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agosto 27, 2019
Eu estou aqui agora na FVCB, Viamão
No dia 31 de agosto de 2019, a Fundação Vera Chaves Barcellos inaugura a mostra coletiva Eu estou aqui agora, com curadoria de Elaine Tedesco e Luísa Kiefer. A exposição reúne mais de 30 trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros, incluindo fotografias, videoarte, instalações, pinturas, desenhos e esculturas.
A exposição Eu estou aqui agora, como seu título pontua, aborda a presença e o tempo presente. A mostra tem como ponto de partida a performance Momento Vital, de Vera Chaves Barcellos, na qual a artista repete, e reitera, inúmeras vezes que “eu estou aqui presente agora”. A ação de centramento na leitura, que se autorreferencia em seu fazer, ecoa na pesquisa curatorial servindo de elo para pensar as diferentes relações entre as obras que integram o acervo da Fundação Vera Chaves Barcellos e outras produções escolhidas especialmente para esta ocasião.
A afirmação da artista ressoa logo na entrada do espaço expositivo e se refaz, novamente, ao longo das obras. Como um mantra repetido em voz baixa, uma espécie de meditação. A performatividade, o deslocamento de objetos de uso doméstico, as intervenções, os convites à participação, permeados por posicionamentos críticos em relação ao contexto social, com ironia, nonsense e irreverência são táticas elencadas pelos artistas em seus processos de trabalho que estruturam-se substancialmente nas obras apresentadas ao longo da exposição. Há nessa escolha o desejo de provocar a reflexão a partir de uma crítica sutil, de testar o olhar e o pensamento a partir de relações e de pontuações sensíveis, bem humoradas, porém densas.
As obras, de diferentes tempos, estão aqui, agora. Algumas, feitas há anos, são tão urgentes quanto quando foram criadas. Outras, mais recentes, também não deixam de estar ligadas ao passado. E há ainda outras, nas quais esse agora, sem tempo, pulsa. Para onde mais vamos com esse aqui agora?
A exposição conta com obras do acervo da FVCB e de artistas convidados especialmente para a mostra. Entre eles estão o grupo 3NÓS3, Alexandre Copês, Antoni Muntadas, Camila Leichter, Dione Veiga Vieira, Domènec, Fernanda Gassen, Glaucis de Morais, Heloísa Schneiders da Silva, Lenora de Barros, Lia Menna Barreto, Marilá Dardot, Mario Ramiro, Marlies Ritter, Marina Camargo, Milton Kurtz, Patrícia Francisco, Patricio Farías, Regina Vater, Samy Sfoggia e Vera Chaves Barcellos.
Para o evento de abertura, a FVCB disponibilizará transporte gratuito, com saídas às 11h e às 14h, em frente ao Theatro São Pedro. Inscrições e informações pelo info@fvcb.com ou 51-98102-1059 e 51-3228-1445.
SOBRE AS CURADORAS
Elaine Tedesco, Porto Alegre, RS, 1963
Artista plástica com produção em fotografia, instalação e videoperformance. É professora ligada aos cursos de graduação e pós-graduação do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área de fotografia e vídeo. Participou de diversas exposições coletivas, sendo as mais recentes: Apropriações, Variações e Neopalimpsestos, na FVCB, em Viamão/RS, em 2018. Em 2016, participou da Ocupação Coaty, em Salvador, Bahia, Das Meer/ The Sea e Medienwerkstatt zur Berliner Liste 2016, em Berlim, Alemanha. Possui obras em coleções públicas: MARGS | RS, MAC | RS, MAC | Paraná, MAM | Bahia, Museu de Arte de Brasília, Museo de Arte Latino Americano de Buenos Aires (MALBA), Casa das 11 Janelas e FVCB. Esteve presente na segunda e na quinta Bienal do Mercosul (1999 e 2005 respectivamente), realizada em Porto Alegre, RS. Em 2007, esteve presente na 52a. Esposizione Internazionale d’Arte, La Biennale di Venezia, curadoria Robert Storr, Veneza, Itália.
Luísa Kiefer, Porto Alegre, RS, 1986
É doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. Realizou estágio doutoral no departamento de fotografia da School of Media, Arts and Design da University of Westminster, Londres, Inglaterra. É Mestre em História, Teoria e Crítica de Arte pelo mesmo programa e jornalista formada pela PUCRS. Desde 2013, atua como curadora independente, tendo realizado exposições em diversos espaços de arte de Porto alegre, como Fundação Ecarta, Galeria Gestual, Espaço Cultural ESPM, Galeria Mamute, Sala Branca da Galeria Alice Floriano e Instituto Ling. Coordena o Atelier das Pedras, espaço que abriga o acervo da artista Gisela Waetge. Atualmente, é coordenadora e curadora do Linha (Espaço cultural independente). Vive e trabalha em Porto Alegre.
INFORMAÇÕES SOBRE ALGUMAS OBRAS
Marilá Dardot, Lema, 2015
A obra é constituída por um grande carimbo, com as palavras “não à ordem”. O carimbo, em seu uso burocrático, é utilizado para normatizar, oficializar ou legitimar as mais diversas ações humanas, ou seja, serve para chancelar as trocas humanas no mundo administrado e registrar como válidas as inúmeras relações sociais, políticas e econômicas. Quando utilizado por artistas, o uso prosaico que é dado a esse equipamento é subvertido e passa a ser usado para questionar o seu próprio poder de chancela, seja servindo-se da literalidade da linguagem, como no caso de Lema, seja utilizando-se de figuras de linguagem como o sarcasmo ou a ironia.
Patricio Farías, Autorretrato, 2000
Nesta instalação, Patricio utiliza um dos mais notáveis símbolos da igreja católica: o confessionário. Usado desde a alta idade média, essa construção em madeira serve para que o fiel confesse os seus “pecados”. Nela, o artista acopla um dispositivo em seu interior, um vídeo gravado por ele onde murmura e sussurra um texto não compreensível, criando uma atmosfera similar às confissões realizadas nas igrejas católicas.
Regina Vater, Da Série Camas around the world, 1974/75
Imagens fotográficas realizadas em meados da década de 1970 mostram leitos vazios, em que os corpos gravaram e deixaram vestígios, guardando as marcas daqueles que recentemente os utilizaram.
Vera Chaves Barcellos, Momento vital, 1979
Em 1979, Vera Chaves Barcellos expõe o livro de artista Momento Vital na Galería 542 em Porto Alegre, que teve origem na performance Momento Vital, realizada no Espaço N.O. no mesmo ano. O trabalho abre a exposição Eu estou aqui agora. Nele, a artista vai reiterando diversas vezes o enunciado “eu estou aqui presente agora”, estabelecendo em um crescente, as condições para um endereçamento de alta carga poética em sua fala.