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julho 29, 2019

Zip’Up: João GG na Zipper, São Paulo

Em Retrogosto, exposição individual de João GG no projeto Zip’Up, cada trabalho é tão ostensivamente novo quanto opera um déjà vu: fotografias de paisagens que se parecem com outras paisagens; objetos novos que remetem a ruínas; elementos arquitetônicos modernos que evocam coisas antigas; isopor com aspecto mineral; uma trilha sonora fragmentada que deixa intuir uma possível familiaridade. Os objetos remetem a diversas referências mas não são exatamente nenhuma delas, são híbridos ou, nas palavras do artista, há "memórias residuais" impregnadas nos objetos e fotografias, e por eles conjuradas. Com curadoria de Hélio Menezes, “Retrogosto” abre no dia 6 de agosto e fica em cartaz até o dia 31.

A individual parte de dois processos centrais no trabalho de João GG: ambientação e deslocamento de sentidos. A ambientação é pensada pelo artista a partir das relações que os objetos expostos mantém entre si, e de como este convívio produz o ambiente. O deslocamento é um procedimento presente na produção do artista, que trabalha plasticamente um símbolo ou uma imagem altamente codificada até o limite de sua reconhecibilidade, ponto em que o objeto passa a ser apreendido naquilo que sua matéria e cor dão conta de reter. “Rugosidade e lisura, figura e fundo, verticais e horizontais, calor e frio, justaposição de texturas e cores, entre outros pares de opostos complementares, fazem emergir dos objetos de João GG efeitos dramáticos e sensoriais, como se os polos esboçassem definir todas as possibilidades de matizes intermediários”, afirma Hélio Menezes.

Há nas formas criadas pelo artista um interesse pela representação da paisagem. As esculturas em isopor, ainda que lembrem formas virtuais renderizadas, mantém aspectos rochosos, que sofreram desgaste por alguma força exógena. As formas se relacionam, também, com uma estética da cultura de consumo, da linguagem publicitária e do vitrinismo. “Ficção e hibridismo são elementos importantes do trabalho, já que o resultado final dele costuma ser uma associação de três ou quatro referenciais distintos”, conta João GG. Nesta direção, o trabalho “Altar em bump-mapping” (2019) é uma pista para o conjunto da exposição: duas formas escultórias quase simétricas remetem a um altar, embora não venerem divindade alguma.

“A noção de retrogosto, ou aftertaste, é sempre algo sensorialmente específico, mas impossível de definir sem que a substância da qual ele procede seja evocada, mesmo que seu gosto seja diferente, como por exemplo o gosto residual de aspirina ou do vinho”, conta João GG.

Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos oito anos, somam mais de cinquenta exposições e cerca de 70 artistas e 30 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.

Sobre o artista

João GG (Porto Alegre, 1986) produz esculturas e instalações em que iluminação e ambientação são elementos centrais. Os trabalhos são frequentemente construídos com materiais cênicos e/ou sintéticos (isopor, lâmpadas de LED, resina, poliuretano, látex) e estabelecem diálogo com representação de paisagem, ficção, cenografia, vitrinismo, fotografia de estúdio e, de forma mais ampla, com a noção de artifício. Diversos trabalhos partem de imagens altamente codificadas para dessignificá-las ou hibridizá-las. O artista vive e trabalha em São Paulo. Entre suas principais exposições estão: Dear Amazon - BRAZIL X KOREA The Anthropocene, Ilmin Museum of Art, Seul (2019); Inauguração Oficial da Represa do Pacaembu, Casa Alagada, São Paulo (2019); O Aparato, Paço das Artes no MIS, São Paulo (2018); Philiosofreak, Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre (2018); AI-5 50 anos, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018).

Sobre o curador

Hélio Menezes é antropólogo, atua como pesquisador, crítico e curador. Graduado em Relações Internacionais e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, onde tornou-se mestre e doutorando em Antropologia Social. Vem desenvolvendo pesquisas sobre arte e política, com foco em teoria antropológica da imagem. Foi coordenador internacional do Fórum Social Mundial de Belém (Brasil, 2009), Dacar (Senegal, 2011) e Túnis (Tunísia, 2013). É Curador de Literatura do Centro Cultural São Paulo, curador do Museu de Arte Osório César e foi um dos curadores da exposição Histórias Afro-Atlânticas (MASP e Instituto Tomie Othake, 2018) e da mostra de performances Eu não sou uma mulher? (ITO, 2018).

Posted by Patricia Canetti at 10:46 AM