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outubro 17, 2019
Ela disse: porque os vestidos transbordam de vento na A2 + Mul.ti.plo, Petrópolis
Célia Euvaldo, Elizabeth Jobim, Ester Grinspum, Renata Tassinari e Sandra Antunes Ramos expõem na A2 + Mul.ti.plo, no Vale das Videiras, em Petrópolis
Única galeria de arte contemporânea em Petrópolis, a A2 + Mul.ti.plo inaugura exposição com obras de Célia Euvaldo, Elizabeth Jobim, Ester Grinspum, Renata Tassinari e Sandra Antunes Ramos. A mostra Ela disse: porque os vestidos transbordam de vento destaca a diversidade e extensão do uso do papel na trajetória de cinco conceituadas artistas brasileiras. A coletiva será inaugurada no dia 19 de outubro, às 19h, no Vale das Videiras, e fica em cartaz até 14 de dezembro. A entrada é franca.
Na mostra “Ela disse: porque os vestidos transbordam de vento”, as cinco artistas apresentam obras que se destacam tanto pela densidade como pela economia de elementos, como num poema (o título foi retirado da antologia do poeta português Herberto Helder). Célia Euvaldo traz desenhos feitos com nanquim sobre papel chinês, realizados entre 1988 e 2011. Em superfícies opacas, monocromáticas, a presença do corpo e da textura surge em pinceladas largas, feitas de uma vez só, ora na horizontal, ora na vertical, criando um padrão desconcertante. “O traço oscila, derrapa, a tinta respinga, e vou acatando o imprevisto, inclusive a reação do papel, que às vezes enruga, contrai, e assim não é só um fundo, mas um elemento com um papel ativo”, diz Célia. “São obras de pinceladas únicas e, portanto, de um risco imenso. São trabalhos de grande entrega”, acrescenta Maneco Müller, sócio da galeria.
Ester Grinspum apresenta um conjunto de pinturas a óleo sobre papel, de 2017. São pequenas formas desenhadas com pincéis de caligrafia japonesa, com traços que refletem a busca pela subjetividade e a relação entre espaços e vazios, questões importantes na produção da artista. “A forma circular está sempre muito presente no meu trabalho e esses desenhos também são círculos, ou quase círculos, que me remetem à perspectiva cíclica do tempo”, diz ela. “Um tom de incompletude ilumina as telas de Ester, que trazem também pinceladas únicas. É como se só o primeiro passo fosse desvelado”, diz Maneco.
Partindo da observação de pequenas pedras, os desenhos de Elizabeth Jobim reunidos na mostra foram produzidos em acrílica e nanquim sobre papel, entre 2000 e 2004. “Eles trazem minha percepção das formas, dos ângulos e do espaço, e são feitos de várias partes justapostas. Eu desenhava na parede com uma técnica aguada, por isso têm escorridos”, diz ela. Para Maneco, a potência dos trabalhos em exposição consiste justamente neste ambiente aguado que constrói e faz fluir, propor uma espécie de negociação, por vezes tensa, com o acaso. “Elizabeth tem um gesto muito vivo, muito presente, mas nestes trabalhos, ela incorpora o imprevisto. A tinta escorre pelo papel e se transforma em arte”, comenta Maneco.
Nos trabalhos de Renata Tassinari se veem planos geometrizados por cores, resultado de uma pesquisa que a artista paulistana faz desde 2003. Os desenhos foram produzidos em 2018 com óleo e grafite sobre papel. Foi a partir das pinturas que já fazia sobre placas acrílicas e sobre madeira que Renata começou a pensar o trabalho com o papel. “A paleta cromática dos desenhos tem muito a ver com a das minhas pinturas, inclusive a fresta branca, que é o respiro da obra, o risco por onde corre o ar”, conta Renata. A cor é, sem dúvida, o eixo de gravidade dos trabalhos, e cada uma delas se afirma por si, como persona única e autônoma, comenta Maneco. “Renata demonstra domínio absoluto ao colocar lado a lado cores improváveis, que muitas vezes têm uma convivência nada pacífica. O belo e o estruturado nascem a partir de uma insubordinação das cores”, diz ele.
Sandra Antunes Ramos apresenta pinturas em pequenos formatos, que misturam tinta a óleo e costura sobre papel. Nas obras, ela trabalha tanto a questão pictórica, com blocos de cor, sua marca registrada, como rompe com isso, com linhas fluidas costuradas, que remetem ao corpo feminino. Pequenas e delicadas, as pinturas resultam de um processo de fazer lento e minucioso. “O papel é mais frágil do que a tela. Além disso, uso papéis finos, transparentes, que marcam, vincam, reagem mais. A tinta a óleo, mesmo no papel, demora muito para secar e uso diversas camadas. Depois vem a costura, que é lenta também”, conta Sandra. “São obras delicadas, tanto no formato quanto no acabamento, que buscam equilibrar o geométrico e o orgânico, a rigidez e a fluidez”, explica Maneco Muller.
Todos os trabalhos reunidos na mostra “Ela disse: porque os vestidos transbordam de vento” serão apresentados pela primeira vez na cidade de Petrópolis.
Sobre Célia Euvaldo
Célia Euvaldo começou a expor em meados da década de 1980. Suas primeiras exposições individuais foram na Galeria Macunaíma (Funarte, Rio de Janeiro, 1988), no Museu de Arte Contemporânea (São Paulo, 1989) e no Centro Cultural São Paulo (1989). Ainda em 1989, ganhou o I Prêmio no Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte. Desde então tem exposto regularmente em mostras individuais e coletivas em galerias e instituições. Participou, notadamente, da 7ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca, Equador (2001) e da 5ª Bienal do Mercosul (2005). Realizou exposições individuais, entre outros, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1995, 1999 e 2015/16), na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2006), no Centro Cultural Maria Antonia (São Paulo, 2003 e 2010), no Museu de Gravura da Cidade de Curitiba (2011) e no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2013). Em 2016, participou da mostra coletiva Cut, Folded, Pressed & Other Actions na David Zwirner Gallery, em Nova York. Em 2017 realizou exposições individuais no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e Ribeirão Preto, e, em 2018, na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo.
Sobre Elizabeth Jobim
Desenhista, pintora, gravadora. Realiza estudos de desenho e pintura com Anna Bella Geiger (1933), Aluísio Carvão (1920-2001) e Eduardo Sued (1925), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), entre 1981 e 1985. Cursa comunicação visual na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), a partir de 1981. Nessa universidade, entre 1988 e 1989, faz curso de especialização em História da Arte e da Arquitetura no Brasil. Entre 1990 e 1992, faz mestrado em Belas Artes na School of Visual Arts, em Nova York. A partir de 1994, leciona no Ateliê de Desenho e Pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), no Rio de Janeiro. Entre suas mais importantes exposições, estão Blocos (2013), no MAM do Rio de Janeiro, Em Azul (2010), na Estação Pinacoteca de São Paulo, e Endless Lines (2008), na Lehman College Art Gallery, em Nova York. Participa da coletiva Art in Brazil (1950-2011), no festival Europalia, em 2011, em Bruxelas, e da 5ª Bienal do Mercosul, em 2005.
Sobre Ester Grinspum
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, fez sua primeira exposição individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 1981, e a seguir no Museu de Arte Contemporânea (USP) e na Galeria Funarte Macunaíma no Rio de Janeiro, em 1983. A partir de então, fez várias exposições individuais no Brasil e exterior, entre elas na Galeria Paulo Figueiredo (SP); na Galerie Lil'Orsay, Paris; na Galeria Marilia Razuk (SP); no Paço Imperial do Rio de Janeiro; no Musée de Langres, Paris; na Pinacoteca do Estado de São Paulo e na Galeria Transversal e no Instituto Tomie Ohtake. Participou de inúmeras exposições coletivas, como Como vai você, Geração 80?; Bienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel, em Buenos Aires, 1986; I e II Bienal de Havana, 1984 e 1986; XX Bienal Internacional de São Paulo, 1989; Tabula Rasa, Bienna, Suíça, 1991; UltraModern – The Art of Contemporary Brazil, Washington, 1993; Bienal Brasil Século XX, 1994; Selections Brazil, Drawing Center, Nova Iorque, 1995; I Bienal do Mercosul, 1996; Stedelijk Museum, Schiedam, Holanda, 1996; Escultura Urbana, Alger, 2003; ARCOMadrid, Solo Project, 2012. Foi contemplada com a Bolsa de Trabalho European Ceramic Work Centre em s'Hertogenbosch, Holanda, em 1995; a Bolsa Virtuose e de Residência na Cité des Arts, em Paris, em 1997 e 1998; e a Bolsa Vitae de Artes, em 2002, entre outras. Possui trabalhos em coleções como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brooklyn Museum (Nova Iorque), Fonds National d'Art Contemporain (França) e Coleção Patricia Phelps de Cisneros.
Sobre Renata Tassinari
Formada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em 1980, onde foi aluna de grandes mestres como Carlos Fajardo e Dudi Maia Rosa, Renata Tassinari inicia sua produção com pinturas que mesclam elementos figurativos à gestualidade característica da pintura da Geração 80. A figuração vai lentamente desaparecendo e dá vez a uma pesquisa marcante de cor, que se transforma na marca de seus trabalhos. A artista, porém, não dissocia cor e matéria - Tassinari repensa ambas a partir da relação com o suporte e também ao agregar à superfície da tela elementos díspares (como papelão e madeira) e diferentes técnicas. A artista tem dezenas de mostras individuais e coletivas em seu histórico, incluindo a retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake, SP, em 2015 e mostras solo no MAM RJ, MAM SP e Paço Imperial.
Sobre Sandra Antunes Ramos
Nasceu em 1964, em São Paulo, SP, onde vive e trabalha. Sua trajetória em arte visual começou tardiamente. Dedicou-se por cerca de dez anos à atividade de educadora. Posteriormente, migrou para as artes gráficas, onde realizou diversos desenhos de livros e capas. Como designer, teve uma larga experiência na diagramação e no desenho de livros de arte. Em 2014, realizou sua primeira individual, na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, no Rio de Janeiro, com curadoria de Alberto Tassinari. Em 2016, realizou uma exposição individual na Galeria Millan, voltando a expor lá em 2017, em uma coletiva no espaço Anexo Millan. Participou de exposições coletivas, como paratodos 2 (2017), na Carpintaria, Rio de Janeiro, e a mostra impávido colosso (2019), n’A Mesa, também na capital carioca.