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junho 29, 2019
Eduardo Navarro no Pivô, São Paulo
Dando continuidade ao seu programa anual de exposições de 2019, o Pivô apresenta Predição Instantânea do Tempo, primeira exposição individual do artista argentino Eduardo Navarro no Brasil.
O trabalho de Eduardo Navarro investiga possíveis pontos de convergência entre arte e ciência, dedicando especial atenção às possibilidades de diálogo entre forças naturais e espécies. O artista frequentemente trabalha com colaboradores de diversas áreas técnicas que o ajudam a desenvolver dispositivos especiais para investigar os efeitos dos fenômenos naturais na experiência humana, abrindo assim novas possibilidades de contato e interação com o nosso entorno imediato. As performances e instalações de Navarro, muitas vezes dependem de bailarinos e voluntários para acontecer. Suas propostas envolvem desde de coreografias complexas até desenhos comestíveis, em que ele parte de experiências sensoriais para colocar em cheque a distância entre o observador e aquilo que é observado.
Predição Instantânea do Tempo é um projeto comissionado pelo Pivô e realizado em seu espaço expositivo principal. Navarro partiu de seu interesse sobre o movimento dos ventos para conceber uma grande instalação composta por 27 trajes que se assemelham a estações metereológicas e que serão ativados por bailarinos ao longo da exposição. Este projeto segue uma metodologia utilizada em outros trabalhos, como In Collaboration with the Sun (Em Colaboração com o Sol), 2017 e Instructions from the Sky (Instruções para o Céu), 2016 em que Navarro desenvolveu uma indumentária especial para tentar se “sincronizar” com o movimento das nuvens e do Sol. Em Predição Instantânea do Tempo, o artista cria uma espécie de “roupa-biruta” que conecta o corpo com o vento.
Para desenvolver os trajes, Navarro observou atentamente os vetores criados pela representação cartográfica das correntes de ar sobre a Terra e observou o potencial coreográfico da mecânica dos indicadores de vento, mais conhecidos como “birutas”. Tanto o sentido figurado quanto o valor utilitário do objeto interessam ao artista. A biruta se esvazia ou se enche de ar, indicando o deslocamento do vento, e é surpreendente pensar que ainda sejam fundamentais na organização do tráfego aéreo na maior parte do mundo.
As roupas criadas pelo artista com tecido à base de nylon, - comumente usado em paraquedas e guarda-chuvas – performam um “ballet-eólico” em que o vento se torna a força central, de forma que guia os movimentos dos artistas e se torna um coreógrafo invisível. Para criar esta dança, Navarro desenvolveu junto com a bailarina e coreógrafa paulista Zélia Monteiro uma série de movimentos coreográficos em que bailarinos investigam o potencial plástico e a eficiência desses aparatos em resposta, e em relação, às correntes de vento dentro e fora do Pivô. Haverá duas ações programadas no início e no final da exposição, além de programas públicos em que os visitantes são convidados a experimentar os trajes.
Quando não estão em uso, os trajes ocupam o espaço do Pivô como uma espécie de instalação-laboratório, onde são postos à espera de seus usuários-meteorologistas. O artista pediu para que as janelas do espaço permaneçam sempre abertas, provocando a entrada das correntes de ar pelos corredores e fazendo com que as roupas se movimentem de acordo com as variações meteorológicas que ocorrerão durante o período expositivo.
Em Predição Instantânea do Tempo, Navarro desenvolve mais um projeto que aponta para uma forma de tecnologia sensorial que desencadeia conexões entre o corpo, o espaço urbano e a natureza. Ele explora formas de transformação da percepção para propor novas maneiras de relacionamento entre o humano e o seu meio.
A exposição foi viabilizada por meio de uma parceria anual com o Instituto Inclusartiz. A convite do Instituto, Eduardo Navarro viajou ao Rio de Janeiro para realizar uma residência durante a fase de pesquisa do projeto. Lá esboçou os trajes e fez os desenhos utilizados na comunicação visual da exposição no Pivô. Durante o período de exposição, ele voltará ao Rio de Janeiro para conduzir um programa público. Essa é a segunda edição da parceria com o Instituto, sendo que a primeira viabilizou a exposição e residência do artista mexicano Rodrigo Hernández.
Eduardo Navarro, 1979, é um artista de Buenos Aires, Argentina, cujo trabalho tem sido mostrado em diversas exposições coletivas ao redor do mundo, como a Bienal do Mercosul (2009 e 2013); Bienal de São Paulo (2010 e 2016); Surround Audience: The New Museum Triennial, New Museum, Nova York (2015); e Metamorfoses, Castello de Rivoli, Turin, Itália (2018). Entre suas exposições individuais estão Into Ourselves, The Drawing Center, Nova York; US/ DER TANK, Basel, Switzerland (2017/18); OCTOPIA, Museo Rufino Tamayo, Cidade do México, México (2016) e We Who Spin Around You, The High Line Art, Nova York, USA (2016).
Zélia Monteiro, 1960, é bailarina, professora e coreógrafa nascida em São Paulo. Sua pesquisa tem base no pensamento de Klauss Vianna, com quem trabalhou por oito anos, e na escola clássica italiana, onde teve contato com Maria Melô (aluna de Enrico Cecchetti).
Monteiro foi premiada cinco vezes pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (1987, 1992, 1998, 2010 e 2016), e em 2014, ganhou o Prêmio Denilto Gomes, da Cooperativa Paulista de Dança, na categoria de melhor solo de improvisação, além de ter sido uma das cinco finalistas do Prêmio Governador do Estado de São Paulo, na categoria Dança.
Atualmente, dirige o Núcleo de Improvisação, é professora no Curso de Comunicação das Artes do Corpo - PUC/SP e dá aulas regulares de dança clássica na Sala Crisantempo.