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outubro 1, 2019
Christian Cravo no Tomie Ohtake, São Paulo
A exposição Mariana, homônima ao livro de Christian Cravo, com curadoria de Adriana Cravo, chega a São Paulo depois de passar por Salvador e Fortaleza, ambas na Caixa Cultural. Nesta segunda individual do fotógrafo baiano no Instituto Tomie Ohtake (a anterior foi Nos Jardins do Éden, em 2011), estão reunidas 26 fotografias impressas em fine art, que retratam as memórias humanas da maior tragédia ambiental do país: o rompimento da barragem de Fundão, que vitimou fatalmente 19 pessoas e desabrigou centenas de famílias em Mariana - Minas Gerais, em 2015. “A escolha das imagens, assim como o título que cada uma delas recebeu, teve a intenção de gerar empatia e aproximar o público do cotidiano roubado das pessoas que ali viviam até o momento da tragédia", explica a curadora.
Durante três dias, nos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, Cravo registrou os vestígios da destruição causada pela onda de mais de 2,5 metros de lama e rejeitos de minério que assolou a região. Objetos, roupas e calçados enlameados, retratos cobertos pelo barro e casas destroçadas testemunham a tragédia. Segundo Cravo, a sua tentativa foi trazer a esse trabalho uma memória iconográfica que o tempo congelou. “São objetos que pararam naquele instante em que a lama chegou. O momento eterno que representa o fim daquela sociedade”, resume.
Para Bené Fonteles (artista e coordenador do Movimento Artistas pela Natureza), em seu texto sobre as imagens, destaca que Cravo “não só dá testemunho a dor, mas a transcendência entre a beleza estética que pontua a tragédia e a arte que não pode prescindir do imenso de uma verdade poética... não são simplesmente fotografias destes rastros e restos... mas, a revelação do extraordinário quase místico de pedaços do que ficou oculto no íntimo das casas mineiras que pareciam esperar a eminente tragédia... não o registro do sinistro, mas um sentido vasto de abandono que no ‘oculto do mistério se escondeu’ (Caetano Veloso) .... retratos de uma Minas que não só dói, mas incomoda no roto retrato e dele vaza mais do que lama e do que caos... vaza do avesso uma imensa, triste, solidão...”.
Paralelamente, a família Cravo é homenageada no Move Cine Arte, festival internacional de cinema dedicado exclusivamente à exibição de filmes de arte e sobre arte. Os curadores Steve Bisson (Itália) e Andre Fratti Costa (Brasil) escolheram o filme Cravos (106'00’’, Brazil | Brasil, 2018), de Marco Del Fiol, para abrir a mostra com pré-sessão no dia 17/09, às 9h10, na FAAP, Auditório 01, entrada livre para público (Rua Alagoas, 936. Higienópolis) e às 19h no MIS - Museu da Imagem e do Som (Av. Europa, 158. Jardim Europa), logo após a cerimônia de abertura do festival. Após a exibição do filme, nos dois horários, haverá um bate-papo com o diretor Marco Del Fiol e os curadores do Move Cine Arte.
O filme retrata como arte, natureza e família se entrelaçam na intensa relação entre as três gerações de artistas da família Cravo: o escultor Mario Cravo Junior, o fotógrafo Mario Cravo Neto e seu filho, também fotógrafo, Christian Cravo.
Christian Cravo, com 27 anos de carreira, é atualmente um dos nomes mais respeitados da fotografia contemporânea brasileira. Tem seu trabalho reconhecido internacionalmente, com exposições individuais em espaços consagrados em todo o mundo. Entre seus trabalhos estão os livros ‘Irredentos’ (2000), ‘Roma noire, ville métisse’ (2005), ‘Nos Jardins do Éden’ (2010), ‘Exú Iluminado’ (2012), ‘Christian Cravo’ (2014), editado pela prestigiada editora Cosac & Naify, e ‘Mariana’ (2016). Recebeu prêmios do Museu de Arte Moderna da Bahia; do Mother Jones International Fund for Documentary Photography; da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pela melhor exposição fotográfica de 2015, além do Simon Guggenheim para sua pesquisa sobre a água e a fé, em 2001.