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agosto 20, 2019
Campo na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Como um ou mais campos físicos interagem com a matéria?
EAV Parque Lage abrirá coletiva com obras de Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Ernesto Neto, Laura Lima e Luiz Zerbini, pensando a escola como um campo de forças dinâmicas
Um campo pode ser pensado como a atribuição de uma quantidade física em todos os pontos do espaço e do tempo. Pensar a escola como um campo de forças dinâmicas, por onde passam muitas pessoas, que afetam e são afetadas a partir do fluxo de encontros ali proporcionados, foi o ponto de partida do curador Ulisses Carrilho para criar a exposição “Campo”. A coletiva será aberta no dia 24 de agosto, às 19h, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com visitação pública a partir do dia 25. Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Ernesto Neto, Laura Lima e Luiz Zerbini são os artistas e ex-alunos convidados a interpelar a noção de espaço em suas obras, a partir de diferentes campos.
Às 15h, no domingo, dia 25, acontecerá a apresentação Meu Querido, de Marcia Milhazes Companhia de Dança na instalação Gamboa II, de Beatriz Milhazes.
O geógrafo brasileiro Milton Santos define o espaço como uma acumulação desigual de tempos. A partir dessa perspectiva, Carrilho incluiu a noção de tempo na mostra, definindo-se aí o eixo temático que norteia a nova exposição.
A curadoria selecionou basicamente uma obra ou série de cada um dos seis grandes nomes já citados, que interpelam a noção de espaço e revelam a relação de seus autores com a EAV Parque Lage. A exposição “Campo” representa um retorno destes artistas à instituição que, de diferentes formas, atravessa suas trajetórias como um espaço relevante e singular, uma ordem de forças.
A EAV vem discutindo de forma constante e ativa a pedagogia de uma escola de arte. Quando o artista deixa de aprender? Como é o processo de aprendizagem? Qual a relevância dos espaços de formação para os artistas e para o pensamento deles? São os artistas que fazem a escola, ou a escola faz o artista?
Se as forças são dinâmicas, entende-se que a Escola de Artes Visuais constituiu-se, com toda a sua potência, a partir dos artistas que por lá passaram. Partindo mais uma vez da Física, a determinação de uma força resulta da intensidade, direção e sentido que atuam sobre o objeto.
É nesse contexto de absoluta correlação de forças e afetos, que as obras serão exibidas. O trabalho de Ernesto Neto desafia o campo gravitacional e provoca os sentidos, exaltando tudo aquilo que excede. A série de piscinas de Adriana Varejão, que explora o conceito de força centrípeta, vai dialogar com a piscina do palacete, sem literalidades. Beatriz Milhazes trabalha com a verticalidade em rara instalação tridimensional. Luiz Zerbini traz a potência da floresta em série de 16 monotipias criada para ilustrar “Macunaíma”, de Mario de Andrade (o filme foi rodado no Parque Lage há exatos 50 anos). Tijolos feitos a partir de convites de exposições erguem a parede de Daniel Senise, exposta anteriormente na 29ª Bienal de SP (2010), questionando o próprio campo da arte. E a filosofia ornamental de Laura Lima ocupará a capela das cavalariças, com uma série de trabalhos/instaurações que tensionam o espaço da arte.
“Ao questionar a própria noção de espaço, a Escola de Artes Visuais bota em pauta o espaço de formação. A escolha de pensar o campo é uma maneira mais complexa de pensar a escola, colocando o aluno como protagonista: é ele quem dá os contornos. A história da EAV é contada a partir dos que alunos-artistas que por ela passaram. A partir de um reajuste das percepções de espaço, esperamos contribuir com aqueles que estão hoje na instituição, em formação e gerando os novos contornos”, afirma Ulisses Carrilho.
O programa público, que seguirá em paralelo à exposição, consiste em criar uma série de entrevistas com os seis artistas e críticos convidados, com quem trabalharam recentemente. As entrevistas serão produzidas ao vivo na EAV, abertas ao público, com interlocução. Além disso, será desenvolvida uma plataforma de conteúdo para a instituição, a partir da vivência com os artistas.
A exposição “Campo” é patrocinada pelo escritório Pinheiro Neto Advogados, de forma independente, sem qualquer incentivo ou lei de isenção fiscal. Em agosto, o escritório de Direito completa 50 anos de atuação no Rio e seus sócios celebram a data financiando a mostra no Parque Lage.