|
fevereiro 10, 2020
Coletiva Omissíssimo na Cavalo, Rio de Janeiro
No próximo dia 13 de fevereiro a galeria Cavalo tem o prazer de apresentar a coletiva ‘omissíssimo’, com os artistas Alan Sierra, Kamilla Langeland, Maria Antelman, Sjur Eide Aas e Tatiana Grinberg. A exposição reúne um conjunto de obras, em sua maior parte inéditas no Brasil, que se relacionam com enigmas, mitos e mistérios. Os trabalhos expostos utilizam-se de jogos de espelho, corpos híbridos, fendas, objetos flutuantes, luas, esferas translúcidas, amuletos e elementos naturais, construindo uma atmosfera sobrenatural.
Maior palíndromo da língua portuguesa, omissíssimo é um superlativo para o sujeito que omite, oculta, deixa de se manifestar. Uma palavra acidentalmente simétrica, pouco alterada de sua origem em latim e com sonoridade semelhante aos encantamentos de contos de fada (um feitiço de desaparecimento, provavelmente). O conceito de ocultação do sujeito é essencial em uma das obras centrais da exposição. Em Cortes, da artista carioca Tatiana Grinberg, orifícios atravessam uma chapa de aço que se estilhaça no piso da galeria. A forma das perfurações indicam serem causadas por extremidades de um corpo humano que não mais habita o objeto. Os fragmentos que pousam no chão atravessam a arquitetura do espaço assim com a chapa foi atravessada. Os objetos refletem o piso, paredes, os visitantes e outras obras.
Os vídeos soturnos de Maria Antelman, artista nascida em Atenas e residente em Nova Iorque, apontam para a ancestralidade dos mitos reimaginando-os em contextos contemporâneos. Com o título foneticamente simétrico, I/Eye (2018) é um vídeo de poucos frames. Uma cena onde dois olhos sempre abertos se encostam de forma anatomicamente impossível, exibida em modo cíclico. A artista condensa em um só signo a história de Narciso mas remete também à nossa atual cultura de constante autovigilância. Em sua vídeo instalação Sentimental Conversations, a artista exibe um diálogo intergeracional entre os bustos de sua mãe e seu filho com lábios e olhos respectivamente substituindo os mamilos.
Alan Sierra, jovem artista mexicano, apresenta uma série de desenhos com estética surrealista e traços precisos. Sua produção costuma ser influenciada por sonhos e exploram as possibilidades alegóricas em situações ordinárias. Unhas cortadas podem virar satélites, conchas abertas se tornam olhos falantes. São cômicos exercícios de representação do corpo e de objetos mundanos. Trabalhando também com a forma simbólica no cotidiano, os artistas noruegueses Kamilla Langeland e Sjur Eide Aas se apropriam de materiais achados em suas andanças em suas produções próprias e trabalhos em dupla. São instalações delicadas usando flores, plantas, utensílios de cozinha e insetos encontrados e modificados. Esferas em resina que se assemelham a bolas de cristais, e pinturas expandidas fazem parte das obras desses artistas.
Em tempos onde ideias obscurantistas assombram o campo sociopolítico, parece contraditório falar na importância da preservação do mistério. Mas uma ideia fundamental para as artes é de que nem tudo deve ser examinado à luz da ciência, e que há diferença entre conhecimento e informação. Um pensamento milenar que convida a um mergulho em superfícies auto reflexivas. Assim como um dos mais conhecidos aforismas de Delfos ‘Conheça a si mesmo’ pode, e deve segundo Sócrates, ser interpretado como ‘Olhe para si mesmo’.