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novembro 20, 2019
Tiago Sant'Ana no no Senac Lapa Scipião, São Paulo
Exposição “Aquém-mar” de Tiago Sant’Ana lança olhar afro-centrado sobre tempos históricos
O artista visual Tiago Sant’Ana abrirá a sua nova exposição “Aquém-mar” no dia 25 de novembro às 19 horas no Senac Lapa Scipião. Essa é a primeira mostra individual do artista baiano em São Paulo e reúne uma série de trabalhos produzidos nos últimos três anos nas linguagens da performance, fotografia, vídeo e desenho.
O artista, que frequentemente debate em suas produções questões ligadas à memória e à história sob um ponto de vista negro, mostrará um conjunto de obras que trazem à cena a necessidade de uma revisão histórica quando o assunto é a colonização brasileira.
Os trabalhos de Sant’Ana trazem com constância o açúcar para debater sobre os usos históricos desse produto e a continuidade dos sistemas de exploração da colonização ainda na atualidade.
Em algumas obras, o artista adensa a sua pesquisa compondo ações em antigos engenhos de açúcar, hoje, desativados e em estado de ruína. Em criações como “Passar em branco”, em que o artista usa um ferro de passar elétrico num desses lugares, o passado e o presente são justapostos na tentativa de pensar quais imagens, papeis e estereótipos estão associados às populações negras no Brasil ainda hoje.
“É uma exposição que elenca uma série de procedimentos, técnicas e perspectivas que utilizo na composição dos meus trabalhos recentes”, comenta o artista, que neste ano foi o vencedor do Prêmio Foco ArtRio – uma iniciativa que visa valorizar a produção de artistas do Brasil com menos de 15 anos de carreira.
O nome da exposição tem relação com as travessias atlânticas e os fluxos históricos implicados pela diáspora negra conforme ressalta Sant’Ana: “Aquém-mar é uma mirada para o Atlântico feita pelo lado de cá, do Brasil. É uma palavra-chave para pensar na história, mas também se questionar sobre como existem chagas coloniais que ainda doem. Há muitas ruínas, de diversas ordens, naufragadas no Atlântico”, analisa.
Essas feridas ainda vistas na contemporaneidade, podem ser encontradas em obras como “Apagamento #1”, em que o artista se fotografa durante um mês dentro do seu próprio quarto registrando o crescimento do seu cabelo que apaga o nome de uma comunidade de Salvador raspada na cabeça. O trabalho faz menção à chacina do Cabula em que 12 jovens negros foram assassinados pela polícia militar baiana em 2015.
“Cabula também foi a região de um antigo quilombo, que foi reprimido e desmontado pelas forças armadas. Nesse trabalho estou tratando de uma estrutura contínua repressiva contra a população negra e da permanência do braço da violência estrutural do Estado”. O trabalho, que foi mostrado na exposição Histórias Afro-Atlânticas, agora terá uma outra configuração com as fotografias originais que compõem o vídeo.
“Aquém-mar” seguirá em cartaz até o dia 23 de janeiro de 2020. O Senac Lapa Scipião planejou a exposição como uma das atividades do ciclo “Poéticas Negras” organizado pela unidade. O Senac fica localizado na Rua Scipião, 62, no bairro da Lapa, e tem horário de funcionamento de segunda a sexta das 8 às 21 horas e sábado das 8 às 14 horas. O acesso à exposição é gratuito e a classificação é livre.
Tiago Sant’Ana (Santo Antônio de Jesus/BA, 1990) é artista visual, curador e doutorando em Cultural e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Seus trabalhos imergem nas tensões e representações das identidades afro-brasileiras, entendendo as dinâmicas coloniais que envolvem a produção da história e da memória. Foi um dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018 e vencedor do Prêmio Foco ArtRio 2019. Participou de festivais e exposições como “Rio dos navegantes” (2019, Museu de Arte do Rio), “Histórias Afro-Atlânticas” (2018, MASP e Instituto Tomie Ohtake), “Axé Bahia: The power of Art in an afrobrazilian metropolis” (2017, Fowler Museum) e “Reply All” (2016, Grosvenor Gallery).