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agosto 29, 2019
Caio Reisewitz na Luciana Brito, São Paulo
Com abertura em 31 de agosto, a mostra é composta por cinco fotografias de grandes dimensões que unem pesquisa formal a uma reflexão sobre a realidade política contemporânea
Em Cassino, sua sexta exposição na Luciana Brito Galeria, sendo a terceira na modernista Residência Castor Delgado Pérez, Caio Reisewitz (São Paulo, 1967) apresenta uma série de cinco fotografias inéditas de grandes dimensões. A mostra, com texto crítico da curadora Luisa Duarte, pode ser visitada no espaço Anexo entre 31 de agosto e 26 de outubro de 2019. Um dos nomes mais reconhecidos de sua geração, Reisewitz formou-se como fotógrafo e artista na Alemanha e no Brasil. Em seu trabalho convergem aspectos como o desenvolvimento de uma estética e técnica impecáveis, o rompimento das barreiras entre fotografia documental e artística, e a exploração do encontro, nem sempre pacífico, entre a racionalidade moderna e a suntuosidade da natureza tropical.
Sua mais recente mostra na Luciana Brito Galeria, Cassino, opera de forma semelhante ao seu corpo de obra ao não apenas permitir, mas promover a coexistência de múltiplas camadas de significação, as quais abrem possibilidades para diversas leituras. As cinco fotografias da série guardam entre si evidentes aproximações formais: foram todas realizadas no mesmo lugar, a Praia do Cassino, localizada em bairro homônimo do município de Rio Grande (RS). Todas as imagens da série parecem conter o mínimo necessário para a identificação de uma paisagem – a linha do horizonte –, flertando com a abstração e aproximando-se da composição pictórica (tendência, de resto, presente em seu trabalho como um todo). A paleta de cor é composta primordialmente por cinzas, o que confere tanto uma aura de melancolia às imagens quanto, por vezes, embaralha o olhar em sua busca pela distinção entre figura e fundo.
Mais do que escolha estética, o aspecto minimalista das imagens reflete o desejo do artista de buscar uma representação do vazio. “Há, nesta série, uma vontade incrível de chegar ao limite da fotografia, ao vazio, que é uma maneira de abordar a situação pela qual estamos passando, agora, no Brasil e no mundo”, explica Reisewitz. Para o artista, que tem, nas memórias de sua infância, recordações dos últimos anos da ditadura militar, nunca se viu, desde então, um momento tão vazio. Assim, embora as fotografias tenham sido realizadas em 2017 e apresentadas em pequeno formato nas ruínas do Cassino da Urca (Rio de Janeiro, RJ) no mesmo ano, sua formalização em grandes dimensões deu-se apenas neste ano, no preparo para a exposição – “como se a série tivesse esperado o momento certo de ser mostrada, pois não faria sentido antes”, complementa.
Embora a geografia não seja o aspecto mais importante para a série, a história da Praia do Cassino, com seu valor anedótico, trai algumas das questões que tanto atormentam os tempos contemporâneos – essa contemporaneidade que parece extremamente recente, inaugurada com eleições de governos de tendências autoritárias, ou talvez com a indicação do termo “pós-verdade” como a palavra do ano. Inaugurado em 1890, o Balneário do Cassino é o mais antigo do Brasil. Em 1994, a praia foi listada – erroneamente – pelo Guinness Book como a mais extensa do mundo.
O próprio nome do balneário parece anunciar os tempos de pós-verdade que viriam mais de um século depois de sua construção: apenas com uma pesquisa rápida no Google (modo que a maior parte de nós usa para descobrir informações rápidas hoje em dia), é praticamente impossível determinar se houve ou não um cassino no local. Algumas fontes afirmam que o plano de um grande cassino nunca se concretizou; outras, que tais planos nunca existiram; outras ainda (e provavelmente as corretas) oferecem relatos de como se davam as dinâmicas sociais no hotel-cassino. Independentemente de sua veracidade histórica, Cassino intitula, agora, a série de Caio Reisewitz, para quem a palavra tem dupla conotação: “um cassino é uma casa de jogos feita para iludir quem nela entra; a pessoa acredita que está à mercê da sorte, mas, na verdade, essa sorte é sempre levemente manipulada para favorecer a casa”, explica o artista. “O título da série faz referência a onde as fotos foram tiradas, mas me interessa principalmente seu caráter ambíguo, pois essa sensação de ilusão do cassino também expressa nossa experiência com a política brasileira nos últimos anos”, conclui.
Após a abertura da exposição, o artista inaugura diversos projetos internacionais. Entre 20 e 22 de setembro, lança o livro de artista Altamira na Art Book Fair Berlin – Friends with Books, realizada no Hamburger Bahnhof, Alemanha. No mesmo mês, acontece a abertura de sua instalação permanente Catendaú na Embaixada do Brasil em Pequim, China. Na mesma cidade, em outubro, apresenta uma instalação de grandes dimensões na Photo Beijing. E ainda no final do ano será finalizado o livro Jaraguá, com ensaio de Adolfo Montejo Navas e editado pela Casa da Imagem, São Paulo.