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novembro 5, 2019
Para quem se abrem as portas... no Correios, Rio de Janeiro
Para quem se abrem as portas... Poderia ser uma frase comum... Com um ponto de interrogação no final viraria uma indagação a ser decifrada... Mas trata-se do título da exposição que será aberta, no dia 6 de novembro de 2019, às 19h, no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. Curadoria de Marilou Winograd e texto de apresentação de Alexandre Sá.
Na exposição, cerca de 40 obras – entre pinturas, aquarelas, fotografias, instalações e performances – demonstram as particularidades de cada autor, cada qual com sua linguagem. O público vai poder fazer um passeio pelas trajetórias visuais de cada artista e descobrir a relação que os trabalhos têm com a filosofia de Gaston Bachelard no livro ‘A Poética do Espaço’.
As obras ocuparão os salões laterais e a sala redonda do 3º piso.
Cada artista elegeu uma obra icônica na história da arte como referência aos seus trabalhos com a intenção de fazer uma cartografia do contemporâneo na exposição “Para quem se abrem as portas...”. E fica uma pergunta: aquele que abre uma porta é o mesmo que a fecha?
Nas delicadas e sensuais aquarelas em papel Fabriano e telas de John Nicholson, a figura da mulher está presente em sua intimidade, na casa. Mulher delicada, em repouso ou em afazeres, sempre com sua bela e densa cabeleira em movimento, banhada por uma luz quente e intensa. Nas obras de Pierre Bonnard (1867/1947) as portas nos quadros se abrem para o jardim, para a intimidade do casal e quase exclusivamente para a intimidade da esposa sozinha. Embora os desenhos de Nicholson sejam muito diferentes das cenas de Bonnard, boa parte do espírito das obras dele está presente.
Já Marco Cavalcanti tem sua trajetória pautada pela formação da imagem em matéria, calcada pela pesquisa em acidentes estéticos. De sua pesquisa em pintura, apareceram os recursos que permitem criar processos criativos, que possam anular a atuação do superego no resultado final. O trabalho apresentado é uma intensa e dramática colagem de algumas dezenas de camadas transparentes obtidas pela fotografia. Do contato com o inconsciente surge o prazer e a felicidade momentânea. Prolongar essa sensação é algo inerente à postura estética do artista. Sua obra teve como referência Arthur Clark, com o conto ‘A sentinela’, que deu origem ao filme ‘2001 - A Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick’.
Marilou Winograd: “O enigma do interior e do exterior sempre me fascina, as portas fechadas me provocam, as entreabertas me intimidam, as abertas me libertam. O que esta além da porta? Marilou apresenta a série ‘Mise en Abîme - InteriorExterior’, que, através de fotos/colagens impressas em grandes sedas ou enclausuradas em pequenas caixas de espelhos, abordam limites, reconstruções, fronteiras e utopias, em um universo de portas conceituas em movimento constante mas que em contraponto com a sua artista referência Francesca Woodman (1958/1981) nunca permanecerão fechadas. Francesca W. - artista jovem que se suicidou aos 22 anos e deixou uma obra imagética dramática e contundente.
A porta que Mário Camargo aborda em seus trabalhos é a entreaberta, que só permite o voyeurismo, a hesitação e a espreita. São os Muxarabis ou Jalousies, portas árabes. Neste caso específico, para quem se abrem as portas? Elas se abrem para o mundo dos Homens propriamente dito ou para o mundo da Solidão, o mundo das Mulheres.
Mário, nesta exposição, pauta seus trabalhos no artista Frank Stella. Na sua trajetória, ele demonstra que não existem portas que não possam ser abertas. Todas se abrem com vigor artístico. o que serve de referência para o caminho na arte de Mário.
As pinturas digitais de Mark Engel têm como base imagens e fotografias pré-existentes. Manipulando esses artefatos culturais, ele desenvolve uma pesquisa do abstrato dentro do concreto, criando abstrações com novos significados metafóricos que refletem questões sociais, políticas e econômicas. Nesses trabalhos, Mark fez uma pesquisa e releitura contemporânea das thangkas Tibetanas, pinturas em tecido, geralmente representando uma divindade, cena ou mandala budista iconografia furiosa nas tradições mahayana e tântricas do budismo. Mark faz uma conexão desses trabalhos com a Porta do Inferno de Auguste Rodin não só através dos símbolos da morte e inferno, mas também dos conceitos inerentes de julgamento final e justiça universal.
Para Pedro Paulo Domingues, a porta que se abre, ou melhor, se entreabre é uma mental, que liga um trabalho específico ‘La Voie Humide’ de (Tunga 2014) à grande instalação apresentada na mostra ‘O Fator Psíquico no Mecanismo da Ereção’ (2008). Eles, de certa forma, conversam entre si apesar da diferença cronológica e da pequena fresta por onde um trabalho vislumbra o outro. Pedro Paulo ocupará a sala redonda do 3º andar.
Em relação a Petrillo, as mazelas, as incongruências e a instauração do caos foi o que o motivou a realizar o link com a obra do artista francês Auguste Rodin - intitulada a Porta do Inferno. Estabeleceu um diálogo com a tragédia da Barragem de Fundão em Brumadinho/MG. Após refletir para elaboração da instalação que irá compor a mostra, criou a tensão entre o que restou das histórias e o que seria possível reconstruir – a esperança e o recomeço. A partir dessa materialidade do espaço ou até mesmo do próprio recomeço, o refazer de histórias e de páginas que foram apagadas do diário sucumbido pela lama, portais de narrativas que se foram, elaborou – a partir deste material poético – uma instalação com mil desenhos de topografias. Eles têm a intenção de redesenhar o locus geográfico interno de cada indivíduo.
Mais sobre os artistas
John Nicholson - nasceu nos EUA no ano de 1951. Reside no Rio de Janeiro desde o ano de 1977.Durante os anos 1980-1984, 1992-1994, e 2002-2004 foi professor na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro. Nos anos 1981 até o presente, fez 38 exposições individuais no Brasil, Suíça, Alemanha, França e Mônaco. Participou de inúmeras Coletivas no Brasil, na Suíça e em Paris, e das Feiras de Arte de Genebra, Dresden, Mônaco, Zurich, Shanghai e Beijing.
Marco Cavalcanti - pintor, fotógrafo experimental e designer gráfico. Sua trajetória tem se pautado pela formação da imagem em matéria, calcada pela pesquisa em acidentes estéticos. Busca suas possibilidades estéticas no contato intencional com o inconsciente. Ao se deparar com a presença dele acontece a ordem do caos. Este fenômeno que pouco se conhece é fundamental na obra do artista, que sabe lidar com ele através de processos seletivos posteriores. Prolongar essa sensação é algo inerente a postura estética do artista.
Marilou Winograd – Cairo – Egito. Chegou ao Rio de Janeiro em 1960. Formação em Artes no Centro de Arte Contemporânea, IBA, Instituto de Belas Artes e EAV, Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro. Participa de exposições individuais, coletivas, congressos, seminários no Brasil e no exterior - 1971/2019.
É uma das curadoras do projeto Zona Oculta – entre o publico e o privado, com 350 artistas mulheres - 2004/14, do projeto Acesso Arte Contemporânea com 179 artistas visuais - 2011/19. Publicou o livro ‘O silêncio do branco’, em 2004, relato visual da sua viagem a Antártica num contraponto com a sua obra. Participou de exposições no Brasil, França, Itália, Alemanha e Argentina.
Mário Camargo – artista brasileiro do Rio de Janeiro. Participou das seguintes exposições: Espaço Cultural dos Correios ; Galeria de Arte IBEU ; FCC Memorial de Curitiba; Galeria Candido Portinari em Roma; Aeroporto Jonh Kennedy, New York; XI Florence Biennale of the International Contemporany Art ; Ver[a]cidade - Centro Cultural Caixa Econômica , Rio de Janeiro; Museu Nacional de Bellas Artes Santiago do Chile.
Recebeu os seguintes prêmios de viagem: Concurso Latino Americano de Pintura – no Chile, New York - Estados Unidos, patrocínio da Varig e Paris - Intercâmbio Cultural França / Brasil, Patrocínio Rotary Club Internacional.
Mark Engel – É um artista brasileiro-americano. Nascido no Rio de Janeiro, mora e trabalha em Nova York. Ele recebeu seu BFA da Parsons School of Design. O trabalho de Mark foi apresentado em exposições coletivas e individuais desde 1993 em locais como MAR (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil), Arte em Geral (Nova York, NY), Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro) , Brasil), Universidade do Norte do Texas (Denton, TX), e Austin Museum of Art (Austin, TX) entre outros. Mark faz um extenso trabalho criativo e pioneiro com pinturas digitais a partir de 1995. Sua obra apresenta questões de abstração versus representação, práticas de arte contemporânea, história da arte, questões sociais / políticas e humor. Seu trabalho está incluído em coleções privadas e institucionais no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.
Pedro Paulo Domingues - Nasceu no Rio de Janeiro, formou-se em Arquitetura e frequentou a Oficina de Escultura do Ingá sob a orientação de Haroldo Barroso. Recebeu os seguintes prêmios: Prêmio Icatu – residência na Cité des Arts – Paris - 1998, Prix UNESCO pour la Promotion des Arts – Paris - 1993, melhor exposição do ano realizada na Galeria do Ibeu “Tempo” – 1992, 28º premiação do Instituto de Arquitetos do Brasil – melhor projeto de residência unifamiliar – 1992, Menção pela escultura ‘Objeto Escroto’ no Salão Carioca de humor – 1989. Realizou exposições individuais na Galeria Coleção de Arte, Espaço Cultural Sergio Porto, Galeria Durex, Centro Cultural São Paulo, Galeria Ibeu, Paço Imperial e Projeto Macunaíma, entre outros. Participou de exposições individuais e coletivas na França, Finlândia, Alemanha e Áustria.
Petrillo – Realizou diversas individuais, entre as quais: Centro Cultural da UFMG – Belo Horizonte - MG (2002), Fundação Cultural de Blumenau-SC (2003), Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro –RJ (2003), Centro Cultural Bernardo Mascarenhas – Juiz de Fora – MG (2004), Museu Chácara D. Catarina – Cataguases – MG (2004), Landscapes - Galeria Almacén – Rio de Janeiro – RJ (2004), Centro Cultural Candido Mendes – Rio de Janeiro – RJ (2005), Museu de Arte Moderna de Resende – RJ (2005), Fundação Don André Arcoverde- Valença –RJ Homenageado (2006), Centro Cultural da Justiça Federal – Rio de Janeiro –RJ (2007), Consórcio de Arte Buenos Aires - Argentina (2008), Centro Cultural Candido Mendes - Rio de Janeiro - RJ (2014) e Geometria do Lugar – Galeria Almacén – Rio de Janeiro - RJ (2016). Participa também de diversas coletivas.