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dezembro 8, 2019
O MASP dedicará o tema de 2020 às histórias da dança
Eixo curatorial vai pautar toda a programação do museu no ano que vem, dos eventos de mediação e programas públicos, como oficinas e palestras, às exposições monográficas de Hélio Oiticica, Trisha Brown, Senga Nengudi, Mathilde Rosier, Edgar Degas e Beatriz Milhazes e uma coletiva internacional
Todos os anos, o MASP organiza a sua programação em torno de "histórias", noção que abarca histórias reais, fictícias, relatos pessoais e históricos —de maneira aberta e plural. Entre os eixos e exposições passadas, estão Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018) e Histórias das mulheres, histórias feministas (2019). Em 2020, o museu terá como ciclo temático Histórias da dança, que servirá de base às atividades de mediação e programas públicos, como palestras, cursos e oficinas, e às monográficas de Hélio Oiticica, Trisha Brown, Senga Nengudi, Mathilde Rosier, Edgar Degas e Beatriz Milhazes, além de uma coletiva internacional homônima ao eixo curatorial.
O ciclo Histórias da dança se insere no debate atual sobre a presença de corpos em movimento em instituições de arte. A discussão deu forma aos seminários preparatórios para o eixo, realizados pelo MASP neste ano e no ano passado. Um terceiro será realizado em fevereiro de 2020, com curadores, artistas e acadêmicos. O ciclo temático, como o debate que o alimenta, evidencia as estreitas relações, cruzamentos e diálogos entre artes visuais e dança.
A representação do corpo em movimento, suas posturas, ritmos e pulsações, tem sido de grande interesse para artistas plásticos ao longo da história. São muitos os momentos em que dançarinos e artistas colaboraram estreitamente, como no caso dos experimentos feitos na Judson Church, em Nova York, onde se formou um coletivo de dançarinos, compositores e artistas visuais, de 1962 a 64. Com Histórias da dança, o MASP propõe a sua contribuição à reflexão sobre as possíveis trocas e influências entre os dois campos.
A exposição coletiva que levará o título do eixo curatorial foi concebida a partir de questões de base dentro desse diálogo. “O projeto busca, a partir das artes visuais, propor uma reflexão sobre o que é dança e quais corpos dançam. Que corpos são esses e o que os move?”, diz Olivia Ardui, curadora assistente e uma das responsáveis pela curadoria da mostra, ao lado de Adriano Pedrosa, diretor artístico do museu, e de Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte de moderna e contemporânea. A exposição trará pistas para pensar as diferentes implicações do que é dançar: dançar para ser, dançar para lembrar, dançar para resistir e (r-)existir.
OS DESTAQUES DE 2020
Já em março, o MASP abre as monográficas de Hélio Oiticica, artista que trabalhou o movimento em obras como seus famosos Parangolés, que estarão presentes à mostra, e da coreógrafa e bailarina estadunidense Trisha Brown. Em maio, será a vez da a artista visual afro-americana Sega Nengudi, conhecida por esculturas abstratas que combinam objetos encontrados e performances coreografadas. A exposição coletiva Histórias da dança tem início no mês seguinte, ocupando todo o subsolo do museu. Os franceses Mathilde Rosier e Edgar Degas, em agosto e outubro, e a brasileira Beatriz Milhazes, em dezembro, completam a programação de mostras individuais.
Em paralelo às monográficas, o museu exibe, em sua exposição de longa duração Acervo em transformação, cerca de vinte obras do Museo Jumex entre os cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi. A parceria faz parte do programa de intercâmbios que o MASP tem realizado com instituições internacionais desde 2018, quando recebeu obras da Tate. Em 2019, o museu exibe até dezembro dezoito trabalhos do Museum of Contemporary Art Chicago.
PROGRAMAÇÃO MASP 2020
HÉLIO OITICICA: A DANÇA NA MINHA EXPERIÊNCIA
20.3 - 7.6.2020 no MASP
4.7 - 4.10.2020 no MAM Rio
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Tomás Toledo, curador chefe do MASP
O trabalho pioneiro de Hélio Oiticica destaca-se por seu caráter radical e experimental. Inicialmente, suas obras dialogavam com as experiências concretistas da época e o artista participou do Grupo Frente, em 1955-56, e do Grupo Neoconcreto, em 1959. Em 1957, iniciou a série de guaches sobre papel denominada Metaesquemas. Segundo Oiticica, esses trabalhos geométricos são importantes por já apresentarem o conflito entre o espaço pictórico e o espaço extra-pictórico, muitos deles com composições marcadamente rítmicas e dinâmicas, prenunciando a posterior superação do suporte do quadro e da abertura de sua obra para o contexto da rua e do cotidiano, apontando para uma relação entre arte e vida.
Em 1964, Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira, no Rio de Janeiro, e ali se tornou passista. Essa experiência transformadora foi um divisor de águas na vida e na obra do artista. A partir da Mangueira, Oiticica aprofundou suas reflexões sobre experiências estéticas para além das artes visuais, bem como das artes plásticas tradicionais, incorporando relações corporais e sensíveis ao seu trabalho através da dança e do ritmo. Neste momento, Oiticica começa a produzir os Parangolés, que, segundo o artista, são anti-obras de arte. Os Parangolés são capas, faixas e bandeiras construídas com tecidos coloridos, às vezes com sentenças de natureza política ou poética, para serem usados, transportados ou dançados pelo espectador que se torna participante, suporte e também intérprete do trabalho.
Hélio Oiticica: a dança na minha experiência, organizada pelo MASP e pelo MAM Rio, apresentará uma ampla seleção de Parangolés, incluindo cópias de exposições que podem ser usadas pelo público. Além disso, outros trabalhos serão reunidos sob a perspectiva da dança e do ritmo, apresentando uma trajetória que culminará no Parangolé, compondo uma espécie de genealogia deste trabalho radical: Metaesquemas, Relevos espaciais, Núcleos e Bólides. A exposição também contará com extenso material documental, incluindo fotografias e escritos do artista.
A mostra contará com um catálogo ilustrado, editado pelos curadores, com ensaios inéditos de Adrian Anagnost, Cristina Ricupero, Evan Moffitt, Fernanda Lopes, Fernando Cocchiarale, Sergio Delgado Moya, Tania Rivera e Vivian Crockett, incluindo material de arquivo e textos do artista.
TRISHA BROWN: COREOGRAFAR A VIDA
20.3 - 7.6.2020
Curadoria: André Mesquita, curador do MASP
Primeira exposição brasileira dedicada integralmente à obra de Trisha Brown (1936-2017), a mostra vai apresentar desenhos, diagramas, fotografias, filmes e vídeos que evidenciam os aspectos transformadores de sua obra. Organizada a partir de recortes específicos de algumas coreografias que incorporam movimentos cumulativos e gestos cotidianos, desenhos e notações que enfatizam os modos como Brown mudou radicalmente os protocolos estabelecidos da dança, a exposição pretende abordar as relações complexas entre dança, espaço e visualidade.
JUMEX NO MASP
1.4 - 30.12.2020
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, Laura Cosendey, assistente curatorial do MASP
No terceiro ano de intercâmbio com instituições estrangeiras, o MASP recebe cerca de 20 obras do Museo Jumex, da Cidade do México. As obras, de artistas como Andy Warhol, Jeff Koons, Laura Owens e Rosemarie Trockel, serão exibidas no Acervo em transformação, exposição da coleção do museu nos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, no segundo andar do museu. Estão ali nomes como Rafael, Gauguin, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Bosch, Teresinha Soares, Claudio Tozzi, Anna Maria Maiolino, Anita Malfatti e Sonia Gomes. A seleção das obras, que podem ser localizadas por mapas impressos, passa por alterações periódicas, que permitem identificar características comuns aos trabalhos e propiciam diálogos entre os diversos artistas, assim como propor novos percursos para o visitante redescobrir a arte.
SENGA NENGUDI
1.5 - 2.8.2020
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, Isabella Rjeille, curadora assistente, do MASP, Stephanie Weber, curadora do Lenbachhaus, e Anna Straetmans, curadora assistente do Lenbachhaus
A primeira monográfica da artista estadunidense Senga Nengudi (Chicago, 1943) na América Latina vai reunir cerca de 50 trabalhos, entre instalação, escultura, fotografia e desenhos, feitos entre os anos 1970 e 2010. Nengudi foi uma figura central na cena afro-americana de Los Angeles nos anos 1970 e se tornou conhecida por envolver escultura e performance em suas instalações. Nas décadas de 1960 e 1970, além de se dedicar às artes visuais e à dança, a artista se engajou nas lutas contra a segregação racial e pela igualdade de gênero, numa época de efervescência dos movimentos por direitos civis nos EUA. A mostra é resultado da parceria com o Lenbachhaus Museum, em Munique, que co-organiza a exposição e a promove, em sua sede, ainda em 2019. A exposição contará com um catálogo que documenta de maneira aprofundada a obra da artista e que incluirá ensaios comissionados de autores dos Estados Unidos, Alemanha e Brasil, assim como re-impressões de textos históricos, entrevistas e imagens.
HISTÓRIAS DA DANÇA
26.6 - 4.10.2020 – primeiro subsolo
26.6 - 5.11.2020 – segundo subsolo
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, e Olivia Ardui, curadora assistente
Mais do que propor uma narrativa cronológica sobre a história da dança, ou um percurso exaustivo sobre as relações entre dança e artes visuais, a coletiva Histórias da dança propõe uma reflexão sobre políticas de corpos em movimento. Essa perspectiva expandida permite questionar o que é dança e coreografia, quais corpos dançam, o que os move, e como eles se movem.
Estruturada em torno de um pensamento e vocabulário próprios da dança -- os eixos de pesquisa da mostra incluem gravidade e suspensão, rastos e memória, composição e improviso --, a mostra contará com trabalhos de diferentes períodos, geografias e suportes.
Em uma proposta inédita no MASP, a seção da exposição situada no segundo subsolo terá uma extensa programação de apresentações, ensaios e workshops de dançarinos, coreógrafos, artistas e intérpretes. O projeto procura colocar corpos ativos no centro da mostra e questionar criticamente as possibilidades, diálogos e rupturas que podem surgir da apresentação de corpos em movimento dentro do museu.
MATHILDE ROSIER
21.8 - 5.11.2020
Curadoria: Maria Inés Rodríguez, curadora adjunta de arte moderna e contemporânea
Mathilde Rosier (Paris, França, 1973) constrói, através de sua obra, narrativas que evocam a presença de corpos dançantes e de situações oníricas e metafísicas, e que levam o espectador a confrontar a perda de sentido do espaço e do tempo. Para a exposição no MASP, ela investiga os bailes coletivos em sociedades rurais de épocas e áreas geográficas diversas. A artista tem interesse nos ritos e rituais em que os participantes utilizam a dança para perder a noção de si mesmos, em busca de momentos de transe e da leveza do ser.
DEGAS: DANÇA, POLÍTICA E SOCIEDADE
30.10.20 - 16.2.21
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Fernando Oliva, curador do MASP
A mostra vai reunir no MASP cerca de 150 obras de Edgar Degas (Paris, 1834-1917), explorando a relação de seu trabalho com o universo da dança e chamando atenção para o fato de que quase metade das suas duas mil obras, incluindo óleos, pastéis, desenhos, gravuras e esculturas, constituem explicitamente um registro com relação às realidades sociais da dança em sua época, e consequentemente à presença do feminino e ao papel da mulher nesse contexto. Nesse sentido, a mostra se distancia de abordagens estritamente formais ou estilísticas. A seleção de obras parte do acervo do próprio museu, que conta com 76 obras do artista, incluindo 3 pinturas e o conjunto de 73 esculturas em bronze, do qual faz parte a célebre série de bailarinas (38 esculturas), incluindo a icônica Bailarina de catorze anos (1880). Apenas outros três museus no mundo possuem essa coleção (Glyptotek Ny Carlsberg de Copenhague; Metropolitan de Nova York; e Musée d’Orsay, Paris). Todos esses trabalhos farão parte da mostra.
BEATRIZ MILHAZES: AVENIDA PAULISTA
11.12.2020 - 23.3.2021 no MASP
12.12.2020 – 28.2.2021 no Itaú Cultural
Datas a confirmar na Casa de Vidro
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, Amanda Carneiro, curadora assistente do MASP, e Ivo Mesquita, curador independente
Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro, 1960) é uma artista brasileira reconhecida por sua singular produção de um complexo repertório de imagens, formas e cores associadas ao barroco, ao modernismo e a motivos populares brasileiros, como o Carnaval, e também à fauna e à flora tropicais. Sua exposição no MASP – realizada no contexto de um ano inteiro dedicado às “Histórias da dança” – vai apresentar uma ampla seleção de pinturas e colagens produzidas a partir da década de 1990, além de trabalhos inéditos realizados em parceria com a coreógrafa Marcia Milhazes. Realizada em parceria com o Itaú Cultural e com o Instituto Bardi, a mostra contará com três locais de exibição – no MASP, na Casa de Vidro e no Itaú Cultural, onde será curada por Ivo Mesquita. Como as demais, essa exposição será acompanhada por um amplo catálogo com reproduções dos trabalhos expostos e ensaios sobre a produção da artista.