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outubro 3, 2019
Espaço N.O. 40 anos ̶ Arquivos de uma experiência coletiva no MARGS, Porto Alegre
MARGS inaugura exposição sobre os 40 anos de criação do Espaço N.O.
Concebido para difusão e intercâmbio entre outros meios artísticos, o Espaço N.O. constitui uma das mais importantes e históricas experiências de espaço coletivo e autogestionado em Porto Alegre
Em funcionamento entre 1979 e 1982, na Galeria Chaves, a iniciativa privilegiou práticas artísticas experimentais como instalação, performance, arte-postal, fotocópias, carimbos e publicações de artistas Exposição do MARGS resgata o legado do Espaço N.O. a partir de arquivos que registram e ajudam a ativar a sua memória, articulando no espaço expositivo documentos, publicações e imagens fotográficas
O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) inaugura na próxima quarta-feira, 9 de outubro de 2019, das 18h às 21h, a exposição “Espaço N.O. Arquivos de uma experiência coletiva, que apresenta um resgate de uma das mais importantes, emblemáticas e históricas experiências de espaço coletivo, multidisciplinar e autogestionado mantido por artistas em Porto Alegre.
Com pesquisa e curadoria de Fernanda Medeiros, curadora-assistente do MARGS, e do diretor-curador Francisco Dalcol, a mostra traz um diferencial: estrutura-se a partir de um acervo de arquivos, articulando no espaço expositivo dezenas de documentos, publicações e registros fotográficos.
Além desses itens apresentados na Galeria Iberê Camargo, a exposição complementa-se por três estratégias que se interrelacionam, de modo a ampliar e intensificar a experiência proporcionada ao público: 1) apresentação de itens da mostra já à entrada do museu, nas paredes do foyer, 2) disponibilização de publicações relacionadas na sala do Núcleo de Documentação e Pesquisa do MARGS para serem manuseadas pelo público e 3) uma resposta da mostra em exibição “Acervo em movimento”, que por meio do seu modelo de rotatividade de obras, passa a apresentar agora em sua nova virada trabalhos de artistas atuantes no Espaço N.O. pertencentes ao acervo do museu. (Leia os detalhes mais abaixo e no texto curatorial).
Em funcionamento entre 1979 e 1982, em uma sala da Galeria Chaves, no Centro de Porto Alegre, o Espaço N.O. — Centro Alternativo de Cultura foi criado e administrado por um grupo de artistas que se reuniu com o objetivo de promover um ponto de encontro, divulgação e legitimação de manifestações artísticas mais experimentais, estabelecendo também intercâmbios com artistas de fora. Nesse sentido, enfatizavam a investigação da linguagem e o emprego de novos meios, suportes, materiais e possibilidades expressivas, como a arte-postal, a arte-xerox, a performance e as instalações; ao mesmo tempo em que exploravam a interrelação das artes visuais com a dança, o teatro, a música e a literatura. Além de exposições, o Espaço N.O. realizou atividades como leituras dramáticas, peças teatrais, projeções de filmes, debates e palestras, atividades musicais, concertos, cursos de expressão corporal, dança e teatro.
Entre os artistas visuais que atuaram no Espaço N.O. estão Ana Torrano, Carlos Wladimirsky, Cris Vigiano, Heloísa Schneiders da Silva, Karin Lambrecht, Mário Röhnelt, Milton Kurtz, Regina Coeli, Ricardo Argemi, Rogério Nazari, Sergio Sakakibara, Simone Michelin Basso, Telmo Lanes e Vera Chaves Barcellos. Alguns eram remanescentes dos grupos Nervo Óptico (atuante entre 1976 e 1978, Lanes e Vera Chaves) e do KVHR (atuante entre 1977 e 1980, Röhnelt e Kurtz), enquanto os demais procediam do Instituto de Artes da UFRGS ou eram artistas vinculados ao teatro, à música e a experiências em arte-postal e arte-xerox.
Nas palavras dos curadores: “Além de divulgar as produções individuais — e por vezes coletivas — de seus integrantes e de outras manifestações artísticas da cena local, o Espaço N.O. também priorizava estabelecer contato e intercâmbios com outros circuitos artísticos, em escala nacional e internacional. Assim, promoveu exposições e ações de artistas como Bené Fonteles, Carmela Gross, Genilson Soares, Hélio Oiticica, Hudinilson Jr., Jayme Bastian Pinto Júnior, Marcello Nitsche, Paulo Bruscky, Regina Vater, Ulises Carrión e 3NÓS3 (Hudinilson Jr., Mario Ramiro e Rafael França). Também trouxe para palestrar em Porto Alegre relevantes nomes da crítica de arte no Brasil, a exemplo de Aracy Amaral e Frederico Morais, que reconheciam e endossavam a produção experimental. E entre as ações realizadas fora, destacam-se as exibições coletivas apresentadas pelo grupo na 16ª Bienal de São Paulo e na Pinacoteca do Estado São Paulo, ambas em 1981”, escrevem os curadores. Outro aspecto destacado pela curadoria é o objetivo de estabelecer intercâmbios com outros meios: “Por fazerem do Espaço N.O. um modo de atuação, seus participantes estabeleceram também um modo de funcionamento, com estratégias para exibir, circular e intercambiar. Muito disso vinha da própria experiência e princípios da arte-postal. Exposições de artistas de fora se tornavam possíveis e viáveis porque, em diversos casos, os artistas não vinham a Porto Alegre. Os trabalhos a serem apresentados eram enviados ao Espaço N.O. pelos Correios, com instruções para montagem e apresentação”, escrevem no texto curatorial.
A exposição “Espaço N.O. no Arquivos de uma experiência coletiv ” procura resgatar e pontuar o legado dessa breve e intensa história, a partir de arquivos que registram e ajudam a ativar essa memória. Segundo os curadores:
““Espaço N.O. a os Arquivos de uma experiência coletiva” é uma exposição que procura resgatar e pontuar o legado dessa breve e intensa história, a partir de arquivos que registram e ajudam a ativar essa memória. Ao levarmos em conta o próprio caráter processual da produção em questão — na qual muitas vezes obra e documento se indiferenciam — e o fato de que, a rigor, a experiência consistiu mais em um espaço de atuação e exibição do que em um acervo de objetos artísticos, a curadoria fez uma opção ao privilegiar os seus arquivos do que está colocado em causa na exposição”, escrevem no texto curatorial. Esse arquivo reunido procede em sua maior parte do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Vera Chaves Barcellos, que guarda a documentação original constituída ainda durante as atividades do grupo. Complementam a exposição arquivos de artistas atuantes no Espaço N.O., além de itens do acervo documental do Núcleo de Documentação e Pesquisa do MARGS, cuja sala onde funciona no museu também integra a exposição, ao apresentar documentos e materiais manuseáveis à disposição do público. Nas palavras dos curadores:
“Outras duas estratégias também se interligam à exposição, ampliando-a. Enquanto no foyer apresentamos já à entrada do museu alguns documentos sobre o Espaço N.O., na Sala Aldo Locatelli a exposição “Acervo em movime to”, que opera com um modelo de rotatividade de obras do acervo, responde à mostra documental sobre o Espaço N.O. complementando-a com a entrada de trabalhos de artistas atuantes que pertencem à coleção do MARGS. São obras, contudo, que não correspondem precisamente ao período do Espaço N.O., mas que são representativas da presença desses artistas no acervo do museu”, escrevem os curadores.
Os curadores também ressaltam o investimento em uma exposição do tipo documental. “Este é mais um projeto curatorial da atual gestão a explorar uma certa arqueologia do arquivo, a partir da mobilização de documentos que têm sido levados e articulados no espaço expositivo como modo de enriquecer e intensificar as experiências proporcionadas pelas nossas exposições. Desta vez e neste caso, atribuindo aos arquivos um protagonismo total, mas não sem o desafio que essa opção traz quanto a realizar uma exposição sobre um episódio da história artística somente e a partir de seus documentos”, escrevem os curadores, escrevem no texto curatorial.