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agosto 20, 2019
Ana Teixeira no Maria Antonia, São Paulo
Maria Antonia da USP inaugura a individual da artista Ana Teixeira que traz a conversa como procedimento de criação e ação política
O Centro Universitário Maria Antonia da USP recebe, a partir de 23 de agosto, a exposição É tarde, mas ainda temos tempo. A mostra individual da artista Ana Teixeira traz para o ambiente expositivo registros e desdobramentos de algumas ações feitas por ela em espaços públicos de diferentes lugares. A curadoria é de Galciani Neves (ler texto curatorial).
A mostra configura-se como uma panorâmica de seus 20 anos de trajetória, celebrados recentemente em um livro lançado em dezembro de 2018, cujo título “Para que algo aconteça” reafirma seu interesse por uma arte que propicie encontros -- sejam eles efêmeros, amorosos, incômodos ou mesmo inconvenientes. Encontros que podem ser, antes de tudo, enfrentamentos entre os sujeitos participantes de suas ações e eles próprios.
Para a artista, importam os acontecimentos e suas possíveis repercussões nos participantes. Teixeira tem como referência artistas que também experimentaram gestos de troca com o público, como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. “Para mim, é a possibilidade de abrir-se para o que se apresenta, a um ser ou a algo, a uma situação, a uma obra de arte, ou a si mesmo. E a entrega é, antes de tudo, um ato de coragem”, salienta.
A exposição conta, ainda, com novos trabalhos. Um deles é Cala a boca já morreu, uma série de desenhos em tamanho natural, feitos diretamente em uma das paredes da sala, de 43 mulheres com quem a artista conversou no entorno do Centro Maria Antonia durante o mês de março de 2019, perguntando-lhes o que elas não querem mais calar. Segundo a artista, o trabalho dialoga diretamente com o momento atual, principalmente no Brasil -- mas não apenas no país. “Vivenciamos a derrocada das democracias e o fortalecimento de movimentos de direita, que ameaçam as liberdades individuais e coletivas. Esta ação de dar voz às mulheres, indistintamente, em ruas e outros espaços públicos, é um ato de luta e resistência”, enfatiza.
As ações Outra Identidade e Escute! serão realizadas pela artista algumas vezes durante o período da mostra. O título incita os visitantes a pensar nas dificuldades atuais como possíveis de serem superadas. ”É tarde, mas ainda temos tempo para rever, reverter, provocar, desafiar, estimular o senso crítico, propor trocas, exercitar a tolerância, encontrar-se, ofertar-se, fortalecer-se e fortalecer o outro, ver o outro, ouvir o outro, dar espaço ao outro. Ainda temos tempo para acontecer”, analisa Teixeira.
No dia 28 de agosto, às 19 horas, a artista e a curadora participam do programa Conversa na exposição, e convidam o público a refletir em conjunto sobre as obras expostas.