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novembro 6, 2019
Leonilson por Antonio Dias na Pinakotheke, São Paulo
Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção: A exposição reúne 38 obras de Leonilson pertencentes a seu amigo Antonio Dias
Depois de passar por sua sede no Rio de Janeiro, que só na primeira semana recebeu mil visitantes, a Pinakotheke Cultural traz para São Paulo a exposição que celebra a amizade entre Leonilson (1957-1993) e Antonio Dias (1944-2018). Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção dá sequência a uma programação que vem abordando a amizade entre artistas, como em Estética de Uma Amizade –Alfredo Volpi e Bruno Giorgi, realizada no primeiro semestre de 2019, no espaço paulistano.
As 38 obras reunidas, entre desenhos e pinturas e objetos, foram concebidas nos anos 1980, exceto a tela em feltro e algodão “o biblioteca: o espelho” (dezembro, 1992), envida por Leonilson em 1993, pouco antes de sua morte, com dedicatória e uma carta para Dias. A ideia da mostra surgiu em outubro de 2015, em Fortaleza, quando Antonio Dias preparava sua individual na Galeria Multiarte. Na ocasião, ele, sua mulher Paola Chieregato e Bia e Max Perlingeiro iniciaram o projeto.
Era vontade do artista paraibano que aos 14 anos mudou-se para Rio de Janeiro, além de mostrar esta coleção, contar a história de sua amizade com Leonilson, que começou no outono de 1981, na Itália, como conta Perlingeiro. Ao chegar na Estação de trem em Milão, vindo de Madri, Leonilson, resolve ligar para Antonio cujo contato lhe foi passado por Arthur Luiz Piza (1928-2017) em Paris, por intermédio de Geraldo Holanda Cavalcanti, embaixador do Brasil junto à Unesco (Paris 1978-1981). Na ligação, imediatamente Antonio diz “vem pra cá”. “Dali em diante começou uma grande amizade, com respeito mútuo, confiança, afeto, que durou até a morte de Leonilson”, completa Perlingeiro.
A exposição apresenta também registros entre os dois artistas, cartas e fotografias, e se completa com quatro obras pertencentes a outras coleções. O projeto se desdobra em um livro homônimo (Edições Pinakotheke, capa dura, bilíngue (port/ingl), 120 páginas), com textos de Paola Chieregato e Max Perlingeiro, um depoimento com Luiz Zerbini, a pedido do Antonio, uma entrevista com Thomaz Cohn, galerista e amigo dos dois artistas, e uma cronologia da trajetória de Leonilson, além das imagens das obras da exposição.
JOSÉ LEONILSON BEZERRA DIAS (Fortaleza, CE, 1957-1993) está entre os principais nomes da arte contemporânea brasileira. Participou de importantes mostras no Brasil e no exterior, como Bienais, Panoramas da Arte Brasileira e a emblemática “Como Vai Você, Geração 80?”. Precocemente falecido em 1993, com apenas 36 anos, tem tido sua memória preservada pela Sociedade Amigos do Projeto Leonilson, considerada centro de referência da vida e da obra do artista. Foi fundada em 1995 por seus amigos e familiares, notadamente por sua irmã, Ana Lenice Dias, presidente da instituição. Segundo a crítica Lisette Lagnado, grande estudiosa da obra do artista, cada peça realizada por Leonilson é construída como uma carta para um diário íntimo. Manifestou-se em diferentes linguagens: pintura, bordado, desenho, instalação, figurino, cenário teatral e textos. Em suas obras, dizia que o texto era tão importante quanto a figura. A solidão e o amor foram os grandes temas investigados por Leonilson. “Em sua trajetória podem ser destacados três núcleos formativos: a primeira etapa (1983-88) busca uma definição estética por meio do ‘prazer da pintura’; em seguida (1989-91), o artista encontra um ponto de firmeza no tema do ‘abandono’ e em sua inclinação para os valores românticos; nos dois últimos anos de sua vida, a alegoria da doença domina por completo a linguagem”, afirma Lagnado.
Até 1986, o traço do desenho consiste em envolver as formas com um contorno mais escuro, à maneira do graffiti norte-americano. A partir de tal ano, e de sua amizade com Albert Hien, incorpora dados “metafísicos”. O período de 1989 a 1993 é de intensa produtividade. Nele, surgem os bordados e as costuras, como em “anotações de viagem”, trabalhos feitos com botões, pedras semipreciosas e bordados exibidos na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. O universo da costura é familiar a Leonilson, por ser filho de um comerciante de tecidos e ter, também, o hábito de ver a mãe bordar. Para Lagnado, além desses dados, em sua obra há certas similitudes com os shakers, membros de seita religiosa norte-americana, como o uso marcante de mapas ou o costume de bordar a roupa de cama com iniciais ou números.