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junho 22, 2019
Renata Cruz no Palácio das Artes, Belo Horizonte
O simples ato de observar o cotidiano e transformá-lo em arte norteia o trabalho da paulista Renata Cruz. Em sua mais recente exposição, Para sempre e um dia, a artista vai transformar a Galeria Arlinda Corrêa Lima em uma casa japonesa de papel, recoberta por azulejos portugueses. As imagens são em sua maioria desenhos realizados em residências artísticas no Japão e em Portugal entre 2015 e 2016. Mas há também trabalhos posteriores com elementos do seu ateliê em São Paulo e das viagens à Floresta Amazônica.
Nessa imersão por diferentes culturas, Renata Cruz traz reproduções de uma beleza efêmera, carregada de sentidos e afetos, que, pelos desenhos da artista, permanecem, mesmo que tenham durado pequenos instantes. Fazendo sua estreia em Belo Horizonte, ela propõe um encontro do público com o registro do cotidiano por meio de uma das mais tradicionais técnicas artísticas: a aquarela.
Cerca de 600 desenhos de mesmo tamanho serão afixados nas paredes da galeria, em um site-specific, relacionando a arquitetura do espaço à afetividade proposta por Renata ao mesclar suas experiências tanto no Japão quanto em Portugal. “A aquarela é meu material do cotidiano. Existe para mim uma facilidade nele, que é me permitir trabalhar com desenho e cores em qualquer lugar levando na bolsa apenas um pequeno estojo de aquarela e alguns pincéis”, comenta Renata sobre sua relação com o material da exposição.
A inspiração para um registro catalogado de objetos do cotidiano começou durante a residência que Renata fez no Aomori Contemporary Art Centre, em Aomori em 2016, no Japão. O encontro com a outra cultura resultou em uma série de registros de objetos rotineiros, como vasilhas, copos, jarros, cacos, folhas, flores, frutas, cadernos, cogumelos, canetas, sementes, embalagens e o tradicional artesanato têxtil local, feito principalmente na cor azul. Eles começaram a criar relações com a experiência em Lisboa, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, antiga casa do Marquês de Pombal, onde instalou desenhos em uma sala revestida de azulejos, cujo predomínio da cor azul, foi decisivo para a realização do trabalho. É essa junção de culturas e observações que compõe o trabalho exposto na galeria Arlinda Corrêa Lima.
Ao assinalar e organizar as pequenas coisas que formam a vida e que passam despercebidas na maior parte do tempo, Renata cria uma narrativa contra a finitude e, também, um convite à atenção prolongada. Os textos presentes nos trabalhos, que estão em português, inglês, japonês e castelhano, pertencem a escritores como Virgínia Woolf, Clarice Lispector, Enrique Vila Matas, Osamu Dazai, Borges e outros.
Assim como em outros locais por onde a exposição já passou, como Madrid, na Espanha, e Ribeirão Preto, em São Paulo, haverá a criação de uma aquarela inédita para Belo Horizonte. A obra será produzida ao longo do período de montagem da mostra, enquanto Renata observa a rotina e a dinâmica do Palácio das Artes.
“Espero que o público possa caminhar pela galeria e observar esses detalhes que me inspiram. Não há um roteiro certo para ver a exposição, só mesmo um convite para que o visitante crie a narrativa que melhor fizer sentido para ele. A ideia de imaginar as pessoas andando pela galeria Arlinda Corrêa Lima e conectando imagens já me inspira num desdobramento desse trabalho”.