|
dezembro 12, 2019
Iran do Espírito Santo no Oi Futuro, Rio de Janeiro
O Centro Cultural Oi Futuro inaugura Reflexivos, a primeira exposição individual em um espaço institucional no Rio de Janeiro do paulista Iran do Espírito Santo, no dia 14 de dezembro de 2019, sábado, às 15h.
Com curadoria de Alberto Saraiva e Flavia Corpas, a mostra é um recorte do últimos 20 anos da produção do artista. Além de desenhos inéditos, datados de 2019, há uma pintura site specific, feita sobre a parede de 69 metros quadrados, que dialoga com a arquitetura da sala.
Iran do Espírito Santo é conhecido por esculturas de itens do cotidiano, abstraídos em formas geométricas simplificadas. Seus objetos sóbrios revisam princípios de ortodoxos do minimalismo. O artista cria um jogo sutil entre percepção e realidade, forma idealizada e objetos e materiais cotidianos.
Reflexivos tem abrangência de temas, de ideias e dos materiais preferenciais do Iran: esculturas sempre sólidas de pequenos formatos, em pedra, cristal e aço inoxidável, a representação pelo uso de material e a reinterpretação com alteração do material, mas ainda como extrações do real.
Para o curador Alberto Saraiva, “Iran ultrapassa o limite dos objetos cotidianos recriando sua carnalidade, cuja aparência revela antes a matéria que a forma, para se consolidar como uma tipologia nova de ser e de estar”.
Na primeira sala, está a obra mais antiga da mostra, Castiçal e vela [1998], como peça única, em aço inoxidável, a qual Iran avalia como uma “quebra de ilusão”: o castiçal contamina a vela. E mais, Buraco da fechadura, escultura de parede, em aço inoxidável polido, de 1999, impenetrável, mas que incorpora a cena da galeria; Tigela [2015], de cristal sem concavidade; Lâmpada vermelha [2009], de cristal transparente, colocada perpendicular à parede; Caixa de fósforos [2018] em aço inoxidável, em dimensões reais, a representação é de uma caixa entreaberta – a escultura é executada em um bloco único de aço, sem partes ; Porca e rosca [2016], de 70 cm de altura, são duas partes roscáveis apresentadas como peça única em aço inoxidável; Cúpula negra [2015], em granito preto polido, que o torna reflexivo, representado na forma e nas medidas uma cúpula de relógio.
Ainda neste primeiro espaço, colocados lado a lado sobre uma prateleira, estão catorze Globos [2011|2012] de mármore branco, sólidos, esculpidos a partir da coleção que o artista tem há anos e que evidencia a passagem do tempo pelo estilo.
Na segunda galeria, reina sobre a parede a pintura que ocupa de ponta a ponta os 19 x 3,60 m, com 56 tons de cinza, resultantes da mistura de preto e branco, combinando rígida matemática e empiricismo. A gradação das linhas verticais é suave porém nítida, como registro de cada tom, visível ao visitante. Elas partem do claro para o escuro, reproduzindo o que seria a sombra das três colunas da arquitetura da sala.
Iran começou o desafio com três tons, em um trabalho no Museu de Arte Moderna de San Francisco em 1997, onde pintou 110 m2 de parede com retângulos perfeitos, em um padrão de tijolos, em alusão à fachada do prédio. Dez anos depois, na Bienal de Veneza de 2007, chegou a pouco mais de 30 tons em um desenho sem referência à uma parede. A possibilidade de nuances é infinita, teoricamente. Na prática, pode não ser viável.
Na terceira galeria, estão os desenhos inéditos, de 2019, e o Espelho dobrado [2011], peça de chão e parede, feito de vidro espelhado, totalmente reflexivo, que incorpora o ambiente.
Os desenhos inéditos verticais, de 152 x 104 cm, são elipses feitas uma a uma, formando volumes cilíndricos descorporificados. São volumes que estão na base da corporificação dos objetos, o que há de mais próximo de uma representação mental.
O artista comenta que “um dos aspectos do meu trabalho é o que lida com a luz, o reflexo, com a participação do espectador: ele se vê no trabalho e faz o processo mental da reflexão.”
“O título Reflexivos busca abordar a ambiguidade que tal palavra pode encontrar na obra de Iran: uma dimensão de espelhamento – facultada pelos materiais usados, e que apontaria para o que é igual a si mesmo, mas que, paradoxalmente, ao colocar o espectador na cena, já o desloca – que é atravessada por uma outra, a da reflexão – que para se dar precisa operar a partir de uma abertura à diferença, posta em curso pela opção de trabalhar com as formas de objetos ordinários, escolha que os retira de seus contextos habituais, dando-lhes novos e diferentes lugares. Nesta tensão, promovida por espelhos que não refletem mais o mesmo, já vemos localizadas, justamente, as problemáticas correlatas da representação e da relação entre sujeito e objeto nas artes visuais”, avalia Flavia Corpas, psicanalista e curadora independente de artes visuais. Professora do curso Arte e Psicanálise no MAM SP.
No térreo, o público será recebido pelo vídeo da instalação Playground, que Iran apresentou em Manhattan, na face leste do Central Park, por cinco meses, entre 2013 e 2014. Este trabalho foi comissionado por Nicholas Baume, curador do Public Art Fund da cidade de Nova York. É um cubo de cimento de quatro metros de lado, com alguns segmentos ausentes nas quinas da peça. O que parece argamassa, unindo os blocos, é, sim, um desenho perfeito sobre as placas de concreto, imitando esses elementos.
Reflexivos, em cartaz até 1 de março de 2020, vem acompanhada de um catálogo-livro que fará parte da coleção Arte e Tecnologia do Oi Futuro, a ser lançado no decorrer da mostra.
Iran do Espírito Santo nasceu em Mococa (SP) em 1963. Vive e trabalha na capital paulista. Entre suas exposições individuais em museus fora do Brasil, destacam-se Playground, Public Art Fund, Nova York (EUA, 2013); IMMA, Dublin (Irlanda, 2006); MAXXI, Roma (Itália, 2006); Museo de Arte Carrillo Gil, Cidade do México (México, 2004). Ele participou da Bienal do Mercosul (2009 e 2005), Bienal de São Paulo (2008 e 1987), Bienal de Veneza (2007 e 1999), Bienal de Montreal (2007) e Bienal de Istambul (2000). Iran integra o elenco da Fortes D’Aloia&Gabriel e da Carpintaria no Brasil, da Sean Kelly Gallery de Nova York e da Ingleby Gallery de Edimburgo, Escócia.
Seu trabalho está em diversas coleções institucionais como a do MoMA (Nova York), SFMOMA (San Francisco), Cifo (Miami), MACBA (Barcelona), TBA21 (Viena), The Israel Museum (Jerusalém), Inhotim (Brumadinho), MAM SP, MAM Rio, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAC-USP, entre outras.