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agosto 28, 2019
Katinka Bock no Pivô, São Paulo
Esta exposição é sobre lugares onde as pessoas vivem juntas, populações, zonas problemáticas, zonas de contato e ternura, corpos poluídos, perda de controle, momentos em suspensão, motivos para ficar juntos. Cidades são todas diferentes, mas iguais. Paris e São Paulo, quem se importa, humanos e animais, concreto e palavras, vasos e rachaduras, talvez seja apenas uma questão de temperatura e intensidade. No fim é sobre dignidade.
Katinka Bock
O Pivô encerra seu programa anual de 2019 com a exposição “Avalanche”, de Katinka Bock. Esta é a primeira vez que a artista alemã sediada em Paris apresenta suas obras na América do Sul. O projeto comissionado é composto por trabalhos inéditos realizados durante visitas a São Paulo e a partir da relação da artista com o prédio ocupado pelo Pivô, o icônico Edifício Copan. Bock apresentará uma série de esculturas feitas em bronze, cerâmica, argila crua e outros materiais, orgânicos ou inorgânicos, recorrentes em sua produção. A abertura acontece no dia 31 de agosto, das 15 às 19h, com visitação gratuita até 09 de novembro.
A obra de Bock geralmente responde a contextos geográficos específicos, levando em consideração as características arquitetônicas, urbanas, sociais, climáticas, temporais e espaciais dos ambientes em que trabalha. Suas obras criam um movimento contínuo entre o interior e o exterior dos espaços onde são instaladas, afetando também as interações sociais que informam estes locais. A artista parte da escultura para lidar com relações entre tempo e espaço, história e geografia, natural e artificial, perene e efêmero. Interessada em processos naturais de transformação, Bock produz esculturas e instalações que resultam de eventos que parecem desafiar o material utilizado, gerando uma relação simbiótica entre construções artificiais estáticas e a natureza em constante movimento. A artista costuma fazer uso de materiais naturais, como couro, madeira, pedra, tecido, gesso, cerâmica ou grafite, além de objetos encontrados.
Deslocamentos e catástrofes de outra natureza
Exposição reagente ao ambiente em que se realiza, “Avalanche” parte de uma série de procedimentos executados no microcosmo do Copan. Estes procedimentos confrontam os materiais de trabalho da artista com o contexto que envolve o prédio. Horizontal Words é talvez o gesto mais radical da mostra. Consiste no lançamento de um grande bloco de argila crua do topo do edifício. Como um corpo que cai, a peça registrará em sua forma final a violência do impacto do material no chão, um tipo de violência que aponta para as complexas condições de vida de uma megalópole disfuncional como São Paulo, onde as injustiças sociais estão impressas nos corpos de um grande número de seus habitantes. Em outra escultura, Bock cria um mecanismo para capturar a água da chuva, usando um funil conectado a canos de cobre que percorrem o espaço. A água atravessa a galeria, caindo primeiro numa pia tomada emprestada de um dos apartamentos e depois ganha a rua novamente através de um furo no assoalho do Pivô. A artista também estendeu 20 metros quadrados de pano azul na laje do edifício. O tecido foi posicionado durante sua visita a São Paulo em abril e, depois de quase quatro meses exposto às intempéries, será colocado em bastidores, tal qual pinturas que reproduzem, com resultados imprevisíveis, as marcas da passagem do tempo. Bock também apresentará uma coleção de cerâmicas feitas na oficina do Centro Universitário Belas Artes e construirá uma estrutura semelhante a uma rede de dormir gigante feita com o recorte de um pedaço da rede de proteção que envolve o prédio. Este tipo de apropriação de elementos da construção civil como ponto de partida para esculturas e instalação também aparece em Sand, em que a artista quebra detritos em partes minúsculas até serem transformados no que ela chama de “areia”.
Em sentido literal, uma avalanche se refere a um deslocamento abrupto e massivo de neve. Como figura de linguagem, no entanto, o fenômeno trata de qualquer coisa que arremeta com violência. Se as condições climáticas de um país tropical como o Brasil não permitem a ocorrência de avalanches reais em seu território, catástrofes de outra natureza decorrem da condição política do país. Bock está interessada nas mudanças que estas irrupções abruptas podem provocar.
“Avalanche” foi viabilizada por meio de parcerias com o Institut Français e com o Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que cedeu seus ateliês de cerâmica para o uso da artista.
Katinka Bock (Frankfurt, 1976) vive e trabalha em Paris e Berlim. Entre suas exposições individuais estão “Radio/Tomorrow’s Sculpture”, IAC (2018); “RADICETERNA”, Manifesta 12 (2018); “Smog”, Meyer Riegger (2017); “Horizontal Alphabet (black)”, MUCEM; “-0-0—0”, Mercer Union (2017). Recebeu os prêmios e bolsas da Fondation d’entreprise Ricard Prize (2012); Museum of Contemporary Art de Detroit (2010) e Cité internationale des Arts (2007). Em outubro de 2019 terá uma exposição individual no Centre Georges Pompidou como parte do Prix Marcel Duchamp, o prêmio de arte mais importante da França. Sua produção é regularmente discutida em publicações como Le Monde, Vogue, Beaux Arts Magazine, Frieze Magazine, Art Press, ArtForum, Artnet, entre outras.