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outubro 23, 2019
Eva Castiel, Fanny Feigenson e Fulvia Molina na Oswald de Andrade, São Paulo
Instalação e eventos paralelos recuperam história de mulheres judias sexualmente exploradas nos bairros paulistanos do Bom Retiro e Santa Ifigênia no início do século XX. Abertura em 26 de outubro de 2019, sábado, às 14 horas. Entrada gratuita
A Oficina Cultural Oswald de Andrade, equipamento da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, recebe a exposição [IN]visíveis – Polacas, memória e resistência, das artistas Eva Castiel, Fanny Feigenson e Fulvia Molina e curadoria de Márcio Seligmann-Silva. A realização da instalação inédita, mesa-redonda com especialistas, performances, além de visitas guiadas pelo bairro do Bom Retiro, recupera a história de mulheres judias, trazidas para a América do Sul em um esquema de exploração sexual e tráfico de pessoas.
No espaço expositivo da Oficina, elementos físicos remetem às ideias de sepultamento, ausência e esquecimento dessa trajetória. Os visitantes também têm acesso a áudios e textos inéditos que resgatam as memórias dessas mulheres e apontam como seu esforço pode se relacionar com a atualidade, quando diversos apagamentos estão sendo engendrados pelo governo federal, e servir como exemplo para futuras gerações.
A história das “Polacas” constitui uma marca da resistência feminina, escrita através de vestígios que sobrevivem ao apagamento de suas memórias. Narra o destino de jovens mulheres judias que deixaram seus lares em vilarejos da Europa Oriental e vieram para a América do Sul desde o final do século XIX até meados do século XX, iludidas por promessas de casamento e trabalho, impulsionadas a deixar para trás uma história de miséria e perseguições étnicas. Ao desembarcarem em cidades como Rio de Janeiro, Santos e Buenos Aires, viram-se presas a um ciclo de exploração sexual, comandado por cafetões e traficantes de pessoas ligados à organização criminosa Zvi Migdal.
Devido ao fato da prostituição ser condenada pelo judaísmo, essas mulheres acabaram sendo excluídas pela própria comunidade religiosa, foram impedidas de frequentar as sinagogas e de serem enterradas nos cemitérios judaicos tradicionais. Privando-as de um funeral digno, de extrema importância para sua tradição.
O termo “polacas” tinha um tom depreciativo, tornando-se sinônimo de prostituta judia, ao referir-se a suas origens. Foram estigmatizadas ainda pelas políticas higienistas do então governador Adhemar de Barros, que criou uma zona de meretrício na Rua Itaboca, hoje Rua Césare Lombroso, no Bom Retiro, bairro que, desde aquela época, era habitado predominantemente por imigrantes.
As “Polacas”, no entanto, resistiram, conservando sua identidade cultural, religiosa e étnica, suas próprias associações de ajuda mútua: como escolas, sinagogas, associações culturais e, até mesmo, seus próprios cemitérios como o de Inhaúma, no Rio de Janeiro, Chora Menino, em São Paulo, e o de Cubatão. Fizeram de sua cultura um modo de resistência.
No dia 26 de outubro, a abertura da exposição conta com dois outros eventos: às 15h, a artista Vic Sales realiza uma perfomance poética sobre a mulher contemporânea e, às 15h30, o Coral Tradição do ICIB - Instituto Cultural Israelita Brasileiro faz apresentação de músicas do cancioneiro iídiche.
Eventos paralelos
Mesa-redonda no dia 9 de novembro, das 14 às 17 horas, com as artistas (Eva Castiel, Fanny Feigenson e Fulvia Molina) e os debatedores: Enio Rechtman, Mariana Esteves (pesquisadora), Moisés Rabinovicci (jornalista), Paula Janovitch (antropóloga) e o curador da expo Márcio Seligmann-Silva. No Memorial da Resistência/Estação Pinacoteca, Largo General Osório, 66, Luz;
Passeio com as artistas e a antropóloga Paula Janovitch no dia 30 de novembro, às 10 horas, aos lugares de memória das Polacas no Bom Retiro. Saída: Oficina Cultural Oswald de Andrade. Duração: 2 horas.
Artistas
Eva Castiel vive e trabalha em São Paulo. Artista multimídia transita entre a instalação, a videoarte e arte pública. Iniciou sua carreira nos anos 1980 e faz parte do grupo Casa Blindada desde 2000. Realizou diversas exposições individuais no Brasil e em países como Alemanha, Israel, Hungria, Nova York e China, entre elas: “Infinita”, Valu Oria Galeria, em São Paulo, 2007, “A Oeste, O Muro”, Ruine Der Franziskaner Klosterkircher, Berlim, 2002 e “Kalk”, Galeria Barsikow, em Berlim, 2000. Participou de várias exposições coletivas, entre elas, “Corpoinstalação”, no SESC Pompéia, São Paulo, em 2009, “Paralela Bienal de São Paulo”, em 2006, “Genius Loci”, no Instituto Maria Antônia, em São Paulo, 2002, “São Vito”, no artecidadezonaleste, São Paulo, 2002 e “Nach Westen Die Mauer”, em Lutherkirche, em Colônia, 2000.
Fanny Feigenson, vive e trabalha em São Paulo. É pós-doutoranda em Psicologia Clínica na PUC SP com Peter Pal Pelbart, Doutora em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo. Trabalha como professora no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 1975. Foca sua produção em diversas mídias, vídeos e instalações. Na área de Artes Visuais, estudou desenho com Yolanda Mohalyi e pintura com Samson Flexor; e instalações, vídeos e intervenções com Carlos Fajardo. Realizou exposições em São Paulo, Colônia, Berlim, Chicago e Eslovênia, onde foi premiada na Bienal, com a criação de um video. Em 2016, realizou a videoinstalação e intervenção sonora “Por Um Triz”, no Museu Judaico e no Centro Cultural Unibes, em São Paulo, onde debateu o momento contemporâneo nas cidades e suas diversidades. Em 2018 realizou exposição “Harpia XXI” no Centro Histórico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Fulvia Molina tem sua atenção voltada à memória política e social do país, principalmente nos aspectos ligados à violação dos direitos humanos, à condição feminina, à exclusão social e à migração. É Mestre em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP, fez residência artística na Faculdad de Bellas Artes da Universidad Politécnica de Valencia, Espanha, no Centre de Diffusion Press Papier de Québec, Canadá e no Frauen KunstForum em Hagen, Alemanha. Seus trabalhos em pintura, gravura, objetos, fotografia, áudios e vídeos procuram expressar as diferentes camadas da realidade se fragmentando e se refletindo, sendo percebidas a cada momento como atualização da consciência. Tem participado de exposições internacionais Berlim, Essen, Hagen, Québec e Madrid, entre outras cidades. É coautora e organizadora dos livros “MemoriAntonia – A Alma dois Edifícios” e “Hiatus – Arte, Memória e Direitos Humanos na América Latina”.