|
outubro 23, 2019
Vicente de Mello na dotART, Belo Horizonte
A fotografia vai além da arte de registrar um momento. Traz o olhar do artista, um recorte da realidade e técnicas específicas. A partir do dia 26 de outubro, o público da capital mineira terá a oportunidade de conferir uma exposição fotográfica de Vicente de Mello, na dotART galeria. Intitulada Op. VT, a mostra traz registros com efeitos de revelação que distorcem a realidade.
Op. VT é a junção de duas séries do artista: Vermelhos Telúrios e Opere, em um total de sete obras. Ambas trazem um registro documental que foi transformado, por meio de técnicas laboratoriais, de modo a alterar a interpretação.
Em determinadas obras foi feita uma solarização, em outras inversão e ação monocromática. Na ocasião da inauguração, haverá visita guiada com o artista e também o lançamento do livro-caixa Cinematógrafo.
Série Vermelhos Telúrios
Será possível conferir três obras da série Vermelho Telúrios, as paisagens “Floresta Temperada - Ilha de Chiloé”, “Mata Atântica I – Paraty” e “Galheta II – Florianópolis”, essas últimas duas também estão expostas na sala Desvio para o Vermelho, instalação de Cildo Meireles, no Inhotim, e são as cópias número 2 de uma série de cinco fotos.
Vicente de Mello explica que a inspiração para as fotografias foram os memoráveis slides dos anos de 1960, com lugares e monumentos pitorescos adquiridos em viagens turísticas. Com o passar do tempo, esses slides sofreram deteriorações químicas e ficavam com aspecto avermelhado. “Trouxe essa ideia para a série. São paisagens que registrei na década de 1990, com uma Rolleiflex, utilizando filme preto e branco, e impressas na cor magenta, quase sanguínea. O resultado foi obtido em um jogo de laboratório de filtragem, onde tirei todos os filtros, mantendo apenas o vermelho”, acrescenta o artista.
Até mesmo as molduras dessas obras trazem as referências às cartelas de slides. São molduras escultóricas, brancas, que transformam as fotografias em gigantes slides de 120X120cm. Os registros trazem uma visão “de fora para dentro” da paisagem e têm sempre algum ângulo subvertido, no intuito de gerar ruídos na imagem.
Série Opere
Já na série Opere, quatro fotografias serão expostas: “A danação de Fausto”, “Ainda”, “Os sinos de Corneville” e “O navio fantasma”. Elas foram registradas quando Vicente de Mello fazia uma residência em Bruxelas, em 2013, e buscou recortes de uma parte moderna da cidade como cenário imaginário de suas óperas favoritas. “Estava no capital da União Europeia, onde os prédios eram novos, metálicos, com muito vidro e aço. Foi o lugar perfeito, uma mistura de drama e dureza ideais para contextualizar grandes óperas”, contextualiza o artista.
Assim como em Vermelhos Telúricos, as imagens foram captadas analogicamente em preto e branco. No momento da revelação, Vicente de Mello fez a inversão de positivo para negativo, transpondo um drama ainda maior para as obras.
Livro-Caixa Cinematógrafo
Além da exposição de fotos, o público poderá ver e adquirir um livro-caixa com obras do autor. Trata-se do Cinematógrafo, uma caixa que funciona como instalação para decoração. Ao todo são 12 fotografias da série Herbário que podem ser trocadas de acordo com o gosto de cada um. As imagens foram registradas ao longo dos anos, desde 2000, com uma Rolleiflex e o artista fez um processo de solarização em cada uma delas.
Sobre Vicente de Mello (1987)
Fotógrafo, curador e ensaísta. Formou-se em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá e especializou-se em História da Arte e Arquitetura no Brasil, pela PUC Rio de Janeiro. Trabalhou no Departamento de Fotografia do MAM - RJ, de 1989 à 1998.
Tem sua pesquisa fotográfica desde 1992, com a criação de séries que tratam do condição da imagem como narrativa de própria historia da fotografia e do cinema, como o universo pictórico é fruto de suas próprias referências , entre elas , apresentadas nas exposições: Brasília Utopia Lírica, no Paço Imperial do Rio de Janeiro (2013), Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (2015) e no SESC Santo André - SP (2017); Silent City, no Espace Photographie Contretype, Bruxelas, Bélgica; Ultramarino CCBB-RJ, pelo Prêmio Centro Cultural Banco do Brasil Contemporâneo (2015) e Pli selon pli , painel de azulejos para o SESC 24 de maio, São Paulo (2017).
Entre suas curadorias destacam-se: Fotograma Invisível, na Galeria Antonio Berni, RJ(2002); Indelével, Villa Aymores, RJ (2016); Magic Square, individual da artista Anastácia Hatziefstratiou, Atelier Fidalga, SP (2019).
Publicou o livro Áspera Imagem (2006) que acompanhava a exposição moiré.galáctica.bestiário / Vicente de Mello – Photographies 1995-2006, apresentada na Oi Futuro, RJ, na Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, vencedora do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor exposição de fotografia do ano de 2007.
Em 2014 publicou Parallaxis, editora Cosac Naify, um compêndio sobre suas séries fotográficas e o livro de artista O Cinematógrafo. Foi apontado no livro Fotografia na arte brasileira século XXI, editora Cobogó (2013).