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novembro 2, 2019

Daisy Xavier na Anita Schwartz, Rio de Janeiro

A artista carioca ocupa todos os espaços expositivos da galeria com obras inéditas, pinturas e desenhos feitos com pó de ferrugem, folha e fios de latão, ácido, petróleo, e uma grande instalação com fios de metal e uma casa de vespas.

Anita Schwartz Galeria de Arte inaugura no próximo dia 6 de novembro a exposição Sobre como as coisas caem, com mais de 20 obras inéditas da artista Daisy Xavier, que ocuparão todos os espaços expositivos do prédio na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Com curadoria de Ulisses Carrilho, as obras que integrarão esta que é a maior individual da artista na galeria são pinturas em grande formato, em pó de ferrugem, folha e fios de latão, ácido, petróleo e ecoline sobre tela, desenhos com diversos materiais (muitas vezes os mesmos usados nas pinturas), monotipias, e 100 esculturas em metal, articuladas, que junto com uma casa de vespa formam uma grande instalação que leva o nome da exposição.

Daisy Xavier conta que o título foi extraído de uma passagem do livro “Sete lições de física”, do físico italiano Carlo Rovelli, que aborda a questão da queda passando pela teoria da relatividade de Einstein até a física quântica. A artista explica que este conceito “rege todas as obras”. Ela ressalta que se interessa pela questão da queda em um “sentido muito amplo”, tanto do ponto de vista da física, “que vem desde Aristóteles”, até a “corrosão em toda a materialidade, pele, metais e mesmo no percurso de vida e morte, das coisas irem caindo, se despencando, se corroendo”. “Me interessa muito também a queda no mundo contemporâneo, dos valores, dos sentidos, dos parâmetros que estão se perdendo, como se o futuro tivesse um vetor de as coisas irem se dissolvendo. Vamos precisar pensar com novos parâmetros, porque os já estabelecidos, de espaço e tempo, estão se dissolvendo”, afirma. Ela ressalta que vê a dissolução “com bom sentido, sem nostalgia nenhuma. “O que dá problema é se resistir à evolução”, afirma. “Me interessa mais acolher, do que resistir à questão da queda”. Para ela, “o grande problema não são as coisas se dissolvendo, mas as resistências que se faz a isso. Esse movimento regressivo tenta conter essas mudanças. Dessa resistência vem racismo, vem todo esse excesso de religiosidade, esse moralismo que estamos vivendo. A arte é uma bela ferramenta para acompanhar essas quedas, essas mudanças”.

ARQUITETURA HUMANA X ARQUITETURA DOS INSETOS

O disparador dessas questões se deu quando a artista acompanhou a construção de seu ateliê em meio à mata na serra de Petrópolis. Lá pode confrontar a arquitetura humana, em sua grandiosidade de malhas de ferro, de tijolos, de cimento e vidros, com a natureza e seus “sons, insetos, aves, folhas e sementes diferentes, outra configuração de espaço”. Ao ver uma colmeia de vespas que caiu de um fogão de lenha, se maravilhou com sua arquitetura que “parecia um edifício de Gaudí”. “Delicada, precisa, sutil, oposta à monumentalidade da arquitetura humana”. “Uma muito forte, violenta, e a outra muito delicada... as duas me interessam, mas o detonador dessa exposição foi essa experiência de construção e descobertas”, explica.

INSTALAÇÃO METÁLICA, VAZADA

Presentes desde o início de sua trajetória, em 1992, as redes inicialmente tricotadas, com fio de metal por grandes agulhas de madeira, e depois feitas com ponto de rede de pesca, perderam sua ondulação, e representação quase topológica, gravitacional. O fio de metal, agora esticado, forma ângulos precisos, em esculturas vazadas, transparentes, que, articuladas, compõem uma grande instalação, em três dimensões. “Tem uma coisa mais geométrica, aguda, e me interessa essa agudez desses ângulos”, conta. “Agora é um trabalho mais arquitetônico”. Mas de alguma forma a exposição atual se relaciona com aquelas redes primordiais, que eram penduradas: “Impressionante como tem muita relação com esta agora, muita coisa virada pelo avesso”. “O que gosto é que é vazado e leve, meio flutuando, preparado para cair”, observa.

Daisy Xavier incorpora em suas obras sobre tela e papel folhas de metal em que previamente desenhou com petróleo e aplicou ácido, em seu próprio ateliê. Uma placa de metal, matriz de uma gravura criada em um laboratório a partir de uma fotografia de uma semente, estará exposta individualmente. Além de servir de demarcador e isolante nos desenhos em metal antes de receber o ácido, o petróleo é usado também em seus trabalhos como pigmento. “O petróleo emerge das profundezas, está no fundo. Aristóteles dizia que as coisas caíam do mundo ideal no céu porque buscavam o centro do universo, que era o centro da Terra...”. “Além de ser um elemento de disputa internacional, e atrair um poder em torno de si, o petróleo é um fóssil e isso me interessa”, afirma.

Posted by Patricia Canetti at 8:35 AM