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agosto 29, 2019
Erika Malzoni na Luciana Brito, São Paulo
Com abertura em 31 de agosto, a terceira mostra do programa é composta exclusivamente por obras inéditas da artista paulista
Depois de receber Augusto de Campos e Alberto Simon, a Luciana Brito Galeria convida a artista paulista Erika Malzoni (Itapetininga, SP, 1966) para participar de seu programa artista visitante. Intitulada Expressura, a mostra é composta por obras inéditas e pode ser visitada entre 31 de agosto e 26 de outubro de 2019.
A pesquisa de Erika Malzoni relaciona o potencial narrativo do cotidiano, sistemas de valores culturais e referências da história da arte para refletir sobre temas como a transitoriedade, o excesso, a vulnerabilidade e a memória. Seus trabalhos partem da apropriação de materiais simples, domésticos ou remanescentes. Iniciou sua prática artística pela fotografia, mas rapidamente transitou para a tridimensionalidade, sendo autora de uma vigorosa produção de objetos, assemblagens, esculturas e instalações.
Em sua individual na Luciana Brito Galeria, Malzoni apresenta um conjunto de obras construídas a partir daquilo que sobrou. Os objetos da série Ilustres apresentam-se como cachos improváveis, ao mesmo tempo lúgubres e irreverentes, de lâmpadas queimadas do Jockey Club de São Paulo, envoltas por redes utilizadas para a venda de frutas em feiras e supermercados. Insustentável, por sua vez, é um labirinto de colunas impossíveis: frágeis cabides de plástico compõem uma intervenção arquitetônica alienígena à elegância da casa modernista que os abriga.
Suas estruturas precárias, que ocupam a maior parte da Sala Rino Levi, são assemblagens das muitas embalagens que transbordam, sem percebermos, de nossa vida contemporânea – caixas de medicamentos, de alimentos, de produtos de higiene pessoal. Embora assemblagens sejam uma linguagem bastante explorada pela artista, é raro que ela interfira sobre a nudez de sua matéria-prima, como o fez ao usar tinta acrílica, fazendo pintura a seu próprio modo e construindo com a cor. Apesar da aplicação dos pigmentos, os materiais de que se apropria continuam a guardar sua crueza quase não manipulada, sem parecer algo além daquilo que originalmente foram e, embora modificados e recontextualizados, continuam a ser.
“Eu coleciono sobras do mundo e me questiono se são o que resta ou o que resiste. Meu trabalho trata de observar o processo social e subjetivo de como estamos constantemente negociando valores e seus limites em qualquer circunstância da vida”, explica Malzoni. Também a arquitetura desempenha um elemento importante na sua pesquisa, em particular nesta exposição. A Luciana Brito Galeria está localizada numa construção residencial. A mostra é realizada no espaço expositivo que era o antigo living, o coração da casa, e também em uma pequena sala frontal originalmente pensada como quarto para funcionários. As obras de Expressura possuem essa forte relação com o ambiente doméstico, e, mais do que isso, com a funcionalidade das áreas que estão destinadas a ocupar nesse espaço. “Todos os trabalhos expostos são estruturas precárias que podem ser entendidos como metáfora para a fragilidade das instituições instáveis e falíveis que nos constituem e estão à nossa volta, nos mais diversos âmbitos da nossa sociedade”, complementa.
Erika Malzoni - Nascida em Itapetininga em 1966, Erika Malzoni vive e trabalha em São Paulo. Apresentou exposições individuais no Brasil e no exterior, na Fredric Snitzaer Gallery (Miami, EUA), em 2019; DAP – Divisão de Artes Plásticas (Londrina, PR) e Museu de Arte de Blumenau (SC), em 2018; Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande (MS), Museu Alfredo Andersen (Curitiba, PR) e Galeria Emma Thomas, em 2017; Centro Permanente de Exposições de Guarulhos (SP), Museu Histórico Padre Lima (Itatiba, SP) e Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo, SP), em 2016. Dentre as coletivas de que participou, destacam-se a a 20ª Bienal de Cerveira (Portugal), em 2018, na qual recebeu o Prêmio Aquisição; as edições de 2015, 2017 e 2019 do Programa de Exposições MARP (Ribeirão Preto, SP); e o programa Abre Alas, na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, RJ), em 2019. Foi ainda premiada no Salão de Arte de Jataí (GO) com uma menção honrosa em 2015. Obras de sua autoria integram as coleções da Fundação Bienal de Cerveira (Portugal) e do MARCO – Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande (MS).