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novembro 20, 2019
Carlos Eduardo Uchôa na Capela do Morumbi, São Paulo
Instalação “Sursum corda” Carlos Eduardo Uchôa abre diálogo com o a memória e ocupações da capela do Morumbi
No dia 23 de novembro de 2019, a Capela do Morumbi, unidade vinculada ao Museu da Cidade de São Paulo e à Secretaria Municipal de Cultura, abre a instalação “Sursum corda”, de Carlos Eduardo Uchôa.
De acordo com Henrique Siqueira, Coordenador do Núcleo de Curadoria do Museu da Cidade: “A montagem de ‘Sursum corda’ revigora o programa curatorial da Capela do Morumbi, desenhado por Sonia Salzstein em 1991. Voltado às instalações articuladas com este sítio histórico, o programa é o mais longevo do Museu da Cidade de São Paulo, instituição à qual a Capela do Morumbi está vinculada. Vinte anos após ter realizado sua primeira instalação neste espaço (“Infinitos”, 1999), Carlos Eduardo Uchôa retorna nutrido de expressão precisa e obra cerzida em diálogo com a memória do prédio, suas ocupações, e seu tempo.”
“Infinitos” foi uma experiência marcante com o espaço, para o artista e também para aqueles que visitaram a Capela, pela força e da exigência do lugar. Agora, o artista propõe outra obra, muito diferente da primeira, do ponto de vista visual, mas inteiramente conexa quanto às questões de partida.
“A ‘Capela’ apresenta uma densidade de experiência espacial muito diferenciada. Suas medidas e sua constituição em taipa são como uma cápsula de memória vivencial, histórica e artística onde se cruzam temporalidades as mais contrastantes e inúmeras matrizes de relação entre o sujeito que a experiencia e o próprio espaço denso, seja pela matéria constituinte, seja pela alternância sensível com o entorno, o ar, o céu, a vegetação, a elevação da colina, o bairro, e a pertinência ao passado e ao presente desdobrado em inúmeras experiências artísticas que já fazem parte de sua vitalidade”, diz Uchôa.
Propõe-se, portanto, ativar essa potência do próprio espaço através de uma intervenção escultórica sólida de grande porte, ascensional, que por sua vez só poderá ser plenamente apreendida à medida em que o deslocamento perceptivo do fruidor vá percorrendo a obra central, vivenciando os contrastes entre o aço bruto e a taipa, as aberturas e as limitações, os cheios e os vazios, as elevações e o rebaixamento ao solo, os escapes das aberturas ao exterior e à luz, e os enclausuramentos entre a parede e a escultura.
A grande escultura em aço corten – que resiste à corrosão atmosférica e proporciona visual rústico – com 10 m de comprimento, 1,80 m de largura e 3,50 m de altura na parte mais elevada, estará situada ao longo do eixo principal da capela, tendo ao fundo, junto à parede, um espelho de 4,50 m de altura e 1,80 m de largura, acima do qual se insere a inscrição feita em neon branco, com letras de 0,40 m de altura, contendo a frase “Sursum corda”.
A citação latina remete a uma longuíssima tradição e quer dizer “corações ao alto”, reduplicando a experiência espacial e de memória vivencial a que a escultura remete, mas agora num plano não só do logos, mas também da luminosidade artificial que aponta à luz do céu filtrada pelas brechas dos orifícios da taipa e das janelas circulares (óculos). “Dentro e fora, escuro e claro, continuidade e ruptura ao mesmo tempo. Essa reduplicação de sentido contida na verbalização da experiência sinestésica, multissensorial, cria uma quebra de plano de significação, levando paradoxalmente à brisura, rotura e juntura ao mesmo tempo, à presença-ausência, ao centro da questão da obra. Obra que opera relações. Relações de visibilidade-invisibilidade, presença-ausência, possibilidade-impossibilidade, ascensão-rebaixamento, ocultamento-desvelamento”, explica o artista.
Esta instalação não é redutível a uma imagem, nem é pura sensorialização nem memoração, mas tudo ao mesmo tempo. Uma escultura enorme, de 10 m de comprimento, que é de algum modo invisível.