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novembro 7, 2019
Dan Coopey na Estação, São Paulo
A obra de Dan Coopey, inglês que vive entre São Paulo e Londres, chamou a atenção de Vilma Eid, diretora da Galeria Estação, não só pela particular qualidade, mas também, pelo diálogo que estabelece com parte de seu elenco: uma arte produzida a partir de elementos singelos. São cestarias de formas orgânicas, trançadas artesanalmente pelo artista, e composições concebidas por meio da apropriação de objetos fabricados. Com curadoria do professor Raphael Fonseca, curador do MAC Niterói, a exposição Sunday divide-se em três núcleos: uma que dá continuidade ao seu fazer com a cestaria; e outras duas com trabalhos construídos com lápis de cor e caixas de fósforos.
Segundo o curador, as formas orgânicas e fechadas da cestaria produzida anteriormente por Dan Coopey dão espaço a um caráter mais indefinido. “Pensando na relação entre o tempo e o fazer, é como se o artista convidasse o público a completar as tramas que pendem ainda como fios desses objetos”. São trançados em materiais tão diferentes como o sisal, o papel, fibra de banana e os cordões de plástico, com tamanhos, cores e curvas que se movimentam de acordo com os limites da matéria.
As outras duas séries de trabalhos dão continuidade tanto ao uso de objetos industriais quanto a uma apreensão do tempo. Em um primeiro olhar chama atenção o cromatismo dos lápis, mas quando o espectador se aproxima, múltiplas narrativas se apresentam devido à relação entre os textos impressos e as imagens mentais que podem ser criadas. “Um dos trabalhos é composto por uma série de lápis com a divulgação da Paçoquinha Paulista e logo abaixo a frase que poderia ter sido extraída de um meme contemporâneo: ‘sempre invejada nunca igualada’, destaca Fonseca.
Com os trabalhos feitos com caixas de fósforos, as narrativas vão além dos nomes das marcas. Coopey abre as caixas e as coloca lado a lado fazendo uma colagem das respectivas imagens publicitárias: desejos de boas festas, promoções, tipografias das mais variadas e figuras humanas. Encostados na parede, os fósforos de diversas cores constroem uma espécie de círculo cromático incompleto. “Esses novos trabalhos do artista, portanto, não deixam de também fazer um comentário sobre a própria história de São Paulo e sua posição central na história do capitalismo e da industrialização no Brasil”.
Para Fonseca, esta exposição parece tornar possível perceber o lugar central que o tempo ocupa na produção de Dan Coopey, que se dá não apenas no seu interesse pelo fazer ancestral da cestaria, mas também na maneira como o artista discretamente cria tramas com objetos e imagens de diferentes temporalidades. “Um olho explora os mistérios da organicidade de um material frágil e efêmero, ao passo que o outro manipula objetos que desejavam a vida eterna e que já podem ser vistos como ruínas. Entre um e outro olhar, algo em comum: uma indagação a respeito da permanência”, completa o curador.
Dan Coopey (1973, Stroud, Reino Unido) vive e trabalha entre São Paulo e Londres. No Brasil apresentou Interiors, na Pivô, São Paulo, (2017) e participou da coletiva (o), com curadoria de Catarina Duncan, na Galeria Leme, São Paulo (2018). Com curadoria da brasileira Fernanda Brenner, fez parte da mostra Neither, no espaço da galeria Mendes Wood DM, em Bruxelas (2017). Entre outras individuais estão Dry, Kubikgallery, Porto (2017), lalahalaha, Belmacz Gallery, Londres (2015), Laura UpsideDown, Institute of Jamais Vu, Londres (2012); Position 1, Agency Gallery, Londres (2010); e Doodad, Hayward Gallery, Londres (2009). Em 2011 foi artista comissionado do Up Projects and Arts Council England para produzir uma instalação itinerante. Já entre projetos e mostras coletivas recentes estão Mingei Now, com curadoria de Nicolas Trembley, Stokton Gallery, Quioto (2018); Amaranthine, Kupfer, Londres (2018); In the Peaceful Dome, The Bluecoat, Liverpool (2017); A Merman I Should Turn To Be, Bartlett Gallery, Londres (2014); Fourth Drawer Down, Nottingham Contemporary (2014); The World is Almost 6000 Years Old, The Collection, Lincoln Museum, com curadoria de Tom Morton (2013).