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setembro 11, 2019
Zanine 100 anos no MAM, Rio de Janeiro
Mostra homenageia o centenário do consagrado arquiteto, designer e artista, com obras de sua emblemática produção do “móvel-denúncia”, em que de maneira pioneira alertava para o desmatamento das florestas brasileiras.
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta a partir de 14 de setembro de 2019 a exposição Zanine 100 anos – Forma e Resistência, com 18 obras feitas pelo consagrado arquiteto, designer, artista, paisagista e professor José Zanine Caldas (1919-2001), dentro de sua profunda pesquisa sobre nossas madeiras. Com curadoria de Tulio Mariante, curador de design do MAM, as obras selecionadas integram a emblemática e profícua produção de Zanine entre o final dos anos 1960 e 1980, conhecida como “móvel-denúncia”. As peças, feitas em madeira maciça, denunciavam de maneira pioneira o desmatamento das florestas brasileiras. Tulio Mariante destaca que Zanine “coletava as madeiras em restos de abates, muitas vezes irregulares, como forma de denúncia, como forma de resistência”.
Mais do que apenas móveis, os especialistas consideram esses trabalhos como esculturas funcionais, maneira de o artista expressar sua percepção de nossa cultura. O processo de criação era lento, com a utilização de ferramentas tradicionais como serrote, enchó, formão, plaina, e tendo como mão de obra os canoeiros da Bahia. Várias das peças expostas foram criadas no período em que Zanine Caldas viveu em Nova Viçosa, Bahia, anos 1970 até 1980, onde instalou uma oficina que se tornou ponto de encontro de grandes nomes da cultura brasileira, como Oscar Niemeyer, Carlos Vergara, Chico Buarque, Amelia Toledo, Odete Lara entre outros. Lá, ele construiu a famosa casa na árvore para o artista Frans Krajcberg.
Com esta homenagem, é a terceira vez que o MAM realiza uma exposição sobre José Zanine Caldas. Sua primeira mostra individual no Museu foi em 1975, e a segunda em 1983, quando construiu, junto aos jardins, uma casa de madeira.
A produção de “Zanine 100 anos – Forma e Resistência” é da família de Zanine Caldas, com o apoio de Etel Design e Escritório de Arte Marcela Bartolomeo.
São destaques da exposição as peças “Namoradeira”, o “Redário”, a escultura em madeira pequi, a mesa de jantar e o aparador com tampo de vidro criados em Nova Viçosa nos anos 1970, o sofá feito em ilhéus em 1980, entre outras.
AUTODIDATA
Nascido em 1919 na cidade baiana de Belmonte, Zanine era autodidata, e começou sua carreira como maquetista dos principais arquitetos modernos brasileiros, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. “Quando maquetista, Zanine foi autor de modelos de alta qualidade, e criador capaz de propor aos arquitetos soluções para impasses em seus projetos. Seu talento o levou a percorrer os caminhos da arquitetura e do desenho de móveis que acabaram por lhe conferir o título de Mestre da Madeira”, explica o curador Zanine obteve reconhecimento não apenas no Brasil, mas também no exterior.
CONVERSA E EXIBIÇÃO DE FILME SOBRE ZANINE CALDAS
No dia 19 de setembro de 2019, às 18h30, na Cinemateca do MAM, será realizada uma conversa aberta com o artista Carlos Vergara – que está com a exposição “Prospectiva” em cartaz no MAM, e era amigo de Zanine Caldas, tendo convivido com ele em Nova Viçosa, na Bahia – e Fernanda Borges, que foi casada com o arquiteto, e é mãe do designer Zanini de Zanine, que estará também presente.
Após a conversa, haverá exibição do documentário sobre Zanine Caldas: "Arquitetura de Morar" (1974, 12’), de Antonio Carlos da Fontoura, com trilha musical de Antonio Carlos Jobim, sobre, três casas projetadas por Zanine Caldas na Joatinga.
Ficha técnica
Arquitetura de Morar (1974, 12’)
Formato: 35 mm, cor
Roteiro e direção: Antonio Carlos da Fontoura
Fotografia: Pedro Morais
Trilha musical: Antonio Carlos Jobim
Narração: Júlio Graber
Montagem: Rafael Valverde
Produção: Canto Claro Produções Artísticas
LANÇAMENTO DE LIVRO
Por ocasião da exposição “Zanine 100 anos – Forma e Resistência”, será lançado no dia 5 de outubro, das 15h às 18h, o maior e mais abrangente livro sobre sua trajetória. Publicado pela Editora Olhares e R&Company Gallery, de Nova York, o livro será bilíngue (port/ing), com capa dura e formato 25cm x 30cm, terá 300 páginas, e textos de Amanda Beatriz de Palma Carvalho, Lauro Cavalcanti e Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, com ensaio fotográfico de André Nazareth. Depois será lançado em diversas cidades.
SOBRE O ARTISTA
Nasceu em Belmonte, Bahia, em 1919. Zanine iniciou a vida profissional como maquetista dos mais importantes arquitetos modernos no Brasil nos anos 1940. Tempos depois, ele mesmo se tornou um expoente da arquitetura nacional, com uma leitura muito particular das influências modernas. No design de mobiliário, conduziu a experiência da Móveis Z, fundada em fins dos anos 1940, em São Paulo, apostando na industrialização para apoiar – e aproveitar – a difusão de um novo estilo de vida trazido pelos ventos de modernidade. Nos anos 1950, foi paisagista e teve uma loja de vasos e arranjos de flores na Av. Paulista. No final da década se mudou para Brasília para produzir in loco maquetes dos prédios da nova capital em construção. Na década de 1970, viveu entre o Rio de Janeiro, onde praticamente inventou o bairro da Joatinga, e Nova Viçosa, no sul da Bahia, de onde trazia as grandes toras de madeira que marcam sua arquitetura e onde produziu uma linha de móveis pesados, que deixavam se expressar com toda força a madeira descartada no processo de devastação da Mata Atlântica que acontecia na região. Eram chamados de “móveis-denúncia”. Além disso, em sua inquietude, Zanine se envolveu em muitos projetos sociais, teve importante presença na vida acadêmica, mesmo não tendo um diploma, e circulou por diversos países – em especial a França, onde teve exposição individual no Museu de Artes Decorativas do Louvre, em 1989, estabelecendo trocas culturais e de conhecimento técnico. Morreu em Vitória, em 2001.