|
setembro 1, 2019
Camille Kachani na Zipper, São Paulo
Solilóquio, terceira exposição individual de Camille Kachani na Zipper Galeria, se estrutura a partir de diálogos: primeiro, do artista consigo próprio, como o título da mostra sugere (um ato de verbalizar, em primeira pessoa, aquilo que se passa na consciência do anunciador); segundo, do artista com diversos momentos da arte contemporânea, estabelecendo relações entre as produções de Kachani e a de outros artistas; por fim, da natureza com a civilização, aqui numa revisão crítica em relação a, muitas vezes, este diálogo ser simplesmente impossibilitado. Com curadoria de Taisa Palhares, a mostra inaugura no dia 05 de setembro e reúne nova série de esculturas relacionadas a processos de transformação e deslocamentos.
Em sua exposição anterior na galeria – “Encyclopaedia Privata”, 2016 –, Camille Kachani partiu da memória para refletir sobre a formação da identidade. Agora, esta reflexão é expandida: em que ponto nos situamos entre sermos entes tecnológicos e entes pertencentes à natureza? “Os materiais e soluções estéticas utilizados parecem ecoar a incompatibilidade entre preservação e exploração dos recursos disponíveis. Esta série de trabalhos, revela a impossibilidade de diálogo entre a civilização e a natureza. Esta cisão, mesmo que não absoluta ou definitiva, evidencia o profundo antagonismo de interesses entre estes polos”, analisa o artista.
Em “Solilóquio”, procedimentos diversos são aplicados nas esculturas, de modo a incitar os debates propostos pelo artista. A organicidade da madeira é substituída pela racionalidade formal; a geometria dos cubos ganha a distorção dos seres viventes; ícones da pintura ocidental são atravessados por formações orgânicas, como se elas próprias contivessem o germe de sua destruição. Aqui, o fio condutor não é plástico, mas conceitual: das formas improváveis que adquire a madeira, tudo aponta para uma equação em aberto, em que a busca por um denominador comum permanece como uma pretensão ilusória, ainda que necessária.
A exposição “Solilóquio” fica em cartaz até 5 de outubro.
Camille Kachani (Beirute, Líbano, 1963) desenvolve um processo inventivo de possibilidades relacionadas ao processo de transformação da natureza. Suas obras são objetos híbridos, que investigam as condições originais e primitivas dos elementos naturais. Seu trabalho utiliza materiais e objetos cotidianos, conferindo-lhes novas leituras, redimensionando suas escalas e funções originais. Principais exposições individuais: FUNARTE (São Paulo, 2008); Temporada de Projetos, Paço das Artes (São Paulo, 2007); TRAJETÓRIAS, Fundação Joaquim Nabuco, (Recife, 2007); Instituto de Arte Contemporânea (Recife, 2005), Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2004). Principais exposições coletivas: “Doações recentes (2012-2015)”, MAR (Rio de Janeiro, 2016); Bienal Internacional de Curitiba, MAC/PR (Curitiba, 2015); “A Casa”, MAC/USP (São Paulo, 2015), “Esculturas Monumentais”, Praça Paris (Rio de Janeiro, 2014), XIV Biennale Internationale del’Image (Nancy, França, 2006). Principais coleções institucionais: MAC-USP/SP, MAC-Niterói, MAM-RJ, MAM-SP, MAR (Museu de Arte do Rio), MAC-PR, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Museum of Latin-American Art (Los Angeles), Colección Metropolitana Contemporanea (Buenos Aires), Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam (Havana), Fundação Joaquim Nabuco (Recife), Instituto de Arte Contemporânea (UFP, Recife).
Taisa Palhares é professora de Estética no Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). Possui graduação (1997), mestrado (2001) e doutorado em Filosofia (2011) pela Universidade de São Paulo (USP). Realiza estudos nas áreas de estética e artes visuais, com ênfase na pesquisa sobre a fundamentação da obra de arte desde a Modernidade. De 2003 a 2015, foi pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo responsável pelo projeto de exposição retrospectiva "Mira Schendel" (2013/2014), em parceria com a Tate Modern. É autora do livro "Aura: a crise da arte em Walter Benjamin" (Fapesp/ ed. Barracuda, 2006). Desde 2000, atua como crítica de arte, e foi uma das idealizadoras e co-editoras da revista independente de arte e crítica "Número" (2003-2010).