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agosto 30, 2019

Shirley Paes Leme na Raquel Arnaud, São Paulo

Com lembra Douglas de Freitas, que assina o texto desta exposição, uma das questões centrais na produção de Paes Leme “é a matéria, seja em sua transitoriedade ou nas marcas que certas ações sobre elas podem produzir, lembrando que o próprio vazio do espaço, o ar, é ele mesmo matéria”. Isso explica o fato de artista nomear a exposição de RareAr, enfatizando o “Ar” na palavra.

Em Resíduos da cidade, iniciado na década de 1980 e desenvolvido até hoje, Shirley Paes Leme remove filtros de ar condicionado de carros para realizar desenhos e composições. Esses filtros de feltro sanfonado chegam para a artista tingidos de diversos tons de cinza, resultado da fumaça filtrada na passagem do ar. Com um removedor, parte desses filtros são trabalhados, em um desenho feito pela remoção dessa matéria. “São desenhos sem marcas precisas, se constroem em manchas de degradê, entre peso e leveza. Eles explicitam o peso do ar, registram a cidade, e são eles mesmos a própria cidade impregnada”, afirma Freitas.

Já na instalação São Paulo à noite: Poema Concreto, de 2014, três estantes repletas de livros de diversos assuntos estão pintadas de negro. As únicas informações que se fazem ver são poucas palavras nas lombadas dos livros, cuidadosamente eleitas pela artista. Assim o que se constrói é um skyline, uma massa constante e similar, porém cheia de singularidades, como as cidades. “Assim como nós habitamos as cidades, no trabalho as palavras habitam o skyline, e se nossas histórias também constituem a identidade da cidade, aqui a cidade também se faz de histórias, das mais diversas possíveis, cheias de singularidades, como as cidades”.

SOBRE A ARTISTA

Nascida em 1955, iniciou em 1975 sua formação artística no curso de Belas-Artes da UFMG e foi aluna de Amílcar de Castro. Entre 1981 e 1986 viajou para diversos países; estudou na Universidade do Arizona em 1983, no Instituto de Arte de San Francisco e na University of California, Berkeley, em 1984. Em 1986, obteve o título doutora em Artes na J.F.K. University, Berkeley. Foi bolsista da Fundação Fullbright de 1983 a 1986. Executa desenhos, intervenções, performances e instalações. Tem recebido vários prêmios nos principais salões brasileiros e norte-americanos. Realiza exposições individuais no Brasil e no exterior. Participa de coletivas desde 1975, com destaque para Novos Valores da Arte Latino-Americana, no Museu de Arte de Brasília, 1989; Bienal de Lausanne, 1993; VII Bienal da Polônia,1995; Deux Artistes Brésiliens: Amílcar de Castro et Shirley Paes Leme, Paris, 1996; Die Anderen Modernen, Casa das Culturas do Mundo, Berlim,1997; e Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX e Diversidade da Escultura Brasileira, Itaú Cultural, 1997. Em 1999 participou do programa Artista em Residência no Kunstlerhaus Bethanien, em Berlim. Em 2000 participou das seguintes mostras: II Bienal do Mercosul, Porto Alegre; VII Bienal de La Habana, Cuba; Mostra do Redescobrimento -Brasil +500, São Paulo e Século XX: Arte do Brasil, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal. Em 2001: Bienal 50 anos, São Paulo; e Côte à Côte - Art Contemporain du Brésil, musée d’art contemporain de Bourdeaux, França. Em 2013, expôs Água Viva, Museu Vale, (Vitoria, E.S, 2012). Atualmente participa da exposição Examples to follow! Em cartaz no Kulturhof num Güldenen Krönbacken, na Alemanhã e também da mostra ambiental Arte e Movimentos no Mube, em São Paulo.

Posted by Patricia Canetti at 11:25 AM