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agosto 4, 2019
Sérgio Sister na Nara Roesler, São Paulo
Viewing Room - Planejamos lançar novos espaços de exposição online a cada três meses, que servirão de complemento às nossas exposições físicas e lançaremos também algumas exposições online independentes que servirão como um quarto espaço da galeria, dando visibilidade internacional e diversificada aos nossos artistas.
A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Imagens de uma juventude pop – pinturas políticas e desenhos da cadeia, quarta individual de Sérgio Sister na sede paulista da galeria. Acompanhada de texto de Camila Bechelany, a mostra reúne pela primeira vez, um número significativo de obras pouco conhecidas pelo público, – produzidas entre 1967 e 1971 –, incluindo desenhos realizados nos 19 meses em que o artista esteve detido no Presídio Tiradentes, em São Paulo, durante o regime militar (1964–1985).
Fazem parte da exposição cerca de 35 desenhos, em sua maioria em tinta aquarela, giz pastel e caneta hidrográfica sobre papel, em diferentes dimensões e formatos. Bastante coloridos, com traços caricaturais e psicodélicos, os desenhos funcionavam, à época, como uma documentação do cotidiano prisional. Eram, segundo Sister, “uma espécie de crônica para registrar o que se passava entre nós. Procurava criar símbolos gráficos e cores, com anotações sobre choques elétricos, a tranca, a porrada [...].” Hoje, por outro lado, a produção é vista pelo artista como uma importante ferramenta de recuperação de sua própria identidade e de apropriação de um espaço espiritual durante um período de trevas.
Sem expectativa de liberdade e deslocado dos papéis desempenhados fora da prisão – Sister era estudante de Ciências Sociais e também atuava como jornalista –, o artista passou a desenhar todos os dias depois de receber da Bela, sua esposa e então namorada, uma caixa de crayon e um caderno de desenho. Mais tarde, graças ao convívio diário com artistas e arquitetos no presídio de Tiradentes, – como Alípio Freire, Carlos Takaoka e José Wilson, Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre, Julio Barone, Carlos Henrique Heck e Sérgio Souza Lima –, formou-se ali uma espécie de grande atelier, com uma prolífica troca de ideias e materiais. Foi neste momento que Sister, em contato com diversas questões teóricas trazidas pelos novos companheiros, passou a pretender com seus desenhos uma ligação maior com o mundo da arte.
É a primeira vez que uma ampla seleção destes desenhos será exibida em uma exposição. Antes disso, alguns deles participaram das mostras Pequenas insurreições, no Centro Cultural São Paulo – CCSP (1985); Caros amigos, no Memorial da América Latina, São Paulo (2008) e mais recentemente, da exposição AI-5 50 anos – Ainda não terminou de acabar, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018).
Anteriores à produção de Tiradentes, as 15 pinturas sobre tela presentes na exposição – realizadas entre 1966 e 1967 –, trazem particularidades que denotam uma forte influência da pop-art. Ao contrário do pop norte-americano, que tinha a banalização da imagem como ponto de partida e voltava sua atenção aos objetos comuns do cotidiano, a assimilação do movimento no Brasil refletia a tensão existente em decorrência do regime militar imposto no país. Como outros artistas de sua geração, Sérgio Sister se apropriou intuitivamente da agressividade e ironia inerentes ao pop para dar vazão à questões sociais e políticas.
Simultaneamente à exposição, a Galeria Nara Roesler irá lançar seu Viewing Room, um espaço de exposições online, onde os visitantes poderão descobrir e colecionar obras selecionadas exclusivamente para esta plataforma. Para seu lançamento, a Galeria selecionou 15 obras recentes e em pequeno formato de Sérgio Sister que estarão disponíveis somente para venda online.
Sérgio Sister (n. 1948) nasceu em São Paulo, Brasil, onde vive e trabalha. Nos anos 1960, estudou pintura em cursos livres na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, em São Paulo, e em 1974 graduou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, onde inicia a pesquisa de mestrado no Departamento de Ciência Política. Representante da Geração 80, seu processo criativo resulta em variadas densidades de pintura e diferentes sobreposições ou predominâncias cromáticas. Como desdobramento das questões de sua pintura, Sister também faz peças tridimensionais, caso das séries Caixas, iniciada em 1996, além de Pontaletes, a partir de 2006 e Ripas, 2009.
Participou das 9ª e 25ª edições da Bienal de São Paulo (1967, 2002). Exposições coletivas recentes incluem: A linha como direção, Pina Estação, São Paulo, SP, Brasil (2019) The Pencil is a Key: Art by Incarcerated Artists, The Drawing Center, New York City, NY, USA (2019); Géométries Américaines, du Mexique à la Terre de Feu, Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, França (2018); AI-5 50 anos – Ainda não terminou de acabar, Instituto Tomie Ohtake (ITO), São Paulo, Brasil (2018); MAC USP no século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), Brasil (2017); Sala de encontro – Dentro, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil (2017).
Exposições individuais incluem: Sérgio Sister, Kupfer Gallery, Londres (2017); Pintura com ar, sombra e espaço, Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro, Brasil (2017); Sergio Sister: Malen Mit Raum, Schatten und Luft, Galerie Lange + Pult, Zurique, Suíça (2016); Expanded Fields, Nymphe Projekte, Berlim, Alemanha (2016); Ordem Desunida, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil (2015); Sérgio Sister, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil (2013) e Sergio Sister, Galerie Emmanuel Hervé, Paris, França (2013).
Suas obras fazem parte de acervos como os do Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Centro Cultural São Paulo; e Instituto Figueiredo Ferraz.
A Galeria Nara Roesler é uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil. Representa artistas brasileiros e internacionais, estabelecidos e em início de carreira, e conta com sedes em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. Fundada em 1989 por Nara Roesler, a Galeria fomenta o desenvolvimento e a difusão dos trabalhos de seus artistas através de um consistente programa de exposições, sólidas parcerias institucionais e diálogo constante com curadores de destaque no cenário artístico contemporâneo. Desde 2002, a galeria desenvolve anualmente o projeto Roesler Hotel, que tem como objetivo promover o diálogo entre as comunidades artísticas nacional e internacional, convidando curadores e artistas a realizar experimentos em seu espaço.