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outubro 14, 2019
Glauco Rodrigues na Danielian Galeria, Rio de Janeiro
Danielian Galeria abre as portas na Gávea com individual de Glauco Rodrigues, com mais de 45 obras, e realiza lançamento de livro sobre o a genialidade do artista
Dono de um estilo único que faz uma junção de personagens e situações históricas de diferentes tempos, Glauco Rodrigues sempre mostrou em sua arte um grande potencial crítico. Apesar de sútil, o artista – a partir da inspiração no movimento antropofágico – exibe em suas obras inspirações altamente atuais como a questão indígena, a vida urbana e o carnaval, além da repreensão à ditadura militar criando obras que possuem um tom satírico às mazelas do Brasil, mesmo após 15 anos de sua morte.
Com curadoria de Denise Mattar, a mostra Crônicas anacrônicas - e sempre atuais – do Brasil reúne mais de 45 obras de diversas séries do artista, como “Pau-Brasil” (1974), “São Sebastião”(1980), “Madona Brasileira” (1982), “A Sambista” (1979) e “Árvores” (1991). São telas com foco ácido e bem-humorado de Glauco, outra característica do mesmo, que nunca mostrou um caráter dramático em suas peças.
Denise define suas composições como verdadeiras encenações, mesclando imagens de amigos, referências à Eckhout, Debret, Theodore De Bry, Almeida Jr ou Pedro Américo, numa carnavalização canibal desfilando sobre telas brancas, pintadas com requintes de precisão.
Ainda segundo a curadora, no “mis en place” de Glauco Rodrigues estão: a carne substanciosa da arte engajada, cortada com a precisão do hiperrealismo; as flores da pop-art, aromatizadas com a pimenta da sensualidade; os frutos da academia, picados com a faca do sarcasmo; as folhas da pesquisa, rasgadas com a mão. Feita a preparação, ele unta tudo com muita inteligência; tempera com emoção, leva ao forno da ditadura e finaliza com pitadas de ironia. É um artista desconcertante, o melhor cronista da “geleia” geral brasileira, capaz de mostrar o pior e o melhor de nosso país, com o claro entendimento de que essas polaridades ocorrem simultaneamente”
Os fundos brancos, presentes até o fim da ditadura nas obras de Glauco, dão lugar ao estilo tropical em uma nova fase da sua carreira. O Rio de Janeiro continua a ser constantemente celebrado pelo artista com o uso de mais personagens como banhistas e passistas agora abusando da cor mas ainda com seu sarcasmo peculiar. Ele inclui nas peças bananas, mangas, abacaxis e cajus, além de São Sebastião, padroeiro de sua cidade natal (Bagé - RS) e também do Rio. A exposição enfatiza ainda a grande importância deste artista brasileiro que também faz parte com mais de 130 obras da coleção de Gilberto Chateaubriand, um dos maiores colecionadores de arte do país.
Simultaneamente com o Rio, o artista é homenageado na Turquia
Na mesma data a XVI Bienal de Istambul também homenageia Glauco Rodrigues: com curadoria de Nicolas Bourriaud, um dos mais respeitados críticos internacionais da atualidade, uma Sala Especial dedicada à Glauco será apresentada no evento este mês. O curador já havia demonstrado interesse na obra do artista. Em 2013 ele apresentou um significativo conjunto de obras dele na exposição L’Ange de L’Histoire, na École de Beaux-Arts de Paris.
Livro sobre Glauco Rodrigues reforça a grandiosidade do artista
Destacando a genialidade de Glauco Rodrigues, no dia 21 de setembro, a Danielian Galeria faz ainda o lançamento do livro que homenageia a vida e a obra de Glauco Rodrigues. O livro faz uma revisitação histórica do artista, apresentando a importância e relevância atemporal de sua obra pictórica. Além de textos de época como os de Roberto Pontual (1978) e Frederico Morais (1986), a publicação apresenta dois textos contemporâneos da autora do livro, Denise Mattar, e uma entrevista com o crítico francês Nicolas Bourriaud, feita por José Teixeira de Brito. O livro apresenta duas importantes séries feitas por Glauco nos anos 1970: A carta de Pero Vaz de Caminha e A Lenda do Coati-Puru. O intenso trabalho de pesquisa contou com a assessoria de Norma de Stellita Pessoa, viúva de Glauco. Em 16 de outubro é a vez da badalada Livraria da Vila em São Paulo receber o lançamento do livro.
Sobre o artista
Falecido em 2004, Glauco Rodrigues é natural de Bagé, Rio Grande do Sul, mas passa a viver no Rio em 1958 e se encanta com a cidade. Considerado um dos mais importantes pintores da arte brasileira, Glauco começou seu trabalho em 1940 na gravura. Já na década de 1960, ele passa uma temporada de três anos em Roma e volta para o Brasil já com uma forte influência no movimento antropofágico brasileiro.
Durante o Regime Militar, o artista encontra no Rio a criatividade que precisa para tornar sua crítica sutil, tanto que nunca foi censurado na época da Ditadura.
Fora do Brasil Glauco participou de importantes mostras internacionais como a Bienal de Paris em 1961 e a XXXII Bienal de Veneza, em 1963 . Em Roma, ainda em 1963, expôs na Galeria d'Arte della Casa do Brasil. Realizou exposições individuais em Munique, Stuttgart e Frankfurt. No Brasil foi premiado em 1967 na IX Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Em 2011, houve a redescoberta do artista com a exposição O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues, apresentada pela Caixa Cultural, nas unidades de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Outro componente importante desse fluxo foi o lançamento, em 2015, do filme Glauco do Brasil, dirigido por José Teixeira de Brito. O documentário traça, de forma precisa e calorosa, o percurso do artista, desde o início de sua carreira, até a abertura da mostra L’Ange de L’Histoire, na França.