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outubro 23, 2019
Ding Musa + Deborah Engel na Raquel Arnaud, São Paulo
Ding Musa apresenta Parêntesis, sua terceira individual na Galeria Raquel Arnaud. A mostra, com texto crítico assinado pelo curador Josué Mattos, traz não só as reconhecidas fotografias do artista, mas também instalações, objetos e vídeos, consolidando um percurso de investigação por diferentes suportes, conforme o artista vem fazendo ao longo dos últimos 10 anos.
Numa definição formal, os parêntesis no caso funcionam para o olhar. “Isso porque a mirada de quem passar pelas obras deve se lançar a sobrevoos, sem perder de vista pousos detidos em partes, com poucos pontos de fuga”, observa Mattos. Segundo o crítico, o trânsito livre do olhar é interrompido por imagens de muros e chãos que comentam algo central na produção do artista: a condição complexa da unidade de construção e suas negociações com sistemas extrativistas promotores de escassez de trabalho, terra e moradia.
A instalação Unidade de construção espacial, formada por uma caixa de som que amplifica (com o uso de um microfone) o tic tac de um relógio de parede, recebe o visitante. A obra faz parte de uma série em diferentes suportes intitulados “Unidade de construção”, onde o artista utiliza metáforas para discutir sobretudo a construção estética em arte. A aparente formalidade encontrada nas fotografias desta série, que retratam elementos da construção civil, é fruto de uma investigação sobre o espaço da arte ou as formas de conhecer e acessar conhecimento através da estética. Segundo o artista, são uma investigação sobre a autoconstrução do homem em geral. “Trabalho muito esse conceito, uso várias metáforas e, para falar disso, junto materiais de construção, grides, grades, cubos tridimensionais, coisas comuns e recorrentes entre muitos artistas que me influenciam, como os minimalistas americanos. Essa coisa aparentemente mais formal tem uma carga política forte”.
Em paralelo à exposição de Ding Musa, a Galeria Raquel Arnaud, em parceria com a carioca Portas Vilaseca, realiza no segundo andar a exposição “Vertigem”, de Deborah Engel. A artista apresenta relevos fotográficos inéditos. As imagens sobrepostas por colagens são feitas a partir de fotografias das fachadas de edifícios icônicos da cidade de São Paulo, cuja arquitetura se faz presente no cotidiano da metrópole.
Para Diego Matos, que assina o texto da exposição, “Vertigem, termo que titula a exposição, é a tradução plástica e visual de Engel para a experiência do movimento espacial que vivenciamos ou elaboramos cotidianamente na cidade. É mais uma investigação em que a artista repete o uso dos dispositivos fotográficos e do procedimento preciso de colagem para construir imagens que trazem a matéria “espaço” enquanto imperativo de experimentação”, afirma.
Segundo a artista, “a exposição é um convite ao visitante a repensar a sua relação com a cidade ao ter o seu olhar dragado e ao mesmo tempo expelido pelas imagens que o acompanha nas andanças pela cidade de São Paulo”, comenta.