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novembro 20, 2019

Marcia Pastore na Pina Estação, São Paulo

Retrospectiva de Marcia Pastore na Pinacoteca percorre quase 30 anos de sua prática escultórica

Conjunto de 40 trabalhos situa-se na intersecção entre as artes plásticas e a arquitetura, enfatizando as relações poéticas entre força, matéria e espaço

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo apresenta, de 23 de novembro de 2019 a 6 de abril de 2020, a exposição Marcia Pastore: contracorpo, que exibe um recorte da produção da artista paulista reunindo, no quarto andar da Pinacoteca – Edifício Pina Estação, 40 trabalhos produzidos ao longo de quase três décadas. Com curadoria de Ana Maria Belluzzo, o conjunto de peças situa-se na intersecção entre as artes plásticas e a arquitetura ao enfatizar as relações poéticas entre força, matéria e espaço.

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A prática escultórica de Pastore indaga sobre qualidades intrínsecas de materiais muito diversos (borracha, gesso, ferro, etc) e atravessa tempos e técnicas distintas ao revisitar tanto tradições escultóricas como técnicas de fabricação e de moldagem. Para tanto, a artista parte, não do desenho, mas do embate direto dos materiais, do lugar e da experimentação, valendo-se de uma linguagem que remete a procedimentos da engenharia civil, sem perder de vista a articulação orgânica dos materiais. Em sua obra, as formas surgem tanto como iminência de algo que está por acontecer como rastro de uma presença corpórea.

Na mostra realizada na Pinacoteca, o visitante é convidado a percorrer esses devires e rastros que parecem emergir da própria arquitetura. Entre eles, quatro trabalhos inéditos, concebidos especialmente para a exposição, incluindo Linha-d´água e Linhas de força. Ambos integram também o conjunto obras marcantes em sua trajetória, a exemplo do relevo Sem título (1999) – feito em bronze com banho de prata e pertencente ao acervo do museu — e Peso contrapeso, apresentado pela primeira vez na Funarte, em 2012.

Para estabelecer um diálogo entre esse último e a arquitetura do edifício da Pinacoteca, a artista abriu janelas no forro do teto do museu, de modo que os cabos que sustentam o trabalho fossem pendurados no cruzamento dos caibros e das tesouras que desenham o telhado, conquistando sua estabilidade a partir da interação entre os tubos de metal, a roldana e a anilha. “Era necessário que esse jogo se desse com as forças estruturais arquitetônicas do lugar”, comenta Pastore.

Esse interesse pela dinâmica dos materiais remete tanto aos conceitos da arte povera, corrente artística que também privilegia a poética das relações entre as coisas, como à adolescência da artista. Aos 16 anos, Pastore começou a trabalhar em uma marcenaria que desenvolvia projetos de móveis para decoração. “Eu acompanhava toda a execução, desde o desenho ao desenvolvimento do produto. Isso começou a me dar uma experiência sobre o comportamento dos materiais e os recursos que eu podia tirar deles”, ela conta.

A distribuição das peças no espaço foi pensada pela artista e pela curadora Ana Maria Belluzzo a fim de prescindir de uma ordem cronológica. “O que se pretende destacar na mostra é a forma como a artista realiza o manejo do corpo da obra, que se encontra em situação de interdependência com meio no qual se localiza, tornando instigante o momento de equilíbrio e de sustentação de cada peça no espaço”, reflete Belluzzo.

Tal equilíbrio entre matéria e espaço é tensionado muitas vezes até seu ponto máximo. Em Risco (2013), por exemplo, cada tubo traz em sua ponta superior um grafite enquanto a ponta inferior é seca, como a de um compasso, garantindo certo atrito com o chão. “Alguns tubos estão quase deitados. É muito impressionante continuarem parados. Eu levo os trabalhos a esse limite: é até aqui que ele aguenta ficar de pé, é aqui que ele vai ficar. Não deixo uma margem de segurança, essa iminência do movimento ou do perigo deixa tudo em suspensão”, finaliza a artista.

Marcia Pastore nasceu em São Paulo, em 1964, onde vive e trabalha. Expôs por duas vezes no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro [1993 e 2010] e no Centro Cultural Maria Antônia [2002 e 2010]; uma vez no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas [2010], no Centro Cultural São Paulo [2000], no Museu de Arte Contemporânea da USP [1990], na Caixa Cultural, de Fortaleza [2012], na Funarte de São Paulo [2012], na Biblioteca Mario de Andrade [2015] e no MuBE [2017]. Integrou importantes exposições coletivas no Museu de Arte Contemporânea da USP [1992], no Museu de Arte Moderna de São Paulo [1990] e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte [1990]. Em 1998 e em 2000, participou da Arco – Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid, e em 2004 da inauguração do Vestfossen Kunst Laboratorium [Oslo, Noruega]. Suas obras estão em coleções como na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na Pinacoteca Municipal de São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.


The Pinacoteca de São Paulo, museum of the Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secretary of Culture and Creative Economy) of the state of São Paulo presents, from November 23rd, 2019 until April 6th, 2020, the exhibition Marcia Pastore: counterbody, display a selection of the native São Paulo artist’s production, bringing together, on the 4th floor of Pinacoteca – Edifício Pina Estação, 40 works produced over the course of almost three decades. Curated by Ana Maria Belluzzo, the set of pieces lies at the intersection between visual arts and architecture, emphasising the poetic relationships between force, material and space.

Pastore’s sculptural practice investigates the intrinsic qualities of very diverse materials (rubber, plaster, iron etc), and traverses distinct times and techniques, revisiting both sculptural traditions and manufacturing and casting techniques. For this, the artist starts, not from drawing, but from a direct clash of materials, place and experimentation, acquiring a language that refers to civil engineering processes, without losing sight of the organic articulation of the materials. In her work, the forms arise from both a sense of imminence and from traces left by the presence of a body.

In the show at the Pinacoteca, the visitor is invited to explore these imminences and traces, which appear to emerge from the architecture itself. Among the works, are four that have never been shown before, conceived especially for the exhibition, including Linha-d´água and Linhas de força. Both are also part of a set of significant works in the artist’s career, including for example the relief Untitled (1999) – made in bronze and silver plated, and belonging to the museum’s archive – and Peso contrapeso, which was shown for the first time at Funarte, São Paulo, in 2012.

To establish a dialogue between the latter work and the architecture of the Pinacoteca building, the artist opened windows in the ceiling of the museum, so the cables supporting the work were hung from the intersection of the rafters and trusses that make up the design of the roof, gaining stability from the interaction between the metal tubes, pulleys and weights. “This game had to be with the structural architectural forces of the place”, comments Pastore.

This interest in the dynamics of materials relates both to concepts of Arte Povera, the artistic movement that also favours the poetics of the relationships between things, and to the artist’s adolescence. At 16, Pastore started working in a woodwork shop that developed furniture projects for interior design. “I followed the whole execution process, from the design right through to the development of the product. This gave me an experience of how materials behave, and of the resources that I could draw from them”, she says.

The distribution of the pieces within the space was developed by the artist and by curator Ana Maria Belluzzo as a way of dispensing with a chronological order. “The intention of the show is to highlight the way in which the artist handles the body of the work, which is found in a state of independence in the middle of its environment, so that the point of balance and support of each piece within the space becomes in itself an instigator”, reflects Belluzzo.

This balance between material and space is often at the point of maximum tension. In Risco (2013), for example, every tube has graphite at its upper point, whilst its lower end is a dry point, like that of a compass, guaranteeing a certain friction with the floor. “Some tubes are almost laying down. It’s very impressive that they stay still. I bring the works to this limit: it is until here that it can stay still, it is here that it will stay. I don’t leave a margin of security, this imminence of movement, or of danger, leaves everything in suspense”, concludes the artist.

Marcia Pastore was born in São Paulo in 1964, where she now lives and works. She has exhibited twice at both the Centro Cultural Banco do Brasil in Rio de Janeiro (1993 and 2010) and at the Centro Cultural Maria Antônia (2002 and 2010); and once at the Museu de Saúde Pública Emílio Ribas (2010), at the Centro Cultural São Paulo (2000), at the Museu de Arte Contemporânea da USP (1990), at the Caixa Cultural, Fortaleza (2012), at Funarte de São Paulo (2012), at the Biblioteca Mario de Andrade (2015) and at MuBE (2017). She was part of major group shows at the Museu de Arte Contemporânea da USP (1992), the Museu de Arte Moderna de São Paulo (1990) and the Palácio das Artes, in Belo Horizonte (1990). In 1998 and in 2000, she participated in Arco – International Contemporary Art Fair in Madrid and, in 2004, at the opening of Vestfossen Kunst Laboratorium (Oslo, Norway). Her works are included in collections including at the Pinacoteca do Estado de São Paulo, the Pinacoteca Municipal de São Paulo, the Museu de Arte Contemporânea da USP, the Museu de Arte Moderna de São Paulo and the Instituto Figueiredo Ferraz, in Ribeirão Preto.

Posted by Patricia Canetti at 2:11 PM