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novembro 24, 2019
Sala de Vídeo: Laure Prouvost no Masp, São Paulo
Com curadoria de María Inés Rodríguez, exposição apresenta três vídeos da artista, que neste ano representou a França na Bienal de Veneza
A linguagem, em seu sentido mais amplo, permeia o trabalho em vídeo, som, instalação e performance de Laure Prouvost, próxima artista a ocupar a sala de vídeo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) a partir do dia 28 de novembro. O trabalho de Prouvost se insere no ciclo temático do MASP, Histórias das mulheres, histórias feministas, que guia toda a programação do museu em 2019.
Conhecida por suas instalações imersivas e multimídias, que se conectam de maneira bem-humorada ao espectador, ela aproveita-se de fissuras na comunicação e converte ideias do real para o ficcional e vice-versa. Utilizando-se da linguagem como ferramenta para a imaginação, a artista busca embaralhar narrativas lineares e associações evidentes entre palavras, imagens e significado. Para Prouvost, realidade e irrealidade são caminhos enevoados.
“Ao envolver todos os sentidos do visitante, os vídeos buscam ampliar a imaginação e expandir os limites da realidade visual. Eu brinco com um léxico que envolve cheiros, texturas, sons, cultura de massa ---produzindo 3D sem tecnologia 3D--- e imagens para provocar emoções. Nos vídeos, o espectador torna-se um protagonista”, diz Prouvost.
Nascida em Lille, na França, Laure Prouvost graduou-se na Central St. Martins e tornou-se mestra pela Goldsmiths College, em Londres. Logo após o término do mestrado, em 2010, Prouvost começou a chamar a atenção do circuito artístico por trabalhar com referências íntimas de sua vida —sendo elas falsas ou não— em instalações cômicas que, em um primeiro momento, podem gerar estranheza. Atualmente, a artista trabalha entre a cidade portuária de Antuérpia, na Bélgica, e Londres, na Inglaterra.
Combinando memórias pessoais existentes e imaginadas com referências artísticas e literárias para criar instalações e vídeos cinematográficos, a artista busca sempre estar no limite daquilo que é sedutor e ambíguo.
Por seus trabalhos, foi contemplada pelos prêmios Max Mara Art Prize for Women, em 2011; Turner Prize, em 2013; e, em 2019, Prouvost representou a França na Bienal de Veneza. Além dos prêmios, a artista possui instalações no Palais de Tokyo, em Paris, na Serpentine Sackler Gallery, em Londres, e Witte de With Center for Contemporary Art, em Roterdã.
Com curadoria de María Inés Rodríguez, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea do MASP, a mostra apresenta os três títulos selecionados em três telas: duas laterais, e uma central, seguindo o mesmo modelo da mostra antecessora, que apresentou trabalhos de Anna Maria Maiolino.
“A exposição de Laure Prouvost faz parte do programa de 2019 dedicado às histórias das mulheres, histórias feministas. Mostraremos uma série de vídeos de diferentes períodos, nos quais podemos observar o interesse da artista pela experimentação da imagem e som. A presença da linguagem, escrita no roteiro, permeia seu trabalho e gera múltiplas leituras, além de possíveis relacionamentos com outros artistas que encontramos nas exposições no museu”, afirma Rodríguez.
Em Swallow (2013, 12’6’’), o visitante depara-se com imagens sedutoras, que oferecem uma leveza agradável. O espectador é bombardeado por uma série de impressões que se desdobram: mulheres nuas tomando banho em um lago azul, o fluxo da água que sai de uma fonte de mármore, a superfície lisa e alaranjada da tangerina sendo penetrada por dedos, a silhueta de um pássaro contra o céu.
Através da composição associativa de Swallow, Prouvost pontua o consumo insaciável das imagens apresentadas. Isso também ocorre em Going Higher (2014, 2’35’’) onde, do início ao fim, espectadores são expostos à uma série de colagens de registros: uma criança tomando um banho de piscina, exaustores expelindo fumaças, uma garrafa de espumante sendo aberta, uma ave preparando-se para voar.
Já It, Heat, Hit (2010, 7’21’’) é uma sobrecarga sensorial na qual texto, cortes rápidos, som surround e jogos semióticos catapultam o espectador para uma narrativa desorientadora. Vídeo e texto criam uma espécie de sinestesia. Unidos de forma incisiva, as imagens vêm e vão em um ritmo deslumbrante. O tom do filme se torna progressivamente mais sombrio e ameaçador e quando, finalmente, chega o clímax, a artista pede ao espectador que preste atenção ao que é exibido, pois os personagens contidos no filme precisam disso para existir.