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outubro 17, 2019
Erika Verzutti na Fortes D'Aloia & Gabriel - Galeria, São Paulo
A Fortes D'Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar Carne Sintética, nova exposição de Erika Verzutti na Galeria. Esta é a primeira mostra da artista no Brasil inteiramente dedicada a seus relevos, conjunto de trabalhos que desde 2013 tornou-se eixo central de sua obra. Pautadas pela experiência tátil, estas “esculturas de parede” arquitetam complexas relações entre pintura e escultura, forma e sensorialidade. Aqui, Verzutti apresenta cerca de quinze obras inéditas em bronze, papel machê e argila, articulando referências diversas à história da arte com sua percepção acerca de fenômenos contemporâneos que vão do Instagram à dimensão ética e política da comida nos dias de hoje.
Este cruzamento de tópicos de naturezas distintas – marca frequente em sua produção – evidencia o desejo da artista em embaralhar, e mesmo confundir, a hierarquia usual com que estes assuntos costumam ser abordados. Em Picasso com Morangos, por exemplo, há a improvável presença de uma figura do artista espanhol incrustada sobre a superfície da obra, lembrando um bolo de chocolate com pequenos morangos esculpidos em bronze. Já em Carne Sintética, o flerte entre a fisicalidade da comida e o gesto escultórico resulta em uma matéria amorfa, cujos tons de rosa evocam o trabalho do canadense Philip Guston. A capacidade da forma de “camuflar-se” em alimento suscita discussões urgentes, ao passo em que os recursos naturais do planeta caminham para o esgotamento e multiplicam-se formas artificiais de confecção da carne e afins.
Em texto publicado no catálogo da exposição do Centre Pompidou, em Paris, José Augusto Ribeiro discorre: “Os relevos incitam olhares táteis, mais que curiosos, engajados em perceber aquilo que o contato físico atestaria, à medida que exploram e inspecionam, em movimentos oculares, um volume de cima abaixo, de um canto a outro, no vaivém de ondulações e desníveis e, em algumas ocasiões, entre matérias distintas.”
Este desejo da artista pelo esgarçamento da experiência sensorial em sua obra encontra ressonância na era de hiperestímulos da internet. Apelidados de slimes, uma série de pequenos trabalhos da exposição fazem referência à febre dos vídeos em que crianças modelam gomas viscosas e multicoloridas, em vídeos tutoriais nas redes sociais. Trabalhos como Typing and Typing e Indígena excedem os limites dos estímulos visuais, provocando um verdadeiro “formigamento do cérebro” na medida em que acionam e provocam outros insuspeitados campos sensoriais do corpo humano.
A disposição semi-randômica dos trabalhos no espaço expositivo aponta, também, para a condição da imagem na contemporaneidade. Em conjunto, signos e referências múltiplas atravessam o visitante, de maneira simultânea e veloz, quase vertiginosa. No entanto, na contramão de um mundo mediado (e planificado) pelas telas, Verzutti nos oferece imagens cuja fruição, em última instância, demandam a presença física.
Em 9 de novembro, a Editora Cobogó promove o lançamento da edição brasileira do catálogo da exposição de Erika Verzutti no Centre Pompidou, publicado originalmente em fevereiro deste ano em Paris. Além do ensaio de José Augusto Ribeiro, citado acima, o livro conta ainda com textos de Christine Macel, Chris Sharp e uma cronologia assinada por Fernanda Brenner que percorre a trajetória de Verzutti desde 1992 até os dias atuais.
Erika Verzutti nasceu em São Paulo em 1971, onde vive e trabalha. É graduada em desenho industrial pela Universidade Mackenzie (São Paulo, 1991) e fez mestrado em Fine Arts no Goldsmiths College (Londres, 2000). Dentre suas individuais recentes, estão: Centre Pompidou (Paris, 2019), sua primeira retrospectiva na Europa; Venus Yogini, Aspen Art Museum (Aspen, 2019); Cisne, Pepino, Dinossauro, Pivô (São Paulo, 2016); Swan with Stage, SculptureCenter (Nova York, 2015); e Mineral, Tang Teaching Museum (Saratoga Springs, NY, 2014). Também se destacam suas participações em: 57ª Bienal de Veneza (2017), 32ª Bienal de São Paulo (2016), 34º Panorama da Arte Brasileira (São Paulo, 2015), Carnegie International (Pittsburgh, 2013), 9ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2013) e 11ª Bienal de Lyon (2011). Em novembro deste ano, Verzutti apresenta ainda uma instalação inédita na Bienal de Coimbra, em Portugal. Sua obra está presente em diversas coleções ao redor do mundo, como: Carnegie Museum of Art (Pittsburgh), Centre Pompidou (Paris), Solomon R. Guggenheim Museum (Nova York), MAM-SP (São Paulo), Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras.