|
julho 3, 2019
Diego de Santos na Sem Título Arte, Fortaleza
A primeira exposição individual do artista Diego de Santos na Sem Título Arte - Fato atípico e outros delitos existenciais - reúne trabalhos realizados nos últimos dois anos, ainda inéditos em Fortaleza. Obras em desenho, instalação, objeto e vídeo foram pensadas em um contexto de deslocamento constante entre Caucaia, a cidade onde Diego nasceu, e o Rio de Janeiro. Questões, materialidades e metodologias recorrentes passaram por um processo de expansão durante esse movimento pendular. A noção de morada, muitas vezes pensada em uma dimensão autorreferente, agora se expande para uma abordagem coletiva atenta a fenômenos de ordem social e política.
Parte dos trabalhos faz referência à articulação de possíveis abrigos. O propósito é discutir a relação precária entre compromisso e direito básico na relação estado e sociedade, tão presente nas grandes e desiguais cidades do Brasil.
A série de desenhos põe em evidência o confronto entre a noção de direito básico e a apropriação de recursos como água, energia elétrica, gás, TV a cabo e internet. Não só no Rio de Janeiro, mas em todo o país, essas apropriações se dão clandestinamente, prática conhecida como “gato”. Nos desenhos sobre madeira compensada, caixas d’água com logomarca que sugerem à prática ilegal aparecem integradas a representações de moradias erguidas intuitivamente, utilizando elementos do meio, típicas de pássaros como o João-de-Barro, mas que se aplicam também às práticas arquitetônicas comuns em áreas precárias da cidade. A série suscita um aspecto muito particular da cultura brasileira, o “jeitinho” como estratégia de sobrevivência. Na exposição serão apresentados entre seis e oito desenhos.
As obras em vídeo são realizadas com base no histórico de transformação das paisagens de grandes cidades, em que o artista interfere na velocidade de navegação com o objetivo de travar e distorcer a visualização das imagens através do Street View, no Google Maps. No primeiro, o mapa da região portuária do Rio de Janeiro é explorado, uma região histórica da cidade em constante processo de “revitalização” e especulação. No segundo, Diego escolhe dez dos principais mirantes do Rio de Janeiro, todos na Zona Sul, de onde é possível olhar a cidade de pontos de vistas privilegiados, ignorando os impactos sociais, ambientais e urbanísticos contidos nos projetos de alteração de sua geografia. Diego interfere nas imagens geradas no Google Maps, apresentando uma sucessão de formas que não se encaixa e distorce a paisagem. Vultos das “paisagens fantasmas” submersas pelo crescimento urbano que se dá a partir do litoral desde o Período Colonial. As formas aleatórias que vão se sobrepondo com diferentes cores e texturas remetem a uma atmosfera futurista, como no construtivismo.
Links para visualização:
https://vimeo.com/328871752
https://vimeo.com/328872280
A exposição Fato atípico e outros delitos existenciais foi contemplada no Edital de Incentivo às Artes da Secultfor Ceará.
Sobre Diego de Santos
Formado em Artes Plásticas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE (2010), integrou o programa Imersões Poéticas, da Escola Sem Sítio – Paço Imperial (2017). Entre os principais prêmios e residências estão o Prêmio de Criação em Artes Visuais de Teresina, onde realizou residência artística (2016); Prêmio FUNARTE de Arte Contemporânea (2015); Vencedor da categoria PIPA Online (2014); Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes (2014); Prêmio Salão de Arte de Mato Grosso do Sul (2013) e do SESC Amapá (2010). Entre suas principais exposições individuais estão “Poema 193”, Galeria Fayga Ostrower – Funarte Brasília, Brasília – DF (2017); “Lar é Onde Ele Está”, Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Fortaleza - CE (2014) e “Arranha-Verso”, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza – CE (2009). Participou de várias exposições coletivas no Brasil e exterior.
Sobre Fernanda Lopes
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, Fernanda Lopes atua como curadora assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. É organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite(Tamanduá-Arte, 2016), e autora dos livros Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012) e “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006). Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29a Bienal de São Paulo (2010). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria de exposição Em Polvorosa - Um panorama das coleções MAM-Rio.