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outubro 20, 2019

Vik Muniz na Nara Roesler, São Paulo

Em Superfícies, o artista apresenta série inédita de trabalhos que discutem modos distintos de vivenciar produções artísticas, questionando as relações com a experiência física da obra de arte em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia digital

A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Superfícies, terceira mostra individual de Vik Muniz na sede paulista da galeria. Composta por uma série inédita de trabalhos, todos únicos e produzidos neste ano, a mostra abre ao público no dia 24 de outubro, 2019.

[scroll down for English version]

Ao mudar-se para os Estados Unidos em 1983 e ver de perto obras que conhecia somente através de reproduções, Vik Muniz percebeu a enorme diferença que há entre interagir fisicamente e analisar a arte através de réplicas. Estes dois modos distintos de vivenciar as produções artísticas pautaram o trabalho realizado pelo artista ao longo das três décadas de sua carreira.

Por meio de sua obra o artista convida o espectador a desbravar territórios ambíguos, repletos de dualidades: entre imagem e sua contrapartida física, entre mente e matéria, percepção e fenômeno. Este "exercício metafísico", segundo o artista, desafia nossos sentidos e nossa percepção a traçar novos caminhos através de uma realidade em constante mudança, obrigando-nos a reconhecer a fragilidade de nossas certezas.

A necessidade constante de reconfiguração da realidade decorrente do advento das novas mídias é aproveitada por Vik Muniz para romper os paradigmas que tradicionalmente polarizaram a pintura e a fotografia, resgatando a relação entre o material e o pictórico presente em sua produção desde o início de sua carreira – em uma de suas primeiras séries, Best of Life, o artista desenhava fotografias famosas a partir de sua própria memória para então fotografar os desenhos e exibir as imagens resultantes.

As superfícies pintadas, tradicionalmente um campo epistemológico reservado exclusivamente aos pintores, ao serem continuamente visualizadas e reproduzidas ao longo da história, tiveram a sua aura material diminuída. Suas cores, contexto ou composições são facilmente lembradas, em detrimento da textura de sua superfície e sua fisicalidade.

Em sua nova série, o artista subtrai novamente os elementos concretos que diferenciam uma pintura de uma fotografia através de uma imagens em camadas. Os trabalhos a serem apresentados em Superfícies exploram duas abordagens recorrentes em seu vocabulário artístico: ora um material em busca de significado, ora uma imagem em busca de uma renovação física.

Embora as obras utilizem a pintura tanto em seu processo quanto em seu conceito, elas não são pinturas – ainda assim, enquanto imagens fotográficas de obras que existem de forma autônoma e física, elas também não são abstrações. São imagens fotográficas não reprodutíveis que, de forma ambígua, valorizam simultaneamente as superfícies materiais e conceituais da pintura e necessitam da presença física do observador para obterem êxito.

Esta negociação entrópica de perda de material e ganho virtual leva o espectador a questionar sua relação com a experiência física da obra de arte em um contexto em que as imagens e a própria ideia de realidade são mediadas pela tecnologia digital, hoje onipresente em nosso cotidiano.

Vik Muniz

A obra de Vik Muniz questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate, e até lixo, o artista meticulosamente compõe paisagens, retratos e imagens icônicas retiradas da história da arte e do imaginário da cultura visual ocidental, propondo outros significados para esses materiais e para as representações criadas.

Para a crítica e curadora Luisa Duarte, “sua obra abriga uma espécie de método que solicita do público um olhar retrospectivo diante do trabalho. Para ‘ler’ uma de suas fotos, é preciso indagar o processo de feitura, os materiais empregados, identificar a imagem, para que possamos, enfim, nos aproximar do seu significado. A obra coloca em jogo uma série de perguntas para o olhar, e é nessa zona de dúvida que construímos nosso entendimento”.

Muniz também se destaca pelos projetos sociais que coordena, partindo da arte e da criatividade como fator de transformação em comunidades brasileiras carentes, criando, ainda, trabalhos que visam dar visibilidade para grupos marginalizados na nossa sociedade.

exposições individuais recentes
• Vik Muniz, The Sarasota Museum of Art (SMOA), Ringling College of Art and Design, Sarasota, EUA, 2019
• Imaginária, Solar do Unhão, Museu de Arte Moderna de Salvador (MAM-BA), Salvador, Brasil, 2019
• Vik Muniz: Verso, Belvedere Museum Vienna, Viena, Áustria, 2018
• Afterglow – Pictures of Ruins, Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017

exposições coletivas recentes
• Naar Van Gogh, Vincent van GoghHuis, Zundert, Países Baixos, 2018
• Troposphere – Chinese and Brazilian Contemporary Art, Beijing Minsheng Art Museum, Pequim, China, 2017
• Look at Me!: Portraits and Other Fictions from the ”la Caixa” Contemporary Art Collection, Pera Museum, Istambul, Turquia, 2017
• Botticelli Reimagined, Victoria & Albert Museum, Londres, Reino Unido, 2016
• Lampedusa, 56 th Venice Biennale, Veneza, Itália, 2015

seleção de coleções institucionais
• Centre Georges Pompidou, Paris, França
• Guggenheim Museum, Nova York, EUA
• Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha
• The Tate Gallery, Londres, Reino Unido


Galeria Nara Roesler | São Paulo presents Superfícies [Surfaces], Vik Muniz’s third solo exhibition hosted by the gallery. Featuring a brand-new series of unique works produced this year, the show opens to the public on October 24, 2019.

After moving to the United States in 1983 and being in close contact with artworks he had known only in reproductions, Muniz realized the enormous difference between interacting with artworks physically and engaging with them via replicas. These two distinct ways of experiencing art have informed the artist’s practice throughout his career that spans three decades.

His work invites the spectator to explore ambiguous territories loaded with dualities: between the image and its physical counterpart, between mind and matter, between perception and phenomenon. According to the artist, this ‘metaphysical exercise’ challenges our senses and perceptions by breaking new ground through a reality that is constantly changing, forcing us to acknowledge the fragility of our certainties.

The constant need to reconfigure the reality that emerges with the advent of new media is seized by Muniz as a way of breaking the paradigms that traditionally polarize painting and photography, reviving the relationship between the material and the pictorial, which recurs in his work since the start of his career. In one of his first series, Best of Life, the artist drew famous photographs by memory then photographed the drawings and exhibited the resulting images.

Painted surfaces —which are traditionally an epistemological field reserved exclusively for painters—have been repeatedly viewed and reproduced throughout history, weakening their material aura. Their colors, context or compositions are easily remembered rather than the texture of their surface or physicality.

In his new series, the artist once again removes the concrete element that differentiates a painting from a photograph by representing it via a layered image. The artworks presented in Superfícies explore two approaches that are recurrent in Muniz’s artistic vocabulary: a material in search of meaning or an image in search of physical renovation.

Even though the artworks use painting both in their process and concept, they are not paintings. Yet, as photographic images or artworks that exist in an autonomous and physical way, they are also not abstractions. The results are non-reproducible photographic images, which, in an ambiguous way, simultaneously value the material and conceptual surfaces of painting and require the observer’s physical presence in order to be successful.

This entropic negotiation between material loss and virtual gain encourages viewers to question their relationships with the physical experience of the work of art, within a context where images and the idea of reality itself are mediated by digital technology, which is currently omnipresent in our day-to-day.

vik muniz

Vik Muniz’ body of work explores the limits of representations within visual arts, twinning his production with an urge to grasp the current state of affairs in the world. Using raw materials such as thorn paper, cotton, sugar, chocolate or waste, the artist meticulously composes landscapes, portraits or other depictions offering alternative representations and subsequently, understandings of these materials and the images they render.

According to the critic and curator Luisa Duarte, ‘his work demands a retrospective gaze from the public. In order to ‘read’ his photos, one must question and analyse the process of making, the materials used, as well as identify the original image, so as to attain the meaning of the image. Vik’s work brings into play a series of questions for our ‘regard’ and creates a space for doubt, which is where we build our understanding.’

In tandem with his artistic practice Vik Muniz has headed social projects that rely on art and creativity to aid low-income communities in Brazil, having also produced artworks which aim to give visibility to marginalized groups in society.

recent solo exhibitions and projects
• Vik Muniz, The Sarasota Museum of Art (SMOA), Ringling College of Art and Design, Sarasota, USA, 2019
• Imaginária, Solar do Unhão, Museu de Arte Moderna de Salvador (MAM-BA), Salvador, Brazil, 2019
• Vik Muniz: Verso, Belvedere Museum Vienna, Vienna, Austria, 2018
• Afterglow – Pictures of Ruins, Palazzo Cini, Venice, Italy, 2017

recent group exhibitions
• Naar Van Gogh, Vincent van GoghHuis, Zundert, The Netherlands, 2018
• Troposphere – Chinese and Brazilian Contemporary Art, Beijing Minsheng Art Museum, Beijing, China, 2017
• Look at Me!: Portraits and Other Fictions from the ”la Caixa” Contemporary Art Collection, Pera Museum, Istanbul, Turkey, 2017
• Botticelli Reimagined, Victoria & Albert Museum, London, UK, 2016
• Lampedusa, 56 th Venice Biennale, Venice, Italy, 2015

permanent collections [selected]
• Centre Georges Pompidou, Paris, France
• Guggenheim Museum, New York, USA
• Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Spain
• The Tate Gallery, London, UK

Posted by Patricia Canetti at 4:57 PM