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julho 21, 2019
Pedro Gandra + Márcio Borsoi na Referência, Brasília
Artistas visuais de Brasília, de diferentes gerações e de linguagens diferentes, apresentam na Referência Galeria de Arte, obras em pintura e fotografia que dialogam com a ficção, a literatura, o cinema e a fantasia
A Referência Galeria de Arte abre no próximo dia 27 de julho, sábado, às 17h, duas mostras de artistas visuais que trabalham com linguagens e suportes diferentes, mas que têm produções atravessadas por questões que giram em torno a um assunto comum aos dois, o mundo onírico. Pedro Gandra apresenta sua nova produção em pintura com a série Caminho para Lua, com curadoria de Marília Panitz, na Sala Principal. Na Sala Acervo, Márcio Borsoi apresenta a série fotográfica Imagens de um rio que não me pertencia, resultado de uma pesquisa visual nas lendas das populações ribeirinhas de Manaus, Amazonas.
As duas mostras que ocupam as salas de exposições em julho fazem parte do projeto da Referência Galeria de Arte de apresentar ao público a produção de artistas jovens e de novos artistas. Apesar das diferenças de trajetórias pessoais e de gerações, Pedro Gandra, pintor, e Márcio Borsoi, fotógrafo, seguem em uma mesma direção ao apoiar suas pesquisas poéticas na literatura ficcional, nas fábulas e nas lendas em busca de saídas para entender o próprio tempo. “A arte é capaz de proporcionar um distanciamento da vida cotidiana para olhar com cuidado e para essa realidade e, assim, imaginar novos arranjos e soluções possíveis”, afirma a galerista Onice Moraes. “É muito importante compartilhar com o público a materialização dessas manifestações, especialmente em tempos de embates”, ressalta a galerista.
Pedro Gandra - Caminho para Lua
Pedro Gandra trabalha com pintura, que segundo ele, é seu interesse como artista explorar suas possibilidades. Na mostra, o artista apresenta um recorte dos trabalhos que produziu entre os anos 2018 e 2019. São pinturas, acrílica sobre tela de diferentes formatos. “Nelas, aparecem interesses temáticos que ele investiga há algum tempo – a paisagem como um cenário invocador de solidões, e a tensão narrativa entre esta paisagem-cenário e os personagens que nela habitam. “Caminho para lua” concentra uma parte significativa do imaginário que venho buscando construir, ou pelo menos, regista um momento desta busca”, informa.
A curadora Marília Panitz, que acompanhou mais de perto o trabalho do artista durante o período em que ele produziu os trabalhos para esta mostra, ressalta as presenças da literatura e do cinema em sua obra. Embora muito jovem, 24 anos, Pedro Gandra tem um considerável percurso como pintor. A curadora ressalta que ele deixa, no entanto, transparecer essa marca da juventude e de seu exercício constante de devorar avidamente livros de ficção, dos clássicos aos contemporâneos.
Guignard, Esopo, La Fontaine, Georges Méliès e H. J. Wells, Win Wenders, Chichico Alkmin, Leonilson, Vania Mignone, Marcelo Solá surgem em um diálogo que aborda todas as linguagens e formas narrativas. “O espaço do artista é aquele que sujeita as representações do humano (quase-fantasma) à sua imensidão. Sempre em descanso da ação que todavia se apresenta como índice, elas se perdem nos campos manchados de cor (raramente suficientemente sólidos e uniformes para dar a elas alguma estabilidade). Há sempre a sensação de uma imagem ainda em formação, mas já habitada”, afirma Marília Panitz.
Márcio Borsoi - Imagens de um rio que não me pertencia
Para produzir a série “Imagens de um rio que não me pertencia”, o fotógrafo Márcio Borsoi se embrenhou no verde da floresta e, se não nadou, se imaginou nadando lado a lado com os botos cor-de-rosa para criar o que ele chama de “uma crônica visual afetiva”. Ele se aventurou em um lugar quase desconhecido, encantado, do qual não tinha vontade de voltar. “Fui encontrar o carinho, o afeto e também me surpreender com aquela paisagem muito diferente do meu costume”, afirma o fotógrafo.
Na Referência Galeria de Arte, Márcio Borsoi apresenta 16 fotografias realizadas em Manaus em 2018, nos períodos de cheia dos rios e outras no período das vazantes. “O verde fechado, a floresta imensa, que as águas invadem, se impõem e são soberanas sempre. Obrigam as casas terem “pernas compridas”. Quando se arrependem se recolhem no ciclo que a vida ribeirinha se acostuma. Tudo flutua”, lembra o fotógrafo. “Vi duas águas que, lado a lado, não se misturam, mas se respeitam. Tive medo da tempestade. Quando as águas do Céu enfurecem as águas da Terra tudo se torna perigoso. É preciso cautela”, sentencia.
Programação
Como parte do projeto formativo de público, a Referência Galeria de Arte realiza dois encontros com o público em formato de conversa e visita comentada às mostras. No dia 22 de agosto, quinta-feira, às 18h, Pedro Gandra e a curadora Marília Panitz participam de uma conversa aberta ao público. E no dia 31 de agosto, sábado, às 11h, é a vez de Márcio Borsoi encontrar-se com o público para um bate-papo. Entre os temas que serão abordados, os processos de produção e de criação. Os encontros têm entrada gratuita e classificação livre para todos os públicos.
Pedro Gandra nasceu no Rio de Janeiro, vive e trabalha em Brasília. Frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Sua investigação se desenvolve a partir de algumas referências, sejam fotografias esquematizadas pelo artista, escritos e anotações acumulados, e a literatura, em especial, a fábula. Em seu trabalho, propõe articular essas referências dentro do campo da pintura. E, a partir disso, estabelecer um imaginário e um vocabulário próprios. Desde 2011, participa de diversas exposições coletivas em galerias e instituições, tais como: O espaço entre, Galeria Largo das Artes/RJ; SEUmuSEU, Museu Nacional de Brasília; Somos todos Clarice, Galeria do Lago, Museu da República/RJ; 44º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, Santo André/SP; Novas referências, Referência Galeria de Arte/BSB; Fronteiras da pintura – Fronteiras da ilusão, Museu Nacional dos Correios/BSB; Invenção da paisagem, Martha Pagy Escritório de Arte/RJ; Dialetos 2, no Centro Cultural São Paulo, que apresentou um recorte da jovem produção do Centro-Oeste; Daqui a Pouco, na Baró Galeria/SP e o Arte Londrina 7. Foi o 3º Premiado no I Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea, em Brasília. Também, foi premiado no Garimpo da Revista Dasartes de 2017. Em 2019, foi indicado ao Prêmio PIPA.
Márcio Borsoi começou na fotografia na década de 1970, ainda como estudante de arquitetura. Após um longo período de abandono e de graduar-se como administrador, retornou em 2009 para a fotografia, principalmente de arquitetura de interiores. Atualmente, dedica-se à fotografia autoral. Urbano e um observador do cotidiano, diz que o banal das cidades o atrai, junto com uma pesquisa em fotografia com elementos naturais e orgânicos. “Fotografar é um ato poético e o minimalismo recorrente, “O menos é mais”, ressalta. Sua formação em fotografia resulta da participação em Workshops e cursos de História da Arte, estudos teóricos e das obras de fotógrafos.
Marília Panitz é mestre em Arte Contemporânea: teoria e história da arte, foi professora na Universidade de Brasília, de 1999 a 2012. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília. De 1994 a 2013, atuou como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições. Atua como crítica de arte e curadora independente, com projetos como: Felizes para Sempre, Coletivo Irmãos Guimaraes BSB, Curitiba e SP, 2000/2001; Gentil Reversão, BSB, RJ 2001/2003; Rumos Visuais Itaú Cultural 2001/03 e 2008/10; Azulejos em Lisboa Azulejos em Brasília: Athos Bulcão e a azulejaria barroca, Lisboa, 2013; Vértice – Coleção Sergio Carvalho, nos Correios em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo 2015| 2016; 100 anos de Athos Bulcão CCBB Brasilia, Belo Horizonte São Paulo e Rio de Janeiro, 2018-9.