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junho 21, 2019
Comodato Landmann - Têxteis pré-colombianos no MASP, São Paulo
Mostra expõe, em tecidos, mais de 2.000 anos da América antes de Colombo - Trabalhados por mulheres andinas, têxteis do Comodato MASP Landmann expressam concepções elaboradas sobre o tempo e o espaço, a criação do mundo, o cosmo e a morte
Registros de algumas das complexas culturas que floresceram na América do Sul antes da invasão dos europeus, tecidos do Comodato MASP Landmann ganham exposição de 14 de junho e 28 de julho, no segundo subsolo do museu. Comodato MASP Landmann - Têxteis pré-colombianos, mostra organizada pela arqueóloga e historiadora Marcia Arcuri, curadora-adjunta de arte pré-colombiana do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), reúne mais de uma centena de tecidos produzidos nos atuais Peru e Bolívia entre 800 a.C. e 1.532 d.C. A exposição abre ao público junto com a estreia, na Sala de Vídeo do museu, de La libertad [A liberdade, 29 min.], curta-metragem da franco-colombiana Laura Huertas Millán que focaliza a sobrevivência da milenar tradição andina da tecelagem e suas relações com a liberdade.
Recuperados em sua maioria das elaboradas sepulturas das elites governantes, em sítios arqueológicos das regiões mais áridas da costa pacífica dos Andes, os têxteis da mostra são atribuídos às culturas Chavin, Siguas, Paracas, Nasca, Moche, Huari, Lambayeque, Chimu, Chancay, Inca e Ica. Somados, formam um vasto conjunto de evidências da diversidade conceitual e tecnológica experimentada pelos povos pré-hispânicos.
“Por seu papel central nos Andes pré-colombianos, essa produção constitui uma fonte preciosa para acessar traços dos costumes cotidianos, da cultura e da organização sociopolítica das populações pré-colombianas”, diz a curadora Marcia Arcuri. Entre as temáticas da arte ameríndia, encontram-se sofisticadas concepções sobre o tempo, o espaço, a matemática, a astronomia, o cosmos, as origens da vida, a criação humana e a morte. “São categorias e princípios milenares, que se mantiveram vivos por meio da produção têxtil, cerâmica e metalúrgica. O estudo dessas obras é um caminho importante para conhecermos melhor nossos antepassados ameríndios. ”
O cruzamento de pesquisas científicas com relatos das comunidades indígenas que hoje habitam as serras andinas indica que a tecelagem foi um trabalho realizado sobretudo pelas mulheres. Responsáveis pelo desenvolvimento e pela transmissão de códigos e tradições há quase três mil anos, as tecelãs dos Andes pré-hispânicos alcançavam elevado status social nas hierarquias de poder político e religioso por seus trabalhos de finalidade ritual ou cotidiana. Por isso, segundo Arcuri, os tecidos são hoje os testemunhos ainda vivos de interessante história de gênero -- além de conhecimento e técnica.
“Em um cenário nacional agravado pelo fatídico incêndio que destruiu integralmente a coleção pré-colombiana do Museu Nacional da UFRJ, os tecidos do comodato MASP Landmann vêm a público na esteira das ações de fortalecimento da ciência e da memória, tantas vezes silenciada, dos povos originários da América do Sul”, afirma a curadora. “Difundir o conhecimento materializado nesses objetos é uma forma de apoiar as populações indígenas que seguem lutando pelo direito de manter viva sua maneira de convívio com o ambiente e a sociedade moderna.”
Catálogo
Organizado por Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Marcia Arcuri, curadora da exposição, o catálogo Comodato MASP Landmann: vol. 1 têxteis pré-colombianos é o primeiro volume de publicações dedicadas ao comodato de dez anos entre o museu e a Coleção Landmann. A publicação, de 240 páginas, conta com a reprodução dos 177 têxteis que compõem o comodato e textos inéditos das especialistas Carmen Thays Delgado, Delia Aponte Miranda, Denise Y. Arnold e Arcuri.
O livro já pode ser adquirido no MASP Loja, ponto de vendas do museu com entrada
gratuita, independente das exposições, e em breve estará disponível nas livrarias parceiras. O livro tem preço de capa de R$ 139, mas, na promoção atual do MASP Loja, sai a R$ 109.
Comodato MASP Landmann
Assinado em 2016, o Comodato MASP Landmann deixa aos cuidados do museu, por um período de dez anos, a Coleção Edith e Oscar Landmann, um dos importantes acervos de arte pré-colombiana na América Latina e um dos únicos presentes em um museu brasileiro.
Ao longo de quase 50 anos, Oscar e Edith Landmann reuniram cerca de 900 peças de arte pré-colombiana, entre têxteis, cerâmicas e metais. São obras produzidas por diferentes povos de territórios que hoje constituem a América do Sul, como Peru, Colômbia e Brasil (Marajó, PA), e que cobrem um arco temporal de mais de 2.500 anos – de 1200 a.C. à invasão europeia, no século 16.
Oscar Landmann, empresário que foi cônsul-geral honorário da Colômbia e presidente da Bienal de São Paulo, iniciou a coleção no final da década 1930, nas inúmeras viagens que realizou pela América do Sul. Na época, os chamados “caçadores de tumbas” – huaqueros – saqueavam sítios arqueológicos em busca de ouro e prata, descartando cerâmicas e tecidos, que Landmann passou a adquirir. Entre os anos 1940 e 1960, estendeu sua rede de contatos e ampliou a coleção às centenas de objetos, todos catalogados e arquivados por Edith Landmann, nas residências onde moraram, em São Paulo.
Histórias das mulheres, histórias feministas
Com obras criadas por mulheres, Comodato MASP Landmann - Têxteis pré-colombianos integra um ano de exposições, simpósios, palestras, workshops, filmes e publicações em torno do tema “Histórias das mulheres, histórias feministas”. O ciclo temático de 2019 agrega diversas mostras monográficas, com nomes da arte contemporânea internacional, caso de Gego e Leonor Antunes, ao lado de artistas brasileiras dos séculos 20 e 21, como Lina Bo Bardi, Djanira da Motta e Silva e Anna Bella Geiger, além de duas mostras coletivas, Histórias das mulheres, artistas antes de 1900 e Histórias feministas, artistas depois de 2000.
Comodato MASP Landmann - Têxteis pré-colombianos
De 14 de junho a 28 de julho de 2019
Masp 2º subsolo
Avenida Paulista 1578, São Paulo, SP
11-3149-5959
Quarta a domingo, das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); terça-feira, das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$ 40 (entrada); R$ 20 (meia-entrada)