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outubro 28, 2019
Raymundo Colares no Minas Tênis Clube, Belo Horizonte
No próximo dia 4 de novembro, o Centro Cultural Minas Tênis Clube inaugura a exposição Raymundo Colares: de volta à estrada, uma mostra panorâmica do artista, com curadoria da crítica de arte Ligia Canongia.
Raymundo Colares nasceu na cidade de Grão-Mogol, em Minas Gerais, em 1944, e faleceu jovem e tragicamente, em Montes Claros, em 1986. No curto período de sua carreira artística, no entanto, legou ao país uma das mais importantes obras de nossa história da arte.
Sua trajetória se inicia na década de 1960, momento em que a influência da pop art norte-americana começa a atuar no Brasil. Para muitos, inclusive, esse foi o movimento que deflagrou o período contemporâneo nas artes visuais. Muitos artistas, porém, ainda mantiveram laços estreitos com o construtivismo moderno anterior, alternando a produção entre a Nova Figuração, evanescente no país, e as vanguardas geométricas históricas.
A obra de Raymundo Colares se situa justamente nesse embate, ou nessa fusão, mesmo que os princípios construtivos prevaleçam sobre os sintomas pop. Os trabalhos de Mondrian, Delaunay, Duchamp e dos futuristas italianos foram cruciais em sua formação, mas sua obra já proclamava a presença da iconografia urbana e da exuberância cromática da pop art.
O universo urbano e popular em Colares se concentrou na figura do ônibus, para ele um ícone-síntese da vida e do dinamismo nas grandes metrópoles. O ônibus do artista se aplaina na superfície da pintura, dando ênfase à visualidade fragmentada e à dinâmica dos cortes geométricos. Para ele, interessava fragmentar e reconstruir esses estilhaços, de forma pulsante e caótica, quebrando inteiramente a unicidade da imagem. A ideia da multiplicação e da deformação das coisas em movimento trazia à luz uma das questões-chave de sua obra, que é a ideia de tempo e velocidade.
As telas do artista tentam congregar planos disjuntivos, fragmentos de espaço que parecem se colidir, pedaços de imagens captadas ao acaso e em movimento. No entanto, são obras paradoxalmente estruturadas, articuladas, e a complexidade desse jogo é que constitui o grande desafio da obra.
Na exposição do Centro Cultural Minas Tênis Clube, serão exibidas 30 obras, entre pinturas, gravuras, guaches e os famosos livros de artista denominados Gibis. Serão apresentados também o diário pessoal do artista, onde ele anotava pensamentos, poemas e estudos de trabalhos, além de farto material documental sobre sua vida e obra. Um segmento da exposição ainda exibirá três trabalhos realizados por outros artistas brasileiros, em sua homenagem: uma pintura de Wanda Pimentel e vídeos autorais do artista Marcos Chaves e do cineasta Sergio Wladimir Bernardes.
GIBI – 50 anos
Os Gibis constituem um segmento especial na trajetória de Colares, pois são uma extensão de sua prática e pensamento na pintura, mas, dessa vez, tornados tridimensionais. Livros de artista – como se chama o gênero em geral –, os Gibis completam agora 50 anos, pois o primeiro é datado de 1969. E esta exposição será uma oportunidade exclusiva de se comemorar seu aparecimento na arte brasileira.
Feitos com recortes de papel, os Gibis são articuláveis de acordo com o virar das “páginas” pelo espectador, mostrando, a cada virada, outra configuração. Assim, são vários trabalhos em um só, surpreendendo o olhar a cada novo recorte e a cada nova cor.
No local, o público terá três réplicas de Gibis originais para manusear e se encantar com seus desdobramentos.