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setembro 18, 2019
Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural no MAM, Rio de Janeiro
MAM Rio recebe a mostra Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural
A exposição traz um recorte deste acervo, com obras audiovisuais brasileiras que exploram e ampliam a linguagem do cinema e do vídeo produzidas nos últimos 60 anos. São trabalhos de pioneiros como Leticia Parente, Rafael França e Regina Silveira. Ainda, a mostra marca a retomada da parceria entre o instituto paulistano e o museu carioca.
De 31 de agosto a 10 de novembro de 2019, o Itaú Cultural e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro exibem a exposição itinerante Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural. Com curadoria de Roberto Moreira S. Cruz, a mostra apresenta 22 obras brasileiras representativas de videoarte, realizadas entre 1973 e 2015, que perpassam os últimos 40 anos de produção deste gênero artístico no país. Os trabalhos compõem um recorte do acervo do instituto, acrescidos de duas obras da coleção do museu – Aqui você pode sonhar (2009), de Clara Ianni, e Cruzada (2011) de Cinthia Marcelle. Ambas dialogam diretamente com a proposta curatorial, dividida em três núcleos temáticos: Pioneiros da Videoarte Brasileira, Corpo como Metáfora e Visualidade.
Parte das iniciativas do Itaú Cultural que tem como proposta recuperar, preservar e difundir a memória e a produção artísticas brasileiras, a mostra reúne trabalhos que estão entre o audiovisual e as artes visuais – dos pioneiros até os artistas contemporâneos. Neste panorama, ela traça o caminho percorrido desde as primeiras experiências dos artistas, nos anos de 1970, até a atualidade, com trabalhos que reconfiguram e ampliam os limites desse meio.
A abertura da mostra, no sábado, 31, às 15h, é precedida de uma visita guiada pelo curador. Ela se estende ao público e começa às 14h30, bastando retirar uma senha meia hora antes do início. Em setembro, na sexta-feira, dia 20, às 15h, Cruz dá palestra ao lado do curador do MAM Rio, Fernando Cocchiarale, e da artista Brígida Baltar.
No eixo Pioneiros da Videoarte Brasileira estão trabalhos das décadas de 1970 e de 1980, em VHS, Super 8, 16 mm e portapack, recuperados e remasterizados. Segundo o curador, essa foi uma fase difícil para os artistas por não existir um mercado que pudesse dar visibilidade a este tipo de produção, em primeiro lugar. Também porque o cenário cultural brasileiro estava fortemente submetido à censura imposta pelo regime militar.
“Os filmes e vídeos mais originais e inventivos, realizados neste contexto, permaneceram durante muito tempo desconhecidos do público e praticamente abandonados nas gavetas dos estúdios e ateliês dos próprios artistas”, observa Roberto Cruz. De acordo com ele, a década de 1970 foi determinante para a produção audiovisual no Brasil e no mundo. Foi a partir deste período que, pela primeira vez, a arte contemporânea se aproximou do campo do cinema e do vídeo. Assim, artistas visuais passaram a transitar por estas áreas com obras experimentais.
Neste núcleo tem trabalhos de Letícia Parente, de quem se apresenta Marca Registrada (1975), na qual, em um único plano-detalhe, filmado por Jom Tob Azulay, a artista borda a frase Made in Brasil na sola do próprio pé. O vídeo é considerado historicamente um dos mais importantes de sua trajetória e o que representa mais precisamente a relação entre estética e política no contexto artístico brasileiro nos anos de exceção provocados pela ditadura militar no Brasil. Sem Título, série Não Possui (1975), é de Sonia Andrade no qual se assiste a performances contundentes, em que seu corpo é o principal instrumento de criação, em gestos e atitudes de interferência na realidade. Tem, ainda: Passagens #1 (1974), de Anna Bella Geiger, uma das pioneiras de videoartistas brasileiros; After a Deep Sleep (Getting Out) (1985), de Rafael França; A Arte de Desenhar (1980), de Regina Silveira; e M3x3 (1973), de Analívia Cordeiro.
Em Corpo como Metáfora, o foco está em obras contemporâneas realizadas a partir de 1990 até os dias atuais por uma nova geração de artistas. Esses trabalham com o audiovisual, têm inserção no mercado e o usam como suporte para criar sons, imagens e linguagens muito particulares. Entre eles, está Translado (2008), de Sara Ramo. Neste vídeo, com projeção em single channel, se vê um quarto vazio onde tem apenas uma mala de viagem da qual a artista retira uma infinidade de objetos. Ela se apropria de elementos e cenas do cotidiano, desloca-os de seus lugares de origem e os rearranja.
No mesmo núcleo, em Coletas (1998-2005), Brígida Baltar cria uma relação intrínseca entre a performance e seu registro em vídeo. A obra mostra a artista coletando na paisagem, em pequenos frascos, a neblina, a maresia e gotas de orvalho. Neste eixo se encontra, também, uma das obras pertencentes à coleção do MAM Rio: Aqui você pode sonhar (2009), de Clara Ianni, na qual em um espaço público, em plano médio, a artista inicia uma construção sobrepondo tijolos e cimento. Durante o tempo de duração do vídeo, ergue-se um muro entre o espectador e ela criando uma metáfora da opacidade entre o real e a representação.
Encontram-se neste eixo, ainda, Ymá Nhandehetama (Antigamente Fomos Muitos), trabalho realizado em 2019 por Armando Queiroz que registra uma história narrada por Almires Martins – indígena do povo Guarani, cortador de cana em usinas de açúcar e álcool. Ele remete a uma memória coletiva, expressa subjetividade e perspectiva crítica e legitima a universalidade da tradição dos povos originários brasileiros. O núcleo também exibe Amoahiki (2008), de Gisela Motta e Leandro Lima; Homenagem a Steinberg – Variações sobre um Tema de Steinberg: as Máscaras Nº 1 (1975), de Nelson Leirner; Xeroperformance (Xerofilme), criado por Paulo Bruscky em 1980; e L'Arbre d'Oublier (A Árvore do Esquecimento) , trabalho de 2013 assinado por Paulo Nazareth.
No terceiro eixo, Poética da Visualidade, as obras são de Eder Santos, Cinema (2009); Thiago Rocha Pitta, Planeta Fóssil (2009); Rubens Gerchman, Triunfo Hermético (1972); Aline Motta, Poupatempo (2015); Letícia Ramos, Mar (2008), e Cinthia Marcelle, Cruzada – mais uma obra pertencente à coleção do MAM Rio.
Em Cinema, Santos transforma aspectos prosaicos do cotidiano em fenômenos poéticos, explorando o tempo próprio de uma série de objetos e situações registrados no interior de Minas Gerais. Em Planeta Fóssil, Pitta cria um ambiente no qual a água, o fogo e a terra se encontram em plena mutação. Por sua vez, Gerchman faz, em Triunfo Hermético, uma síntese de seu pensamento tendo como referência as grandes esculturas de palavras que começou a construir em 1971. Aline apresenta, em Poupatempo, uma praça no centro de São Paulo como cenário de uma reflexão sobre a imagem do transeunte.
Letícia compôs, em MAR, com uma caixa de madeira, como um farol que emite luz, que projeta imagens do mar em uma metáfora poética da importância que o cinema adquiriu na cultura brasileira. Por fim, em Cruzada, Cinthia reúne 16 músicos que surgem dos quatro cantos de um cruzamento, vestidos, cada um, de amarelo, vermelho, azul e verde e divididos em seções instrumentais. Frente a frente, iniciam um embate que termina em uma coreografia na qual os músicos trocam de lugar, formando quatro bandas de cores e instrumentos mesclados até partirem, espalhando-se, cada qual no seu tempo, pelas quatro vias.
Sobre a itinerância
Antes do Rio de Janeiro, Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural passou por Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Belém (PA), Recife (PE), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), Ribeirão Preto (SP) e no próprio instituto na capital paulistana. Para cada uma destas cidades, o curador Roberto Cruz preparou um recorte diferente.
Sobre Roberto Cruz
Cruz é consultor da Coleção de Filmes e Vídeos do Itaú Cultural e assinou a curadoria de Cinema Sim: narrativas e projeções (Itaú Cultural, 2008); Fluxus 2011 (Oi Futuro - BH); Fluxus Black and White (Oi Futuro - BH, 2012) Coleção Itaú Cultural de Filmes e Vídeos (em São Paulo e itinerâncias).
Sobre a Coleção Itaú Cultural
Esta coleção compõe o Acervo de Obras de Arte do Itaú Unibanco, que abrange aproximadamente 15 mil pinturas, gravuras, fotografias, esculturas, instalações e outras peças reunidas por cerca de 60 anos. Representativo da história da arte nacional, é o maior acervo artístico de uma companhia privada na América Latina.
Programação
Abertura: 31 de agosto, sábado, das 15h às 18h
Visita guiada com o curador Roberto Cruz, às 14h30
Os interessados em participar da visita guiada devem retirar senhas às 14h
Palestra: dia 20 de setembro, sexta-feira, às 15h
Com Roberto Cruz, Fernando Cocchiarale, curador do MAM Rio e Brígida Baltar
De 31 de agosto a 10 de novembro
Visitação: de terça-feira a sexta-feira, das 12h às 18h.
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h.
Ingressos: R$14; estudantes maiores de 12 anos: R$7; maiores de 60 anos:
Amigos do MAM e crianças até 12 anos: entrada gratuita
Quartas-feiras: entrada gratuita
Domingos ingresso família, para até 5 pessoas: R$14