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julho 24, 2019

Dora Longo Bahia na Vermelho, São Paulo

A Vermelho apresenta, de 25 de julho a 24 de agosto, Ka’rãi, a nona exposição individual de Dora Longo Bahia na galeria. Longo Bahia apresenta um objeto, desenhos, pinturas e obras em Realidade Aumentada produzidos nos últimos 4 anos. O título da exposição vem da expressão Tupi para “rasgar com as garras” ou “arranhar”, e está na origem da palavra Carcará, que designa a ave de rapina que habita o centro e o sul da América do Sul.

[scroll down for English version]

A Sala Antonio de projeção recebe o projeto Cripta, proposição do grupo de pesquisa Depois do fim da arte, coordenado por Longo Bahia. A artista tem como prática ceder parte do espaço de suas exposições aos grupos de estudo coordenados por ela desde 2001, quando incluiu seus alunos na individual Quand les attitudes déforment les altitudes, no Forum D’Art Contemporain, em Sierre, na Suíça. Desde então, o procedimento já foi repetido em exposições comerciais e institucionais, como na 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, quando o grupo levava o nome de Anarcademia.

Dora Longo Bahia _ Ka’rãi

Dora Longo Bahia reúne em Ka’rãi obras produzidas desde 2016 em que reflete sobre a conjuntura política atual do Brasil. O título relaciona a unidade da força aérea nazista, Legião Condor, que serviu junto aos nacionalistas durante a Guerra Civil Espanhola – responsável pelo bombardeio da cidade de Guernica na Espanha –, a Operação Condor – uma aliança militar e política entre os EUA e os regimes militares da América do Sul – e a versão nacional da ave, o carcará. Ka’rãi, que quer dizer “rasgar” ou “arranhar” em Tupi, é também a origem da palavra carcará, animal que desde 2006 é o símbolo da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência). Na época da mudança do símbolo, o então diretor da agência justificou a escolha do animal dizendo que o carcará é uma ave que tem altivez, nacionalismo, visão aguda e controle do território.

Fuga (Terceira voz)

Fugas são composições polifônicas, onde uma melodia se sobrepõe a outra. As fugas são estruturadas por um sujeito, que estabelece o tema principal da composição e por subsequentes vozes, que estabelecem variações ao tema principal.

Em sua série de pinturas denominadas Fuga (2019), Dora Longo Bahia propõe experiências de Realidade Aumentada onde uma pintura leva a outra por meio do uso de um aplicativo (Android / Iphone) que revela imagens encobertas. Em Ka’rãi estão presentes o sujeito e a terceira voz da série.

Fuga (Sujeito), instalada na fachada da galeria, apresenta-se como uma pincelada vermelha que, por meio do aplicativo Fuga é substituída pelo vídeo da atriz Mayara Baptista gritando. Fuga (Terceira voz) é composta por seis telas verticais com pinturas abstratas em suas faces frontais. Ao utilizar o aplicativo, o observador pode ver retratos que estão pintados no verso de cada tela. Na Primeira voz os retratos eram de mulheres que foram obrigadas a deixar seus países devido a conflitos políticos ou a desastres naturais e na Segunda voz eram dos grupos mais suscetíveis a se tornar vítimas de violência no Brasil. Agora, na Terceira voz, foram retratadas mulheres perseguidas, torturadas ou assassinadas pelas ditaduras militares de cada um dos países da América do Sul que se alinharam aos Estados Unidos durante a Operação Condor (1968-1989): Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil. Durante o uso do aplicativo, o espectador pode ler mais sobre cada um desses vínculos políticos e seus resultados.

O condor e o carcará

Nos dois dípticos chamados O condor e o carcará (2019), Longo Bahia justapõe a reprodução de uma cartela de cupons de racionamento da Guerra Civil Espanhola e sua versão atualizada relacionada à política brasileira recente. Tanto a frente das cartelas, com iconografia referente ao período da guerra espanhola, quanto o verso dividido em cupons, foram alterados para incluir o Brasil atual. Dobradiças instaladas no trabalho permitem que observador manipule as obras.

Paraíso - Consolação (projeto para a Avenida Paulista)

Originalmente concebido para ser exposto em banners ao longo do canteiro central da Avenida Paulista, o conjunto de desenhos de Paraíso - Consolação (projeto para a Avenida Paulista) (2019) reproduz retratos de indígenas da Amazônia que encaram o espectador.

A Girl A Gun - American Shot

O conjunto de desenhos de A Girl A Gun – American Shot é baseado em uma coleção de imagens reunidas por Longo Bahia, a partir de filmes, onde mulheres empunham armas em plano americano. O termo refere-se, na linguagem cinematográfica, à posição de câmera que enquadra o ator dos joelhos para cima. O plano foi popularizado no cinema norte-americano dos anos 1930 e 1940, em especial nos filmes “Western”, já que enquadrava os cowboys enquanto sacavam a arma de seus coldres. A Girl A Gun – American Shot, é composta por 195 desenhos feitos a partir de imagens colecionadas por Longo Bahia.

Revoluções (projeto para calendário)

O conjunto de desenhos retrata doze revoluções ocorridas em diferentes países e períodos e foi concebido para tornar-se um calendário. Os desenhos são organizados na sequência mensal em que ocorreram.

Fogo

Fogo (2019), retrata em serigrafias feitas sobre mantas térmicas de alumínio (do mesmo tipo utilizado por bombeiros em socorros a vítimas durante resgates), dez instituições culturais brasileiras que foram consumidas por incêndios nos últimos dez anos.

MASP X FIESP

Um modelo formado por blocos de concreto celular e garrafas de coquetel molotov com diferentes tipos de gasolina e diesel simula o trecho da Avenida Paulista (São Paulo) onde estão localizados o Masp e o prédio da FIESP. Duas garrafas com ecoline e óleo diesel representam as pilastras vermelhas do museu e duas garrafas com ecoline e diferentes tipos de gasolina (uma verde e uma amarela) representam o prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Lava Jato

Por cima de 98 páginas da revista pornográfica brasileira Brazil Pocket Hard, Dora Longo Bahia pintou imagens que representam as 84 fases da Operação Lava Jato que precedem a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois do fim da arte _ Cripta

Cripta ​é um projeto de ocupação da Sala Antonio, na Galeria Vermelho, proposto pelo grupo de pesquisa ​Depois do Fim da Arte​, coordenado por Dora Longo Bahia, que investiga qual o papel do artista contemporâneo por meio de intervenções artísticas.

Cripta busca criar intersecções entre os conceitos e formas discutidos durante o primeiro semestre de 2019, em que foram lidos os textos ​Crítica da Razão Negra e ​Necropolítica, de Achille Mbembe, ​O Uso dos Corpos​, de Giorgio Agamben, ​Hegel e o Haiti, ​de Susan Buck-Morss e exibidos os filmes ​Relações de Classe,​ de Straub-Huillet, ​Os zumbis de Sugar Hills,​ de Paul Maslansky, ​A viagem da hiena de Djibril Diop Mambéty, ​A vida de Jesus​ de Bruno Dumont e ​Play​de R​uben Östlund. A proposta apresenta um trabalho em desenvolvimento que compreende os simulacros, os duplos e os zumbis como figuras cruciais da experiência social atual, desvelando os cruzamentos entre os filmes exibidos e os textos explorados, em uma resposta plástica às discussões teóricas estabelecidas no semestre anterior.

O título refere-se à frase “[...] o Negro é [...] o único de todos os humanos cuja carne foi transformada em coisa, e o espírito, em mercadoria - a cripta viva do capital” (Mbembe, ​Crítica da razão negra​, p.21) e aponta para os interesses do grupo em discutir a relação da arte com questões sociais, econômicas, históricas e políticas.

Em Cripta, o Depois do fim da arte é formado por Anna Talebi, Ariédhine Carvalho, Bruno Ferreira, Cássia Aranha, Eloísa Almeida, Felipe Salem, Gabriel Ussami, Gabriel Xavier, Igor Vice, Ilê Sartuzi, Karol Pinto, Lahayda, Leandro Muniz, Marina Lima, Murillu, Nina Lins, Rosângela Pestana, Terenah, Thais Suguiyama, Thais Teotonio e Victor Maia.


From July 25 to August 24, Vermelho presents Ka'rãi, Dora Longo Bahia’s ninth solo exhibition at the gallery. Longo Bahia presents drawings, paintings, works using Augmented Reality and an object – all produced in the last 4 years. The title of the exhibition comes from expression in the Tupi language meaning to "tear with claws" or "scratch"; the expression is also the origin of the word Carcará, which designates the bird of prey that inhabits the center and south of South America.


The Sala Antonio projection room receives the project Cripta [Crypt], presented by the group Depois do fim da arte [After the end of art], which is composed of participants in the research group of the same name coordinated by Longo Bahia. Its participation is part of the artist's practice to share the space of her exhibitions with the research groups coordinated by her since 2001 when she included her students in the solo exhibition Quand les attitudes deforment les altitudes, at the Forum D'Art Contemporain in Sierre, Switzerland. This procedure has since been repeated in commercial and institutional exhibitions, such as at the 28th São Paulo Biennial, in 2008, when the group was named Anarcademia.

Dora Longo Bahia _ Ka'rãi

In Ka'rãi, Dora Longo Bahia presents works produced since 2016 that reflects the current political conjuncture of Brazil. The title links the Nazi Air Force unit, Condor Legion, which served with the nationalists during the Spanish Civil War, and which was responsible for the bombing of Guernica, Spain, with the Operation Condor. The latter was a military and political alliance between the United States Central Intelligence Agency (CIA) and the military regimes of South America. Ka'rãi, which in the Tupi language means "tearing" or "scratching", is also the origin of the word carcará - an animal that has been the symbol of Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) [Brazilian Intelligence Agency] since 2006. At the time of including the bird of the falcon family in the symbol of ABIN, the then director of the agency justified the choice by saying that the carcará is a bird that represents haughtiness, nationalism, acute vision and control of the territory.

Fugue (third voice)

Fugues are polyphonic compositions, where one melody overlaps another. The fugues are structured by a main theme, the subject of the composition, with which subsequent voices establishes variations.

In her series of paintings called Fugue (2019), Longo Bahia employs an Augmented Reality experiences where one painting leads to another through the use of an app (Android / Iphone) that reveals covert images. The subject (the main theme) and the third voice of the series are present in Ka'rãi.

Fugue (Subject), installed on the gallery's facade, presents itself as a red brush stroke that, through the Fugue app is replaced by the video of a female face screaming at the entrance of the exhibition. Fugue (third voice) is composed of six vertical canvases with abstract paintings on their front faces. Using the app, the viewer can see portraits that are painted on the back of each screen. While in the first voice the portraits were of women who were forced to leave their countries due to political conflicts or natural disasters; in the second voice, the portraits are of women most susceptible to becoming victims of violence in Brazil. In this exhibit, in the third voice, Longo Bahia portrays women that were persecuted, tortured or murdered by the military dictatorships of each of the South American countries that aligned themselves with the United States during Operation Condor (1968-1989): Argentina, Chile, Uruguay, Paraguay, Bolivia and Brazil. While using the app, the viewer can also read more about each of these political links and their outcome.

The condor and the carcará

In the two diptychs called The Condor and the Carcará (2019), Longo Bahia juxtaposes the reproduction of a Spanish Civil War rationing coupon cards and an updated version of it linked to recent Brazilian politics. Both the front of the cards, with iconography referring to the Spanish Civil War, and the reverse divided into coupons, were changed to include elements from the current Brazilian situation. The works are installed on hinges allowing the viewer to manipulate the pieces.

Paraíso - Consolação (Project for Avenida Paulista)

Originally designed to be displayed on banners along Paulista Avenue's central bike-lanes, the Paraíso - Consolação (project for Paulista Avenue) (2019) is a series of drawn portraits of original peoples from the Amazon facing the viewer.

A Girl A Gun - American Shot

A Girl A Gun - American Shot is a set of drawings based on a collection of images collected by Longo Bahia from movies where women are wielding weapons. In cinema, the term american shot refers to the camera position that frames the actor from the knees and up. The plan was popularized in American cinema during the 1930s and 1940s, especially in the Western genre, as it framed the cowboys while drawing their guns from their holsters. A Girl A Gun - American shot, consists of 195 of these images collected and drawn by Longo Bahia.

Revolutions (Project for calendar)

The set of drawings depicts twelve revolutions in different countries and periods and was initially conceived as a project for a calendar. The drawings are organized in the monthly sequence in which the revolutions occurred.

Fogo [Fire]

Fogo [Fire] (2019) portrays in screen prints on aluminum thermal blankets (the same type used by firefighters to protect victims during rescues), ten Brazilian cultural institutions that were consumed by fires in the last ten years.

MASP X FIESP

A model made of cellular concrete blocks and Molotov cocktail bottles with different types of gasoline and diesel simulates the length of Paulista Avenue (a main thoroughfare in São Paulo) where the Masp (Museum of contemporary art of São Paulo) and the FIESP buildings are located. Two bottles with ecoline and diesel fuel represent the museum's red pilasters and two bottles with ecoline and different types of gasoline (one green and one yellow) represent the FIESP (the São Paulo State Federation of Industries) building.

Lava Jato [Car Wash]

Longo Bahia painted images representing the 84 phases of Operation Car Wash preceding the arrest of former President Luiz Inácio Lula da Silva on 98 pages of the pornographic magazine Brazil Pocket Hard.

Depois do fim da arte [After the end of art] _ Cripta [Crypt]

Cripta [Crypt] is an occupation project for Sala Antonio, at Vermelho, presented by the research group Depois do fim da arte [After the end of art], coordinated by Dora Longo Bahia, which investigates the role of the contemporary artist through artistic interventions.

Cripta seeks to create intersections between concepts and forms discussed by the group during the first half of 2019, when the group read Achille Mbembe's Critique of Black Reason and Necropolitics; Giorgio Agamben's The Use of Bodies; and, Susan Buck-Morss’s Hegel, Haiti, and Universal History. The group also watched the films Class Relations, by Straub-Huillet; Sugar Hill, by Paul Maslansky; Hyenas, de Djibril Diop Mambéty; Life of Jesus, by Bruno Dumont; and, Play, by Ruben Östlund. The group presents a work in progress that comprehends the simulacrum, the doubles and the zombies as crucial figures of the current social experience, unveiling the intersections between the films watched and the explored texts, in a plastic response to the theoretical discussions established in the previous semester.

The title refers to the phrase “The Black man [...] is the only human in the modern order whose skin has been transformed into the form and spirit of merchandise - the living crypt of capital” (Mbembe, Critique of Black Reason) and points to the group's interests in discussing the relationship of art with social, economic, historical and political issues.

In Cripta, Depois do fim da arte is formed by Anna Talebi, Ariédhine Carvalho, Bruno Ferreira, Cássia Aranha, Eloísa Almeida, Felipe Salem, Gabriel Ussami, Gabriel Xavier, Igor Vice, Ilê Sartuzi, Karol Pinto, Lahayda, Leandro Muniz, Marina Lima, Murillu, Nina Lins, Rosângela Pestana, Terenah, Thais Suguiyama, Thais Teotonio and Victor Maia.

Posted by Patricia Canetti at 1:48 PM