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setembro 19, 2019
Laura Lima na Luisa Strina, São Paulo
A artista Laura Lima realiza a sua terceira individual na Galeria Luisa Strina trazendo um grupo de novas obras com materiais que se transformam, que impactam o ambiente expositivo de maneira multissensorial e evocam o imaginário fotográfico. A exposição “qual” conta com texto-obra assinado por Daniela Castro / Deleuze Was Wrong, em que as substâncias presentes na mostra entabulam um diálogo diagramado em formato de árvore.
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Todas as obras são suspensas. A escolha por esse método de apresentação se explica tanto pela transparência e delicadeza das obras, quanto pela postura sempre questionadora da artista em relação a tudo que se entende como “tradição” na história da arte. O grupo de trabalhos Ágrafo, iniciado em 2015, é quase todo mostrado da mesma maneira; neste caso, por se tratar de peças tridimensionais, a suspensão tem a ver com a possibilidade de observação por ângulos diversos, mas também com a atitude avessa à tradição de colocar esculturas no chão.
Do ponto de vista das experiências da materialidade suspensa na trajetória de Laura Lima, pode-se pensar nos Costumes, nos Portraits e, mais radical de todas, no Balé Literal, que a artista realizou neste ano na encruzilhada d’A Gentil Carioca, no centro do Rio de Janeiro, espécie de ópera bufa protagonizada por objetos que transitavam de um prédio a outro em um fio suspenso, uns mais rápidos, outros mais lentos, configurando a coreografia orquestrada pela artista.
As obras da exposição “qual” são feitas de tule e gelo seco, uma matéria frágil e imaculada, outra instável e mutante. Aqui, o diálogo se estabelece entre as novas obras e os Wrong Drawings (feitos de algodão e carvão), pelo risco iminente de contaminação, um elemento ameaçando o outro. Da perspectiva da materialidade cambiante, importante lembrar das instaurações de HOMEM=CARNE / MULHER=CARNE, em que Laura considera os seres vivos como matéria escultórica.
Para encerrar esta rápida genealogia de obras relacionadas, com o intuito de contextualizar “qual”, falta falar da materialidade fantasmática destas obras, derivadas de seus pensamentos sobre o desenho, “desfocados” pelo efeito fumegante do gelo seco. Nesse aspecto, conversam com o universo do Fumoir (2009/2017), que subverte as regras museológicas e permite contemplar as outras obras envolto em fumaça de charuto, assim como com as obras-fotografias Lugares Colagens, em que elementos esfumaçados ou desfocados habitam ambientes art nouveau aos quais, deliberadamente, não pertencem.
SOBRE A ARTISTA
Nascida em 1971, em Governador Valadares, Laura Lima vive e trabalha no Rio de Janeiro. Desde os anos 1990, a artista ficou conhecida pelo uso de seres vivos (humanos, animais ou plantas) como matéria da arte, construindo relações inesperadas com o espaço e a arquitetura. Seu intuito está em desafiar conceitos do vocabulário especializado, como performance ou instalação. As variações do comportamento humano em relação à complexidade das relações sociais também são objeto de fascinação da artista, o que a leva ao contínuo exercício de construir um léxico particular para abordar este tema.
Exposições individuais recentes incluem: Balé Literal, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2019); I hope this finds you well, Tanya Bonakdar Gallery, Nova York (2019); Alfaiataria, Pinacoteca do Estado, São Paulo (2018); Cavalo come Rei, Fundação Prada, Milão (2018); The Inverse, ICA Miami (2016); Ágrafo, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2015); El Mago Desnudo, MAMBA Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (2015); The Naked Magicien, National Gallery of Denmark, Copenhagen (2015) e Bonnierskonsthall, Stockholm (2014); e The fifth floor, Bonnefantenmuseum, Maastricht (2014).
Exposições coletivas selecionadas incluem: Bienal de Busan (2018); Trienal de Aichi, Toyohashi (2016); Performa 15, Nova York (2015); 15 Rooms, Long Museum, Shanghai (2015); Encruzilhada, Parque Lage, Rio de Janeiro (2015); Por amor a la disidencia, MUAC – Museo Universitario Arte Contemporáneo, Cidade do México (2013); Circuitos Cruzados – Centre Pompidou meets MAM, Museu de Arte Moderna, São Paulo (2013); Ruhrtriennale, Essen (2012); 11ª Bienal de Lyon (2011).
Coleções das quais seu trabalho faz parte incluem: Instituto Inhotim, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Bonniers Konsthall, Suécia; Migros Museum für Gegenwartskunst, Suíça, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil.
The artist Laura Lima presents her third solo show with Galeria Luisa Strina bringing a group of new works with transforming materials that impact the exhibition environment in a multisensory manner and evoke photographic imagery. The exhibition “qual” features an art-text by Daniela Castro / Deleuze Was Wrong, in which the substances present in the exhibition embark on a dialogue diagrammed in a tree-shaped format.
All works are suspended. The choice for this method of presentation is explained both by the transparency and delicacy of the pieces, as well as by the artist’s questioning attitude towards everything that is understood as “tradition” in art history. The Ágrafo group of works, for example, started in 2015, is almost entirely shown in the same way; in this case, because they are three-dimensional pieces, the suspension has to do with the possibility of observation from different angles, but also with the attitude against the tradition of placing sculptures on the floor.
From the point of view of the experiences of suspended materiality in Laura Lima’s trajectory, one can think of Costumes, Portraits and, most radical of all, the Literal Ballet, which the artist presented this year at the crossroads of A Gentil Carioca, in downtown Rio de Janeiro, a kind of puff opera performed by objects that moved from one building to another on a suspended wire, some faster, some slower, configuring the choreography orchestrated by the artist.
The works of “qual” are made of tulle and dry ice, one fragile and immaculate matter, another one unstable and mutant. Here, a dialogue is established between the new works and the Wrong Drawings (made of cotton and charcoal), for the imminent risk of contamination, one element threatening the other. From the perspective of changing materiality, it is important to remember the instaurations of MAN = MEAT / WOMAN = MEAT, in which Laura considers living beings as sculptural matter.
To end this quick genealogy of related works, in order to contextualize “qual”, one has to speak of the ghostly materiality of these works, derived from the artist’s thoughts about drawing, ‘blurred’ by the steaming effect of dry ice. In this respect, they relate to the universe of Fumoir (2009/2017), which subverts the museological rules and allows us to contemplate the other works wrapped in cigar smoke, as well as to the photo-works Lugares Colagens, where smoky or unfocused elements inhabit art nouveau environments to which they deliberately do not belong.