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outubro 25, 2019
Sonia Andrade na Athena - Botafogo, Rio de Janeiro
Galeria Athena abre um novo espaço dentro do casarão para receber produções diversas de Sonia Andrade, como trabalhos dos anos 70 e obras recém-produzidas e inéditas
"O lugar a que se volta é sempre outro” ocupará três salas onde estarão dispostas produções de diferentes momentos e percursos da carreira da artista
A partir de 26 de outubro, a Galeria Athena apresenta a exposição individual de Sonia Andrade: O lugar a que se volta é sempre outro, com curadoria de Raphael Fonseca, pesquisador e, no momento, curador do MAC Niterói. A mostra contará com cerca de 30 obras em sua maioria nunca antes mostradas, que ocuparão três espaços expositivos da galeria. Os trabalhos abordam não só as diferentes relações com a noção de tempo, como também criações de diferentes momentos da pesquisa de Sonia Andrade, de 1972 aos dias atuais.
Reconhecida por seu pioneirismo na videoarte no Brasil, Sonia Andrade ganhou renome internacional pelas produções precursoras em um momento ditatorial no país. Suas obras, de diferentes formatos, têm percorrido exposições ao redor do mundo, bem como integram coleções notáveis. Para a exposição na Galeria Athena, a curadoria optou por ressaltar a produção artística que extrapola o suporte audiovisual. O público poderá acessar os diversos meios pelos quais a artista se debruçou, e continua a trabalhar, ao longo de sua carreira, como desenhos, fotografias, objetos e instalação. A mostra não se comporta como uma retrospectiva, mas sim como um panorama heterogêneo de obras da artista, uma vez que muitas das que estarão em exposição foram finalizadas neste ano.
O título da exposição parte de um trecho do poema "Là-bas, je ne sais où…” (em tradução livre significa “Lá, não sei onde”), publicado em 1944, de Alvaro Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. O poema sugere uma reflexão sobre um futuro próximo para qual se vai e do qual não é possível voltar. “O lugar a que se volta é sempre outro” reflete a exposição de Sonia Andrade: trabalhos revisitados e finalizados neste ano que ganharam novos olhares, significações e entendimentos.
Trabalhos em exposição
Distribuídas em três ambientes, as obras configuram um conjunto heterogêneo das linguagens com as quais Sonia trabalha, havendo alguns pontos de interseção entre elas. A artista concebe seus trabalhos como unidades não fechadas, mas como partes, possíveis de tecer relações e sentidos entre elas, muitas vezes não tão evidentes.
A sala Cubo receberá a instalação Naufrágio. Produzida em 2019, a obra é uma caixa de vidro transparente, semelhante a um aquário, composta por pedaços de vidro, peças inteiras e cacos de um conjunto de porcelana japonesa. Provenientes da coleção da artista, os objetos são típicos do ambiente doméstico como xícaras e louças, que nesta instalação estão como naufragados em vidros quebrados. Nas palavras do curador Raphael Fonseca, “a instalação parece estar em diálogo com a tradição do memento mori: imagens alegóricas que nos lembram da morte. Passa o tempo, ficam os objetos, esvai a água e nos tornamos pó.”
Ocupa as salas da Casa a série “Sob os céus”. A artista recortou fotografias produzidas na Europa entre os anos de 1979 e 1984 com a notável presença do céu. As composições formam um mosaico de céus que pode ser visto como inventário de cores, temperaturas e desenhos. Como sugere o curador, “coladas uma ao lado da outra, essas fotografias parecem compor um calendário e podem se aproximar da noção de um diário: coleções de céus, coleções de dias e noites”. A noção de coleção e de passagem do tempo também está explícita em produções recentes como no trabalho “às contas...” que está em exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro até novembro de 2019. Nesta proposta, contas de serviços básicos pagas e acumuladas entre 1968 e 2018, como luz, gás, telefone, televisão, internet e celular estão presas a correntes e dispostas em uma sala do MAM.
Cerca de 20 desenhos nunca antes mostrados também estarão na exposição "O lugar a que se volta é sempre outro”. Datados da década de 1970, período em que a artista se destaca na produção audiovisual, os desenhos são composição de linhas, manchas e roldanas que estão entre guaches e grafites. Pode-se reconhecer formas mecânicas de um projetor ou frames de um filme, imagens formadas através de traços de luz sobre um objeto. Curiosamente, esses objetos de estudo de alguns dos desenhos reaparecem em seus vídeos, como em Intervalo (1983). Suporte dos rolos de filmes na projeção, as roldanas desenhadas por Andrade correlacionam-se com a sugestão de um movimento fixado no tempo-espaço. Tempo, ação e movimento são temáticas que retornam constantemente nos trabalhos de Sonia Andrade.
Sonia Andrade (Rio de Janeiro, 1935. Vive e trabalha no Rio de Janeiro). Sua trajetória artística começou ao lado de um grupo vanguardista também formado por Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Ivens Machado, Leticia Parente, Paulo Herkenho, Ana Vitória Mussi e Miriam Donowski. Com uma produção pioneira em vídeo nos anos 1970, Sonia Andrade agrega em sua trajetória a arte-correio, o desenho, a fotografia e a instalação. Participou de duas Bienais de São Paulo, 14ª (1977) e 32ª (2016), bem como de exposições de renome nacional e internacional: Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou - Centro Cultural Banco do Brasil, Elles@centrepompidou - Musée National d’Art Moderne/Centre National de Création Industrielle, WACK! Art and the Feminist Revolution (exposição itinerante pelos E.U.A e Canadá), I Concettuali di Rio - Centro d’Arte e Cultura Il, Mostra de Arte Experimental de Filmes Super 8, Audio-Visual e Video-Tape - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras. Suas obras fazem parte de importantes coleções no Brasil e no Exterior, como, por exemplo: Centre Pompidou - Paris, França, The Getty Institute - Los Angeles, E.U.A., Sammlung Verbund - Viena, Áustria e Pinacoteca do Estado de São Paulo.