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janeiro 22, 2020
Regina Silveira inaugura novo Paço das Artes, São Paulo
Paço das Artes comemora 50 anos inaugurando sede nova em antigo casarão paulistano com exposição de Regina Silveira e programação totalmente gratuita
Na exposição de inauguração, o Paço das Artes apresenta Limiares, mostra inédita da multifacetada artista Regina Silveira, uma das criadoras com maior presença na arte contemporânea brasileira. A exposição, com curadoria de Priscila Arantes, diretora da instituição, fica em cartaz de 25 de janeiro até 10 de maio com entrada gratuita.
O título “Limiares” foi escolhido por Priscila Arantes não somente por conta da obra “Limiar”, presente na exposição, mas também pela simbologia do significado da palavra, que remete a idéias de começo, de estágios iniciais, como a ocasião especial de inauguração da nova e definitiva sede da instituição. Além disso, o processo de Regina Silveira, muitas vezes, apresenta características pensadas para o espaço onde as obras são alocadas, como no caso de “Dobra” e “Cascata”, trabalhos inéditos criados para o Paço das Artes. Ambas as obras se relacionam com a arquitetura do ambiente onde serão instaladas e problematizam as questões da perspectiva, dialogando diretamente com o novo espaço onde o Paço das Artes estará funcionando, explorando a potência deste local e todo o seu contexto territorial.
A escolha – também simbólica – por uma artista do sexo feminino faz parte de uma visão e estratégia curatorial que sempre considerou e contemplou a representatividade das mulheres no campo das artes. Desta forma, a opção pelo trabalho de Regina Silveira nesta ocasião se dá naturalmente em função do histórico de seus projetos realizados na instituição, especialmente durante o longo período (de mais de duas décadas) em que o Paço das Artes esteve na USP.
Na obra “Dobra” a artista faz um resgate dos trabalhos que subvertem o sistema de perspectiva que realiza desde os anos 1980, quando, algumas vezes, utilizava imagens originadas a partir de fotografias como na série “Anamorfas” em que objetos cotidianos tomavam, se observados de certa altura ou determinados ângulos, novas formas ou redesenhavam suas imagens rompendo com a ideia de perspectiva linear renascentista. Em “Dobra”, por exemplo, é possível visualizar um banco de jardim na área externa do Paço, a partir de um certo ponto de observação.
O trabalho “Cascata” é uma versão criada para o Paço das Artes, utilizando métodos já apresentados pela artista em outras obras como em “Lumem” no Palácio de Cristal, organizado pelo Museu Reina Sofia em Madri. Ali, explorava-se o universo das luzes e das sombras em diálogo com a luz natural e a transparência do palácio partindo das formas arquitetônicas reais e expondo seu conceito de distorção, assim como em “Clara Luz”, exibida no CCBB de São Paulo, onde ela abordou a questão da desconstrução, do real e do virtual. “Cascatas” apresentará a reprodução múltipla das janelas originais do prédio do novo imóvel onde o Paço das Artes está abrigado.
As videoinstalações “Limiar” e “Lunar”, além de integrarem a exposição, serão doadas ao Paço das Artes para inaugurar seu acervo, como mencionado anteriormente, o primeiro de arte contemporânea de São Paulo exclusivamente digital e de obras reprodutíveis. Assim, o Paço das Artes avança em sua missão de promover o diálogo entre o público e a arte contemporânea com o lançamento de seu acervo, integrando-o ao projeto MaPA, plataforma digital de arte contemporânea, que reúne todos os artistas, críticos, curadores e membros do júri que passaram pela Temporada de Projetos.
Em “Limiar” a artista trabalha a questão plástica da luz, fascínio de vários artistas e bastante presente em seus projetos. Nela, a palavra “luz” é exibida em 76 idiomas, dilatando-se e virando luz, dando a ideia de pausa, de respiração, da vida que pulsa, do começo. E que, na visão da curadoria, faz alusão à nova vida do Paço das Artes naquele espaço. Já “Lunar” é uma espécie de balé de duas esferas, numa coreografia com luz e sobra, inserida num espaço básico e que brinca com as noções de percepção e perspectiva do observador.
Além de “Limiar” e “Lunar”, os visitantes poderão conferir, na exposição, as outras obras em vídeo doadas por Regina Silveira. São elas: “Campo” (1977), “A arte de desenhar” (1980) e “Morfa” (1981).
Regina Scalzilli Silveira (Porto Alegre, 1939) é artista multimídia, gravadora, pintora, professora. Concluiu, em 1959, bacharelado em pintura no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IA/UFGRS), onde estudou com Aldo Locatelli (1915-1962) e Ado Malagoli (1906-1994), entre outros. No início da década de 1960, teve aulas de pintura com Iberê Camargo (1914-1994), e de gravura com Francisco Stockinger (1919-2009) e Marcelo Grassmann (1925-2013), no Ateliê Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Como bolsista do Instituto de Cultura Hispânica, em 1967, estudou na Faculdade de Filosofia e Letras de Madri. Em 1969, foi convidada a ministrar cursos na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Porto Rico. Voltou para o Brasil em 1973, e coordenou até 1985 o setor de gravura da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Em 1974, passou a lecionar na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Na mesma instituição, defendeu dissertação de mestrado em 1980 e, em 1984, obteve o título de doutora. De 1991 a 1994, permaneceu em Nova York, com bolsas de estudo concedidas pela John Simon Guggnheim Foundation (1991), pela Pollock-Krasner Foundation (1993) e pela Fullbright Foundation (1994). Em 1995, recebeu bolsa de artista residente da Civitella Ranieri Foundation. Recebeu, em 2000, o Prêmio Cultural Sergio Motta.
Priscila Arantes (São Paulo, 1966) é curadora e diretora artística do Paço das Artes desde 2007. É pós-doutora pela Pennsylvania State University (EUA) e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. É pesquisadora, crítica de arte, professora e vice-coordenadora do curso Arte: História, Crítica e Curadoria da PUC-SP. Em 2007 foi finalista do 48º Prêmio Jabuti pela publicação Arte@Mídia: perspectivas da estética digital (Editora Senac/Fapesp). É autora de Reescrituras da arte contemporânea: história, arquivo e mídia (Editora Sulina, 2015), Arte: história, crítica e curadoria (org. Educ) entre outros. Entre suas curadorias, destacam-se ISSOÉOSSODISSO (Lenora de Barros - Paço das Artes, 2016), Migrações (Marcelo Brodsky – Paço das Artes, 2016) e O ciclo da intensidade (Charly Nijensohn – Paço das Artes, 2017).