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agosto 18, 2019

Histórias feministas: artistas depois de 2000 no Masp, São Paulo

‘Histórias feministas’ propõe, por meio da arte, perspectivas feministas para o presente

Exposição reúne artistas, coletivos e ativistas que trabalham a partir de perspectivas feministas, ampliando um debate que ganhou visibilidade nos anos 1960 e 70, mas que segue em plena efervescência

Todos os anos, a programação do MASP é guiada por um eixo temático pensado em torno de diferentes histórias, elaboradas a partir de diferentes perspectivas, incluindo narrativas reais, ficcionais, pessoais e documentais, vários suportes e distintas temporalidades e territórios — em 2016, foram as Histórias da infância, em 2017 as Histórias da sexualidade e em 2018, as Histórias afro-atlânticas. As histórias inauguram sempre uma grande mostra coletiva e também pautam as exposições individuais, oficinas, seminários, cursos e palestras que ocorrem ao longo daquele ano. Em 2019, pela primeira vez, o eixo será tema não apenas de uma, mas de duas exposições paralelas, Histórias das mulheres e Histórias feministas, que estarão abertas ao público de 23 de agosto a 17 de novembro, com o objetivo de resgatar e difundir o trabalho de artistas mulheres, além de pensar sobre possíveis desdobramentos do feminismo no âmbito das artes.

Com curadoria de Isabella Rjeille, curadora assistente do MASP, Histórias feministas: artistas depois de 2000 é um contraponto à mostra Histórias das mulheres: artistas antes de 1900, que busca reposicionar a obra de artistas que trabalharam até o final do século 19, ao discutir a diferença de valor entre o universo masculino e o feminino e também entre arte e artesanato. Histórias feministas é um desdobramento do ciclo de 2017, Histórias da sexualidade, e não se propõe a esgotar um assunto tão extenso e complexo como a relação entre arte e feminismo, mas incitar novos debates a partir da produção de artistas cujas produções emergiram no século 21.

Histórias feministas foi também título da exposição individual da artista Carla Zaccagnini em 2016 no MASP, anunciando o compromisso e o interesse da direção artística do museu em uma abordagem feminista da história da arte. Na condição dupla de continuidade de um projeto e de novo capítulo de uma série de exposições, Histórias feministas não se propõe, nas palavras da sua curadora, a fazer um mapeamento da arte feminista no Brasil e no mundo, muito menos associar a produção de artistas mulheres a vertentes específicas dos feminismos. “A ideia não é mapear a produção de artistas a partir de um recorte geracional, mas entender como os feminismos vêm sendo utilizados como ferramentas para desmantelar narrativas e transformar a maneira como algumas histórias vêm sendo escritas. A mostra reúne artistas que têm e não têm o feminismo como questão central de sua obra, mas que, de alguma maneira, abordam assuntos urgentes a partir de perspectivas feministas”, diz Rjeille. “A exposição procura mostrar como o feminismo segue influenciando a criação artística, interseccionando lutas, narrativas e conhecimentos.”

Segundo a curadora, nesta exposição, o feminismo é entendido como “uma prática capaz de provocar fricções e diálogos trans-históricos e transnacionais”, e que não deixa de considerar as questões de gênero em relação a classe, raça, etnia, geração, região, sexualidade e corporalidade, entendendo-os como elementos que transformam radicalmente e tornam mais complexas as experiências das mulheres ao redor do mundo.

A presença da discussão no MASP, por sua vez, insere o museu na rede de esforços que têm sido empreendidos há mais de cem anos para repensar as diferenças, as inserções e as relações entre os gêneros. Nos últimos anos, foram realizadas importantes exposições sobre arte e feminismo, como a icônica WACK! Art and the Feminist Revolution [WACK! Arte e a revolução feminista], com curadoria de Cornelia Butler (2007), e Radical Women: Latin American Art 1960–1985 [Mulheres Radicais: Arte latino-americana 1960-1985], de Andrea Giunta e Cecilia Fajardo-Hill, em 2017/18, apresentada inicialmente no Hammer Museum, Los Angeles, e recentemente adaptada para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Essas e outras mostras abrangem o período de gênese dessa discussão nas artes visuais: dos anos 1960 aos anos 1980.

No entanto, além da importante exposição Global Feminisms: New Directions in Contemporary Art [Feminismos globais: novas direções na arte contemporânea], de Maura Reilly e Linda Nochlin (2007), poucas foram as mostras internacionais realizadas que têm o século 21 como foco – ou foram produzidas na América Latina. Com esse recorte, porém, Histórias feministas não busca afirmar que questões do passado estejam superadas ou tenham sido deixadas de lado.

“Mesmo porque essas questões não são universais, e não poderiam ser questionadas da mesma maneira em diferentes partes do mundo”, diz Rjeille. “Abordar histórias feministas no século 21 significa partir de um tempo presente, em plena construção e urgência — um tempo que implica não apenas repensar seu passado e rever os legados deixados por artistas, teóricas e ativistas, mas também reimaginar o futuro.”

Antologia e catálogo

Para enriquecer e aprofundar as pesquisas para este programa de 2019, o MASP organizou três seminários realizados no museu entre fevereiro de 2018 e abril de 2019, que contaram com apresentações de Ana Paula Cavalcanti Simioni, Andrea Giunta, Anna Bella Geiger, Amy Tobin, Carmézia Emiliano, Catherine Morris, Cláudia Calirman, Claire Fontaine, Débora Maria da Silva, Eliane Dias, Elke Krasny, Eugenia Vargas Pereira, Gabriele Schor, Georgina G. Gluzman, Janet Toro, Judy Chicago, Katy Deepwell, Kaj Osteroth, Kanitra Fletcher, Margareth Rago, Mariela Scafati, Marina Vishmidt, Maura Reilly, Minoo Moallem, Natalie Bell, Regina Vater e Renata Bittencourt.

Por ocasião da exposição, o MASP publicará uma antologia, organizada por André Mesquita, curador, Amanda Carneiro, curadora assistente, e Adriano Pedrosa, diretor artístico, que reunirá uma seleção dos textos apresentados nas palestras, juntamente com textos fundamentais sobre arte e feminismo. Também será publicado um catálogo ilustrado, com textos e reproduções de obras na exposição.

Artistas já confirmadas para a exposição:
1. Aline Motta (1974, Niterói, Rio de Janeiro, vive em São Paulo)
2. Ana Mazzei (1980, São Paulo, vive em São Paulo) & Regina Parra (1984, São Paulo, vive em São Paulo)
3. Carla Zaccagnini (1973, Buenos Aires, Argentina, vive em Malmö, Suécia)
4. Carolina Caycedo (1978, Londres, vive em Los Angeles)
5. Clara Ianni (1987, São Paulo, vive em São Paulo)
6. Daspu (fundada em 2005, Rio de Janeiro)
7. Élle de Bernardini (1991, Itaqui, Rio Grande do Sul, vive em São Paulo)
8. Ellen Lesperance (1971, Minnesota, USA, vive em Òregon, EUA)
9. EvaMarie Lindahl (1976, Viken, Suécia, vive em Malmö, Suécia) & Ditte Ejlerskov (Frederikshavn, Dinamarca, 1982, vive em Skælskør, Dinamarca)
10. Giulia Andreani (1985, Veneza, Itália, vive em Paris)
11. Imri Sandström (1980, Umeå, Suécia, vive em Järstorp, Suécia)
12. Julia Phillips (1985, Hamburgo, vive em Chicago e Berlim)
13. Kaj Osteroth (1977, Beckum, Alemanha, vive em Berlim/Brandenburg, Alemanha) & Lydia Hamann (1979, Potsdam, vive em Berlim, Alemanha)
14. Katia Sepúlveda (1978, Santiago, Chile, vive em Köln, Alemanha, e Tijuana, México)
15. Lyz Parayzo (1994, Rio de Janeiro, vive em São Paulo)
16. Marcela Cantuária (1991, Rio de Janeiro, vive no Rio de Janeiro)
17. Mequitta Ahuja (1976, Grand Rapids, EUA, vive em Baltimore, EUA)
18. Mónica Restrepo (1982, Bogotá, vive em Cali, Colômbia)
19. Mônica Ventura (1985, São Paulo, vive em São Paulo)
20. Rabbya Naseer (1984, Rawalpindi, Paquistão, vive em Lahore) & Hurmat Ul Ain (1984, Karachi, Paquistão, vive em Islamabad)
21. Rosa Luz (Brasília, Distrito Federal, 1996, vive em Brasília, Brasil)
22. Ruth Buchanan (1980, New Plymouth, Nova Zelândia, vive em Berlim)
23. Sallisa Rosa (1990, Goiânia, Goiás. Vive em Belo Horizonte, Brasil)
24. Santarosa Barreto (1986, São Paulo, vive em São Paulo)
25. Sebastián Calfuqueo (1991, Santiago, Chile)
26. Serigrafistas Queer (fundada em 2007, Buenos Aires, Argentina)
27. Tabita Rezaire (1989, Paris, França, vive em Cayenne, Guiana Francesa)
28. Tuesday Smillie (1981, Boston, EUA, vive no Brooklyn, Nova York)
29. Virgínia de Medeiros (1973, Feira de Santana, Bahia, vive em São Paulo)
30. Yael Bartana (1970, Kfar Yehezkel, Israel, vive em Amsterdam, Berlim e Tel Aviv)

Posted by Patricia Canetti at 8:25 PM