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agosto 28, 2019
Lia Chaia na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta, de 31 de agosto a 28 de setembro, Febril, a 8ª exposição individual de Lia Chaia na galeria. Chaia apresenta objetos, vídeos, desenhos e fotografias inéditos, além de sua 7ª instalação para a fachada da galeria.
O corpo inserido nos ambientes natural e urbano é um dos temas de pesquisa de Lia Chaia e orienta sua nova exposição individual na Vermelho. Chaia aponta a influência da conjuntura social e política atual na produção da exposição: “O título está ligado à temperatura do corpo. A febre, funciona como um mecanismo de defesa. É um momento para se estar alerta. O corpo em questão é o humano, o corpo social”. Lia faz referências a ancestralidade e a cerimônias ritualísticas de alteração de estado corpóreo em vídeos, objetos, desenhos e fotografias.
Figura encarnada
A série Figura Encarnada agrupa formas articuladas vermelhas feitas em madeira, que lembram os bonecos usados em aulas de desenho de figura humana. Instaladas pelo espaço, as figuras parecem flutuar e dançar. As morfologias das figuras, embora refiram-se a anatomia humana, trazem deformações e são chamadas por Chaia de ‘Transhumanas’.
“Figura Encarnada é um trabalho que tem como referência a questão do ‘Transhumano’, uma vez que pensa, além do corpo humano, outros corpos existentes na natureza e os corpos mitológicos. Essa obra também se inspira nas pinturas corporais dos indígenas feitas como proteção contra os espíritos maus e como uma forma de defesa para enfrentarem o inimigo”, diz Chaia. Nesse contexto a escolha da cor vermelha para Chaia foi fundamental, já que diz respeito ao despertar da vitalidade e à potência dos movimentos, sendo a cor do fogo e do sangue. Chaia cita Wassily Kandinsky: “O vermelho evoca força, ímpeto, energia, decisão, alegria, triunfo. Ele soa como uma fanfarra, onde domina o som forte, obstinado, importuno da trombeta.”
Mulher verde
A Mulher verde de Lia Chaia faz parte de suas figuras ‘Transhumanas’. Lia conta que “a Mulher Verde busca a intersecção entre naturezas distintas, como no corpo feminino, que nas suas conformações se metamorfoseia em Pachamama”. Chaia refere-se a figura mítica andina cultuada como mãe do Tempo e da Terra. Na mitologia Inca, a Pachamama é a Deusa da fertilidade que olha pela agricultura e pela colheita. Certas culturas vêm a Deusa como intolerante com a extração excessiva da natureza e é tida como responsável por terremotos e outros acidentes naturais como reação ao consumo predatório de recursos. Chaia menciona Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral (1886-1973), como outra inspiração para Mulher verde, com sua hierarquia face-corpo invertida tal como na pintura de Amaral.
Máscaras
As Máscaras de Chaia, feitas em madeira vermelha, camurça e paetês, são como carrancas com muitos olhos e funcionam como objetos de proteção. Chaia conta que as máscaras remetem à cultura árabe e, em especial, ao provérbio que meus olhos te protejam (ya aini). “Os olhos se multiplicam para favorecer a vigília”, conta Chaia, que já trabalhou com o provérbio em desenhos e performances.
Mil olhos
Mil olhos integra o conjunto de performances de Chaia feitas para a câmera de vídeo. O plano estático e sequencial reforça a experiência vivida na situação registrada como dado principal do trabalho. De acordo com Chaia, o vídeo é a captura de uma ação de “movimentos insistentes, repetitivos e delirantes da cabeça. Aí está presente a potente recusa - o ‘não’ - e o estado febril. É uma ativação dos conceitos que estão em Máscaras.”
colaboração: João Marcos de Almeida
fotografia: Bruno Risas
som direto: Juliana R.
edição: João Marcos de Almeida
Desenho coreográfico
A performance está presente na obra de Lia Chaia de diversas maneiras. Em suas fotos, vídeos e áudios é comum para a artista recorrer ao próprio corpo para compor a sua obra. Em Desenho coreográfico, um percurso feito com uma linha colada à parede convida o espectador a percorrer, com as mãos e de olhos fechados, seu trajeto, deixando o corpo de quem participa trabalhar junto com o desenho, ativando a obra e colocando seu corpo em movimento.
Mãos chifres
No vídeo, duas mãos sacodem chocalhos em formato de mãos chifradas. O gesto é símbolo evocativo de diversas procedências, seja por satanistas, ou como sinal de proteção contra o mal, como na Itália, onde o gesto equivale às três batidas na madeira. No budismo, uma variante do sinal é usada para expulsar demônios e eliminar obstáculos e negatividade; na Grécia, o sinal remete à traição, já que lembra a mitologia da rainha Pasiphae de Creta, que manteve relação adultera com o Touro de Creta. Um som intenso de bateria acompanha o vídeo, propondo um ruído ritualístico que faz referência a rituais onde o tambor assume papel sagrado na ligação com divindades.
colaboração: João Marcos de Almeida
fotografia: Bruno Risas
som direto: Juliana R.
bateria: Guilherme Paccola
edição: João Marcos de Almeida
Aparição
Aparição é formada por recortes e rearticulações de fotografias que são organizados como máscaras inventadas, que misturam diferentes culturas, desde a austeridade das tradicionais máscaras africanas até pinturas de palhaços, que têm em sua origem o reverso da compostura régia da soberania.
Fonte
A obra registra uma ação fotografada no Viaduto do Ibirapuera, que mostra uma figura feminina cujo corpo se camufla com imagens de vegetação, deixando entrever o seio da mulher que realiza a ação.
Estacionamente
Na fachada da galeria, Lia Chaia propõe uma instalação performática com um banco instalado sob a palavra que dá nome ao trabalho. Com códigos próprios da circulação de automóveis, como a cor amarela que divide as faixas de trânsito e o título, que junta os termos estacionamento e mente, o trabalho é um convite à pausa. Segundo Chaia, “Estacionamente presta-se à desaceleração do ritmo urbano e a um interregno”.
Desenho carimbo seta
Os Desenhos carimbo seta criam fluxos contínuos e multidirecionados, a partir de uma matriz em forma de seta repetida sobre papel; segundo Lia, “os desenhos indicam o movimento incessante do corpo e da cidade.
Tripa métrica
Chaia propõe um objeto em borracha vermelha serigrafada em preto que assume a forma – e o tamanho - de um intestino humano dividido em escalas como uma régua.