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outubro 7, 2019
Alice Shintani na Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto
A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, de 12 de outubro a 9 de novembro de 2019, em sua sede de Ribeirão Preto, as exposições Black Stream de Alice Shintani e Foco Variável de Marcus Vinicius. Alice Shintani ocupará a Sala 1 com pinturas produzidas entre 2007 e 2019, período que marca os doze anos de trabalho com a Galeria Marcelo Guarnieri. Na Sala 2, Marcus Vinicius apresentará trabalhos da série "Listrados", produzidas entre 2013 e 2019 e "Livros", produzidas entre 2018 e 2019.
Formada em ciência da computação pela UNICAMP, Alice Shintani foi montanhista e integrou, no início dos anos 90, a equipe pioneira de trabalho que desenvolveu e implementou a Internet banda-larga no Brasil. Quando fez a transição para o campo da arte, iniciada por cursos e grupos de estudos orientados por artistas estabelecidos, manteve-se instigada a pensar em estratégias de democratização de meios e linguagens e a estabelecer relações de horizontalidade através de sua pesquisa. O espírito da criação e do compartilhamento que norteou a internet em seu início – que hoje está certamente muito mais próximo das práticas de vigilância e controle – e os efeitos que a internet banda-larga podia causar em um país continental como o Brasil pós-ditadura, nos ajudam a situar o trabalho que Shintani desenvolveu posteriormente com tintas, pincéis, linhas de costura e brigadeiros.
Depois de doze anos de produção, a artista apresenta em “Black Stream” pinturas oriundas de séries diversas em uma instalação que ocupa duas grandes paredes da galeria. Poderão ser vistas obras das séries “Quimeras” (2007), “Bakemono” (2010) ou “Lindoya” (em andamento desde 2008), entre outras, dispostas sobre um fundo preto que contrastará com os suaves e rebaixados tons que as compõem. Quando não eram pintadas diretamente sobre as paredes dos espaços expositivos, como em “Éter” (2009) e “Estacionamento” (2008), as obras eram pensadas em conjunto para lugares específicos. A marcação do fundo preto em “Black Stream” funciona, portanto, como uma indicação de que as obras se apresentam em um momento distinto de suas origens, em um encontro que une muitos passados em nosso presente. A tinta de parede utilizada e a paleta de tons escolhida por Alice nestas pinturas partiam de um desejo da artista de “falar mais baixo para também poder ouvir” e a escala de suas telas, muitas vezes próximas à escala humana, também era pensada como uma maneira de aproximação com o espectador. Convocar a cor preta em 2019 pode sinalizar também uma espécie de ponderação em relação a esse esforço pela comunicação e contato que tanto move Alice: doze anos depois, como se estabeleceram essas trocas? Talvez seja um bom momento para considerar os ruídos, comuns em qualquer processo de interlocução – refletir sobre a disseminação descontrolada das fake news na internet no Brasil de agora, pensando na trajetória da artista, pode ser um bom paralelo a ser traçado.
As obras mais atuais, produzidas neste ano de 2019, são os guaches que dão forma à plantas amazônicas, exuberantes em suas cores vivas, flutuam também sobre fundos pretos. Dialogam de maneira mais direta com as “Sanfoninhas” que Shintani vem produzindo desde 2015, apresentadas dois anos depois em “Menas”, sua terceira individual na Galeria Marcelo Guarnieri. Essas obras fazem parte de um processo em que a artista subia o tom de sua paleta de cores, incluindo o vermelho e o verde-bandeira por exemplo, ao mesmo tempo em que reduzia a escala de suas pinturas, experimentando em guache desde 2015 em “Zika” ou organizando sua produção e venda de brigadeiros em um tabuleiro ambulante com o “Óia Brigadeiro”. Nas “Sanfoninhas”, Shintani explora materialmente algo que já investigava em seus trabalhos mais antigos: distorções, ampliações ou sintetizações de imagens do mundo e da memória em formas geométricas e campos de cores. São dobraduras em papel que guardam formas que se movem, contraindo-se e expandindo-se, imagens em transição que se configuram como uma maneira da artista se aproximar de uma realidade cada vez mais difusa e incompreensível.
Alice Shintani integra a publicação “100 painters of tomorrow”, da editora Thames & Hudson (2014) e foi contemplada com o prêmio-aquisição no “II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea” com a série Bakemono (2013). Durante a edição da sp-arte/2017, Alice Shintani foi vencedora do Prêmio de Residência com a instalação “Menas” e passou três meses na Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido). Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se as seguintes instituições: Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Poznán, Polônia; Centro Cultural São Paulo, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Museu Rodin, Salvador, Brasil; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil. Em 2019, convidada pela equipe do Programa CCBB Educativo de São Paulo, propôs a intervenção “Compro Ouro” no centro histórico da cidade. Recentemente, participou do programa de residência no Complexo Hospitalar do Juquery, em meio a denúncias de ligações da instituição com o período da ditadura militar.