finge’ ser aquilo que não é. Dessa maneira, o trabalho de Ana Paula Oliveira parece ecoar no edifício do MAM Rio. E vice-versa”, observa Fernando Cocchiarale, curador do museu carioca.
Ao apresentar ao público um projeto desenvolvido especialmente para o museu, o MAM Rio reforça e renova sua vocação histórica, como uma das instituições culturais mais atuantes no Brasil, interessada no estímulo, mapeamento e difusão da arte brasileira contemporânea.