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setembro 1, 2019
Featuring no Massapê, São Paulo
O massapê projetos tem o prazer de apresentar a coletiva featuring dos artistas Leandro Muniz, Marcelo Pacheco e Thomaz Rosa, com texto de apresentação da artista Ana Prata. A exposição surge da percepção de elementos comuns à produção dos artistas como a ênfase no aspecto objetual da pintura, o uso de padrões e campos de cor, além do desejo central de propor um projeto colaborativo.
O título vem de uma prática comum aos músicos de “tocar junto” e é transposto para o campo das artes plásticas, na medida em que um participa com o outro de uma apresentação em conjunto. Featuring (ou feat.) pode ser traduzido como apresentar, expor, realçar ou marcar e seu uso no universo da música comercial, como o pop ou o rap, aponta para as relações dos artistas com outras linguagens e com uma dimensão vernacular da cultura, se apropriando tanto de referências eruditas quanto cotidianas e banais.
Leandro Muniz apresenta dois grupos de trabalhos. Em Os Sóis e A Noite, pinturas sobre lonas soltas são trabalhadas com uma cor predominante com os mais diversos materiais disponíveis no ateliê - guache, tinta acrílica, pastel, lápis de cor etc - gerando múltiplas associações na relação entre formas, títulos e a instalação das obras no espaço. Na série Varal, pinturas sobre tecidos estampados são feitas nos dois lados do plano: em uma das faces apenas campos de cor e na outra, imagens. O trabalho é apresentado suspenso por cabos de aço formando um “espaço de cor” dentro da arquitetura e cada peça individualmente recebe um título evocado pelas relações entre as imagens, cores e formas (Piquenique, Tempestade com Flores, Blue Sunset, etc), em uma sutil operação conceitual de pintar manualmente padrões parecidos com aqueles disponíveis na indústria.
Marcelo Pacheco se apropria de trechos de outras pinturas para construir um vocabulário composto de padrões e elementos decorativos que fazem referência à Matisse, Giotto ou a elementos da vida cotidiana, como os tecidos de ponchos peruanos. Pela primeira vez o artista expande sua produção sobre tela para a construção de um toldo, sobre o qual são pintados uma trama azul e branco e uma barra de triângulos pretos e brancos, fazendo as vezes de uma bambinela, instalado na fachada do espaço. Suas medidas e inclinações não correspondem exatamente às da indústria, fazendo do objeto algo entre o funcional e o ficcional, além de extrapolar as cores chapadas e os padrões listrados dos toldos comuns, ao aplicar sobre esse objeto um intenso trabalho de fatura, com muitas camadas de pintura.
Thomaz Rosa utiliza uma grande gama de recursos pictóricos, de composições geométricas, a uma gestualidade que evoca cadernos de anotações, alternando entre uma fatura com grossas camadas de tinta e um tratamento mais fino e delicado. Suas pinturas, de média e pequena escala, discutem a própria história da pintura ao longo do século XX e na situação contemporânea. Na exposição, o artista apresenta uma série de “céus” de pequenas dimensões na qual utiliza recursos pictóricos diversos para a produção da sensação diáfana, como trechos de tinta diluída, empastamentos etc e uma série de pinturas monocromáticas nas quais os pregos também integram a composição.
No texto da exposição, Ana Prata discute o aspecto doméstico da produção dos artistas e levanta questões como identidade, gênero, desejo e afeto em tempos de autoritarismo. Ao convidar uma artista para escrever o texto, o projeto reitera o interesse por estabelecer dinâmicas colaborativas entre os próprios artistas tanto na produção quanto na circulação de seus trabalhos. Também são estabelecidas relações entre a produção de Muniz, Pacheco e Rosa e alguns aspectos da obra de Prata, como a grande variação estilística, conexões com referências heterogêneas e uma reflexão sobre pintura que associa livremente diferentes campos de produção de imagem e formas de pintar.
O interesse pela tela enquanto objeto, como sua trama ou os lados do suporte, se expande para pinturas sobre tecidos soltos, objetos apropriados ou construídos. Três camisetas de papel foram produzidas em conjunto, respeitando a singularidade de cada um dos artistas, em uma extensão do pensamento central da mostra. Aspectos como domesticidade, afeto, conforto e humor também permeiam a produção dos artistas, em um trânsito entre as relações físicas e a dimensão reflexiva da produção, utilizando citações e apropriações de diversas referências como modo de construção de um universo próprio.